Se os leitores habituais do Rubber Chicken pertencem à faixa etária que eu julgo, enviaram e/ou receberam cartas na escola com pedidos de namoro no qual existiam três opções às perguntas “Gostas de mim” ou “Queres namorar comigo” com umas caixinhas para colocar uma cruz na frente do “Sim”, “Não” e “Talvez”? O facto de se meter uma opção para “Talvez” ainda hoje me faz confusão, seria porque já naquela tenra idade já gostávamos do “Fazer difícil” ou simplesmente éramos parvos? Não sei, mas hoje, enquanto escrevo esta peça, o “Sim, Não, Talvez” faz todo o sentido, porque eu tenho estado a testar uns jogos que me colocaram uma pergunta muito simples. Será possível gostar de um jogo VR sem a componente VR? Uma resposta mais rápida e infundada pegaria no exemplo que os jogos VR não são mais que uma evolução de jogos em First Person View portanto, sim, é possível. Mas infelizmente não é assim, a resposta verdadeira é mesmo: Sim, Não, Talvez.
Saindo dessa altura e andando uns anos para a frente no tempo, até meados dos anos 90, a realidade virtual estava muito na moda, foi quando começou a dar os primeiros passos, e aparecia em vários campos, do cinema à literatura e até na TV de onde tenho uma viva recordação de uma série irmã dos Power Rangers, chamada VR Troopers.
Os anos foram passando e a realidade virtual foi deixada de lado durante até que agora em 2016 começa a ser alcançável aos menos comuns mortais devido ao seu custo, mas daqui a uns dois a três anos acredito estarem a preços muito mais acessíveis à maior parte de nós, especialmente quando mais marcas lançarem os seus produtos. Como eu não tenho um aparelho de VR ainda, mas tive acesso a alguns jogos reparei que na descrição todos diziam que eram feitos para VR mas não era obrigatório, então decidi testar três deles, e a reacção foi diferente para cada um.
The Collider 2 é aquele caso em que sim, podemos perfeitamente jogar sem VR porque é um jogo simplesmente fantástico para aquilo que se propõe. Que não é muito. Não esperem que The Collider 2 seja uma obra-prima dos videojogos, é quase um endless runner no estilo daqueles de telemóvel, com a diferença de ter fim. Controlamos uma de seis naves espaciais em pequenas missões com o intuito de destruir a nave-mãe. Para isso temos que navegar os nossos pequenos caças por túneis enquanto nos desviamos de obstáculos, recolhemos informação e destruímos inimigos. Devido à velocidade imensa, toda a nossa acção é focada nos movimentos, nem sequer temos que disparar basta apontar para o inimigo e o jogo faz o resto, o objectivo aqui é mesmo a condução.
Se não tivesse o tag para VR eu não ligava nada, acredito que parte de funcionar tão bem num monitor normal seja porque a perspectiva é em terceira pessoa, observamos a nave ligeiramente atrás dela e não dentro do cockpit. Quer para VR ou não, é um jogo casual que leva selo de qualidade.
Crystal Rift por outro lado já é aquele jogo em que a resposta seria um rotundo e firme não! É complicado jogar sem VR, e atrevo-me até a dizer como jogador que não deve ser agradável em VR. Se já jogaram os brilhantes Legend of Grimrock ou Eye of the Beholder sabem onde Crystal Rift quer chegar, mas não está nem perto. O que testei de Crystal Rift em acção, movimentos e puzzles deixa-o tão longe dos LoG e EotB como tentar ir de Lisboa para Faro e acabar em Idanha-a-Nova. Basicamente são os dois em Portugal e andamos numas estradas para lá chegar. É básico em todos os aspectos. Os puzzles dificilmente se podem chamar isso, o combate é parvo em que nem sequer existe uma opção de bloquear ataques. A única hipótese de defesa é um passo atrás porque muitas vezes o strafe não é eficaz. E os movimentos são irritantemente básicos.
A tecnologia de programação permitiu-nos fazer um movimento fluido da imagem nos jogos, especialmente nos First Person View. Portanto porquê ir para um estilo clássico RPG e movimento em blocos? Não funciona bem fora de VR porque fico constantemente com aquela sensação de não ser carne nem peixe, de “isto aqui não funciona porque não foi feito para aqui” mas também “acho que se fosse jogar isto em VR ia fica com dores de cabeça e náuseas no mínimo”. Eu ainda quero dar mais umas hipóteses a Crystal Rift, tentar com outros comandos e um dia em VR, mas para já não estou nada convencido.
Windlands é aquele jogo do talvez. Mas um talvez muito positivo. Windlands não é um jogo propriamente dito, é mais uma experiência. Já tive algo parecido em VR na Gamescom 2015 onde “voei” pelos céus de Paris, e este “jogo” deu-me a ideia de ser algo muito idêntico.
Em Windlands o objectivo é explorar o território planando de plataforma em plataforma, usando um gancho tipo Batman para chegar a pontos mais altos e/ou longínquos, e simplesmente apreciar a vista. Não há muito para dizer sobre Windlands excepto que é visualmente fantástico e funciona muito bem num monitor normal. A razão de eu achar que “talvez” funcione bem fora de VR é só e simplesmente porque acredito que funcione exponencialmente melhor em VR. É como ver fotos da Fontana de Trevi, é uma bela obra de arte mas só quando lá chegamos e vemos a sua imponência majestosa ao vivo é que entendemos a magia daquele local, representada na sua melhor forma pela lente de Marcello Mastroianni com aquela senhora cujo busto desafiava a lei da gravidade.
https://www.youtube.com/watch?v=TPz0EoRA0Vw
Windlands é aquela moça(o) que regularmente vemos no café ou no metro ou num local habitual e a maior parte das pessoas até acha engraçada(o) mas não olham duas vezes para ela(e). Mas nós sabemos que tendo a oportunidade de estar com ela(e) numa situação mais intima seria como andar de montanha russa durante um terramoto 9.2 na escala Richter. Mas em bom.
E é assim… nas últimas semanas jogos VR invadiram o Steam e em breve irão fazer o mesmo com consolas. Se é o futuro dos jogos não tenho a certeza. Se calhar é, da mesma maneira que os ebooks foram o futuro da literatura, smartphones da comunicação e Netflix ou outros serviços de streaming da TV, há espaço e nichos para todos. A questão principal é que se virem um jogo VR que vos interessa e não possuem um aparelho compatível seja porque razão for, não se impeçam de o comprar, podem ficar alegremente surpreendidos.