Temos falado de dezenas de videojogos japoneses, com estética e abordagens conceptuais que apelam ao mercado nipónico, mas que são igualmente destinadas ao mercado ocidental. Nights of Azure, com toda a sua simplicidade e acção straight-to-the point é um destes casos.
Dessas dezenas de jogos que temos jogado nota-se, infelizmente, os contidos valores de produção associados. Não é, de todo, o caso de Nights of Azure, onde a Koei Tecmo demonstra toda a qualidade visual em todos os personagens e em grande parte dos cenários. O tom é o esperado: uma série de clichés e fan services a apelarem a um nicho de mercado mais próximo da linguagem e estética (e narrativa) dos manga e anime.
O primeiro cliché gira em torno do setting de Nights of Azure. Aqui uma entidade maligna morreu (com o original nome de Ruler of the Night, e apenas porque The Big Bad Evil Guy estava ocupado) e o seu corpo (e dos seus servos) libertou um sangue azul que acabou por poluir e transformar em demónio todos os que lhe tocaram. E é por estas e por outras que eu sou republicano.
Como seria de esperar a protagonista não sofre de amnésia (surpresa das surpresas) mas é imune ao sangue do Ruler of the Night, e já que esta sua imunidade impediu a transformação total, Arnice deambula pelo mundo como uma meia-demónia.
Nights of Azure é bem mais divertido do que eu próprio esperava. Quando peguei no jogo, e depois de desbravar arbustos de clichés qual David Attenborough dos jogos japoneses, consegui perceber que há aqui muita diversão, pura e simples, num hack n’slashing mais do que competente. Peca, porém, pela sua extrema facilidade, e rapidamente percebemos que até o mínimo grind é desnecessário perante o pouco desafio que os muitos inimigos e gigantescos bosses representam.
A simplicidade e o prazer quase-imediato do hack ‘n slashing acabam por ser complexificados com um peculiar sistema de party, em que podemos escolher até quatro demónios menores, os Servans, para nos acompanharem em combate. Estas criaturas têm acções autónomas e não nos é possível fazer micro-gestão, mas é-nos permitido dar ordens colectivas para que se comportem da forma que queremos. Entre Servans ofensivos, defensivos de forma passiva ou através da cura, quando estabelecemos a party perfeita dificilmente mudamos de ideias.
O sistema de leveling up é bifurcado por “moedas” de troca. Se por um lado os Servans evoluem através do XP ganho em combate, Arnice por sua vez tem de gastar pontos de sangue (colectados em combate e através de quests) como forma de evoluir as suas estatísticas e o seu equipamento, e é aliás através destes pontos que desbloqueamos novas armas para a protagonista.
Nights of Azure é um jogo bastante interessante, e simplesmente divertido depois de ultrapassados os lugares comuns do género e do público-alvo. A definição artística e musical de todo o jogo demonstra bem a expertise do estúdio Gust e das possibilidades que a Koei Tecmo lhes permitiu. E é bom ser surpreendido para além dos nossos próprios quase-preconceitos.