Antes que perguntem: não – ainda não acabei Dark Souls 3, por isso o que vou escrever a seguir não é uma análise. É mais uma coisa parecida com: “Primeiras Impressões”! Ou simplesmente um desabafo. Ou… qualquer coisa que sirva de desculpa para falar de Dark Souls 3. Tenho necessidade de falar de Dark Souls 3, por isso vou falar. Só um aviso: se estão à espera de uma análise que fale da mecânica, e frames per second, qualidade gráfica, grau de dificuldade, e todas as outras merdas que toda a gente se preocupa mas para as quais me estou absolutamente a c**** – procurem um outro site ou um outro artigo. Não estou aqui para falar do jogo como “profissional”. Estou aqui para falar do jogo como jogadora.
Um pouco de contexto: o meu verdadeiro primeiro contacto com tudo o que a FromSoftware produz foi com Bloodborne. Há uns anos tinha experimentado Dark Souls 2 porque um amigo me emprestou, mas como o empréstimo durou apenas um fim-de-semana (era um amigo muito instável), nunca consegui entrar na saga Demon/Darks Souls como gostaria. Assim, conheci a famosa FromSoftware com aquele que já é um dos melhores jogos desta nova geração: Bloodborne (que para mim foi o jogo do Ano de 2015). E fiquei apaixonada pela FromSoftware. Ao mesmo tempo que a odiei profundamente. Foi uma paixão não correspondida – sinto que a FromSoftware não me ama da mesma forma, mas eu continuei apaixonada até hoje.
Dark Souls 3 estava na minha lista de Passagem de Ano de: “coisas que mais desejas em 2016”. E, uma semana antes de sair no mercado, ali estava eu com o jogo instalado na minha consola. Pronta para criar a minha personagem. Pronta para sofrer. Pronta para a frustração. Pronta para Amar o jogo quanto ele me Odeia.
Como alguém que prevê o seu futuro, assim aconteceu. Dark Souls 3 apaixona-me tanto quanto me faz sofrer. Como um Amor masoquista que não conseguimos eliminar da nossa vida.
Arrisco-me a dizer que a FromSoftware poderá ser a produtora mais maquiavélica e genial existente nos dias de hoje. Cria um jogo com uma história quase impossível de entender ao jogar. Temos sempre que investigar na internet todo o Lore para entender plenamente o que está a acontecer e mesmo assim… nunca é muito claro. Deixa-nos criar uma personagem que se ajusta perfeitamente ao nosso tipo de jogo (mais agressivo, mais defensivo, uma mistura de ambos, mais “stealth”, de combate corpo a corpo, usando magia… e por aí fora), mas não nos explica como poderemos ser verdadeiramente Bons com aquela personagem. No início de cada jogo, temos sempre as mensagens de tutorial que nos ensinam os movimentos básicos de combate e defesa e, aparte disso… simplesmente mais nada… deixa-nos ir ao nosso caminho. A aprender sozinhos. Como aqueles pais “à antiga” que nos ensinavam a nadar atirando-nos para o mar alto. Na internet adora-se dizer que a FromSoftware respeita o jogador e espera que ele tenha inteligência para superar as dificuldades. Hum… pode ser… eu digo: a FromSoftware é uma casa de Génios Sádicos que adoram o sofrimento do jogador. E como nós, os jogadores, amamos sofrer nos mundos que esta fantástica produtora cria.
Dark Souls 3 é tudo aquilo que se poderia esperar de um jogo desta produtora – genial, soberbamente bem desenhado, com uma arquitectura única de níveis que nos faz memorizar todos os seus labirintos de forma a podermos saber o que nos espera em cada esquina.
Os cenários são de uma grandeza e beleza avassaladoras. Quem não ficou, no início da nossa aventura, no topo do castelo de Lothric a admirar a paisagem? A história… uma miríade complexa de personagens que fingimos dominar e entender – mas que ainda assim nos fascina e prende. O Clássico respawn dos inimigos que tanto nos custou a vencer para chegarmos à próxima fogueira… OK – aqui vou ter que fazer um grande parêntesis. Esta é uma mecânica ultrapassada e que a FromSoftware deveria actualizar. É desnecessária e repetitiva. Poderiam por Dungeons, milhões de side quests, lutas com mini-boss… seja o que for que nos levasse a nivelar… mas o chamado grinding – Não! A mim não me convence. Entendo que seja mais fácil, tecnicamente falando, para um jogo multiplayer simplesmente reprogramar o cenário para que seja sempre igual a cada reset que se faz, mas caso assim seja, façam o multiplayer opcional ou… recompensem o jogador por não morrer. Imaginem – se o jogador conseguisse chegar da fogueira 1 à fogueira 2, (sem fazer speed run), matando todos os inimigos sem morrer uma única vez, seria recompensado com extra souls e o fim do respawn para toda a área que acabou de ultrapassar. Para isso, teria que ter explorado toda a área de uma fogueira à outra sem morrer. Não era bom? Sermos recompensados por sermos Bons a jogar? Ok… era bem mais difícil programar tal coisa a um nível técnico… mas posso sonhar, certo?
Pronto – já falei do grande defeito que encontro em todos os jogos desta produtora. Voltemos ao Bom.
O que vou dizer é uma afirmação muito forte – mas é o que sinto. Para mim, não existem Bosses mais fascinantes, bem desenhados, complexos e hipnotizantes que aqueles que a FromSoftware cria. Nem personagens tão aleatoriamente arrepiantes que aquelas que encontramos na nossa jornada (como as feiticeiras gordas que nos perseguem enquanto murmuram… ou os monstros que carregam uma cruz às costas enquanto gritam). Todas as personagens que temos que derrotar trazem algo dos nossos pesadelos. Trazem algo de sagrado e profano. Trazem algo que tememos no nosso mais profundo inconsciente. E por isso, tornam cada batalha um misto de horror e êxtase que não sabemos explicar.
E quando derrotamos um Boss… existe alguma sensação em videojogos que se compare à total sensação de invencibilidade que sentimos? Que eu me lembre… Não.
Sempre privilegiei uma boa história acima de qualquer coisa em videojogos. Uma personagem que me faça sentir que pertenço a determinado Mundo ou a determinada realidade. Como The Last of Us ou God of War. Sempre detestei o modo Multiplayer em todos os jogos porque para mim, a minha experiência num jogo é só minha.
E Dark Souls viola todas estas regras que sempre senti como fixas – e faz-me amar o jogo ainda assim. A sensação de deixar a minha marca para ser evocada para um mundo onde posso ajudar alguém, ou chamar alguém para me ajudar – é Perfeito.
Como posso Amar tanto um jogo que em Teoria nada tem a ver comigo? A resposta é simples: porque esta é a Verdadeira Magia dos Videojogos. Não existem regras pré-definidas. Não existem leis absolutas. Existe… a Experiência. As horas que nos fazem sentir ser transportados para outro Mundo onde todos os nossos próprios estereótipos são ultrapassados.
Nesse Mundo, neste de Dark Souls – estamos Nós. A História. A Banda Sonora. O Cenário. A dor dilacerante da derrota que a FromSoftware tão bem inflige. O prazer incomparável da Vítória que só esta produtora sabe criar. E aqui… Nada mais Importa!
Nota: para uma review… ver este link (estes gajos são geniais):