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Yo-Kai Watch  desenvolvido pela Level 5, publicado pela Nintendo.
Aprox. 3,16 minutos de leitura (250 wpm c/taxa de compreensão de 60%). Tempo recomendado a despender: 5 minutos (tempo do autor durante a revisão).

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Yo-Kai Watch conta a história de um rapaz/rapariga que começa a ver fantasmas e torna-se autista. Mas depois de algumas horas com este jogo reside uma pergunta: é claro qual o target de Yo-Kai Watch no Japão, mas de que forma se traduz os assuntos abordados na história e o overall feel do jogo para o resto do mundo?

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Como sabia que não ia decorar o nome do moço laranja, chamei-lhe Pikachu. O gato da direita é o Koromaru e o fantasma acima poderia ser voice acted pelo Eddie Murphy.

Começo então pelo aspecto mais fraco de Yo-Kai Watch: a banda sonora, apesar de perfeitamente adequada à jogabilidade nos diversos cenários e situações, apenas arranha a classificação de memorável. O aspecto do jogo, mais uma vez, apesar de adequado para 90% do jogo, perde um pouco do charme quando planos mais radicais mostram as imperfeições dos modelos e texturas, porém, nada de muito grave.

O gameplay é, porém, uma grande ode a Final Fantasy XIIIA falta de agência, motivo de grande desilusão pelos fãs da série, é aquilo que torna o combate de Yo-kai Watch diferente e inovador por estar bastante polido. No entanto o que torna o combate difícil não é a disposição e escolha dos monstros que colocamos a batalhar mas o quão atentos estamos ao ambiente onde as batalhas estão integradas. É uma pena que apesar de haver profundidade nos ‘tipos’ e classes dos Yo-Kai depois, no momento da batalha, se mostrar praticamente irrelevante. Ao contrário de Pokémon, nunca senti que o ‘tipo’ tomasse uma presença tão vincada ao ponto de condicionar a minha escolha de Yo-kai.

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O hemisfério norte da roda do touch screen contém os Yo-Kai em batalha. Esta roda pode ser rodada a qualquer momento durante a batalha. O Soultimate funciona como um Limit Break, Target define o alvo da equipa, Purify é um healer para a única status condition do jogo e Item é self-explainatory.

Gostaria, depois de ter falado nisto, relembrar a importância do público alvo nesta escolha de design e talvez tentar justificá-la. Enquanto em meados dos anos 2000, falava com os meus colegas no recreio sobre como passar o Pokémon Azul (também descrita neste meu artigo), os miúdos de hoje em dia, inundados de informação e tecnologia, não terão o menor problema em passar Yo-Kai Watch e isso poderá traduzir-se como uma maior afiliação à série. Mas posso garantir que, também por esse motivo, essa ligação nunca será tão forte do que aquela estabelecida por Pokémon. Enquanto as batalhas mais difíceis Yo-Kai Watch me faziam adormecer de aborrecimento (quando as estava a conseguir passar e não estava encravado por não estar com atenção ao pequeno detalhe no cenário que tornava a batalha muito mais fácil), as batalhas contra os líderes de ginásio de Pokémon faziam-me ficar a jogar até tarde com a lupa com luz que tinha no meu GameBoy Color. Pelo menos, até aos meus pais entrarem no meu quarto para me mandarem dormir.

Mas mais um aspecto que faz Yo-Kai Watch diferenciar-se de Pokémon é a história. Enquanto em Pokémon aspiramos ser campeões de uma região enquanto escolhemos a nossa mega equipa de seis Pokémon (que tem de ser a melhor de sempre) em Yo-Kai Watch há uma história estabelecida que nos faz sentir sobre carris. Além de não haver qualquer incentivo em nos tornar-mos os melhores (e isso traduzir-se como uma despreocupação com a nossa equipa), os nossos objectivos estão estabelecidos e são as personagens que nos têm de explicar porque é que nós os queremos alcançar.

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A rejogabilidade é questionável. Se me perguntarem se depois de acabar a história fiquei com vontade de coleccionar todos os Yo-Kai, sim, fiquei. E existem inúmeras side-quests para completar! Mas se me perguntarem se nos próximos 10 anos vou estar a re-jogar Yo-Kai Watch compulsivamente… Não vou. Em Pokémon nós escolhemos o inicial, nós escolhemos quem integra a nossa equipa, nós escolhemos os ataques e as estratégias a abordar. Em Yo-Kai Watch nós podemos escolher quem integra a nossa equipa (apesar de haver incentivo nulo), mas relativamente às estratégias, meh… É bastante straight-forward.

Mas Yo-Kai Watch é um jogo agradável e divertido. O tom é acriançado mas abordado de forma adulta, tocando até em aspectos sensíveis como divórcio de pais, muito à imagem do que é expectável de terras nipónicas. Neste sentido, Pokémon é um título muito mais internacional (até na direcção artística), mas depois de jogar este primeiro título da série, questiono seriamente se a popularização da série no Japão terá sido justificada pelo Transmedia World cuidadosamente desenhado para aquelas terras. Cá, os objectivos de ser o melhor (como nunca ninguém foi) continuam a fazer mais sentido do que estabelecer a calma e epicurismo de uma vila arbitrária de um mundo que poderia ser o nosso.

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Oppa gangnam style!