Tenho de começar esta reflexão pela notória falta de realismo que esta edição do crossover/jogo oficial das Olimpíadas tem. Procurei extensivamente e não vi uma única referência a todos os esquemas de corrupção que assolam a política brasileira e a organização destes Jogos Olímpicos, dos desvios de capitais, ou dos altos níveis de poluição que preenchem alguns dos rios onde serão praticados os desportos aquáticos, e que são verdadeiras provas de endurance a perigos biológicos aos atletas. Nem uma única palavra dirigida ao possível impeachment de Dilma. Zero. Nada. Talvez seja porque o público-alvo é infantil, mas isso não invalida que se fizesse uma espécie de “Corrupção política contada às crianças” ou um “A Anita desvia dinheiro público para uma offshore”. Perdeu-se aqui uma oportunidade pedagógica, mas também não se ganhou um jogo surpreendente.
Neste que é o quinto crossover desportivo entre os dois ex-rivais, Percebe-se que houve pouco esforço para elevar a fasquia. Percebem-se as razões financeiras da parte da Sega e da Nintendo, em que a primeira tendo os direitos sobre a adaptação dos Jogos Olímpicos deseja apenas cumprir o contracto efectuado com o Comité e apresentar um jogo sem grande investimento de produção mas que acabará por vender pela temática desportiva/party game associada a essa grande marca que são os Jogos Olímpicos.
O modo de história coloca o nosso Mii no papel da rapariga com refluxo gástrico do Twilight, em que tem de escolher entre o amor do canalizador de bigode farfalhudo e o ouriço com cianose. Não sendo as melhores opções disponíveis, cabe-nos decidir se vamos representar a Team Mario ou a Team Sonic nos diversos desportos que compõem as Olimpíadas.
Esta componente de RPG leve, em que a preparação do nosso Mii nos conduz a level up e à aquisição de novo equipamento que muda as nossas estatísticas e que nos deixa melhor ou pior preparados para cada um dos 14 desportos disponíveis. E aqui o objectivo é simples: conseguir o máximo número de medalhas nos 7 dias dos Jogos, fazendo de nós e do nosso Mii um super-atleta que consegue competir em todas a frentes.
Há uma grande variedade de desportos disponíveis, e as 14 modalidades presentes são o futebol, o golfe, o voleibol de praia, a equitação, os 100m, os 110m barreiras, o salto em comprimento, dardo, natação, tiro com arco, boxe, ping-pong, BMX e ginástica, cada um com as suas mecânicas próprias e mini-jogos. Mas de longe que o futebol, o golfe e o boxe são as modalidades mais interessantes mecanicamente, porque a Nintendo aplicou o seu know-how em jogos próprios desses géneros.
Com tantos bons lançamentos excelentes a saírem em exclusivo nas consolas da Nintendo, Mario & Sonic at the Rio 2016 Olympic Games é apenas um jogo ameno e mediano que pouco vai trazer de novo ao catálogo do ano. Um jogo de desporto com pouca paixão e que se limita a responder às necessidades contratuais com o Comité. Mas que deixa uma pergunta no ar: para quando um novo Mario Strikers?