Perdidos e Machados #12
Olá meninos e meninas, bem vindos ao segundo semestre da cadeira Perdidos e Machados, curso de arqueólogia de jogos.
Vamos lá fazer pouco barulho, eu sei que estão excitados por causa das novas aulas mas eu estive em campo a fazer investigação e dói-me a cabeça devido a doses copiosas de álcool. Quando andamos nesta vida da procura da verdade e da história, há sempre algumas trocas de palavras, e eventualmente somos obrigados e ensinar algumas coisas a pessoas com menos cultura de uma maneira mais brusca.
A aula de hoje, por coincidência vai tratar exactamente desses dois temas, álcool e lutas:
Olá Perdidos e Machados,
Quando vou para o trabalho, coisa que nem sempre gosto muito, costumo passar pelo café Trópico para tomar uma bica. É um lugar calmo onde toda a gente me diz bom dia, mas de manhã bem cedo estava um senhor bêbedo que começou a meter-se com o Fernando. O Fernando é o dono. Por momentos parecia o Fight Club porque o bêbedo é daqueles que vai pela rua a falar sozinho ou segura-se no poste do stop a cantar todo desafinado uma canção de amor. Perdeu a casa com toda a mobília Ikea e a mulher deixou-o contou-me depois o Amâncio. É triste.
Ora, quando estavam pegados lembrei-me dum jogo que parecia o street fighter e um dos lutadores era um gajo do basquetebol com calções às riscas e era muito alto tal como o Fernando. Só mesmo estando podre de bêbedo para alguém se meter com ele. No jogo também havia uma ilha e não me lembro de mais nada. Gostava de saber qual é o jogo para ir ao youtube e mostrar ao Fernando para ele se rir um bocado. Se Deus quiser pode ser que depois me ofereça uma daqueles perninhas de galinha que eu gosto muito.
Atentamente,
Jorge.
Olhando bem para o pedido é mesmo só lutas, o álcool é um extra. Mais um pedido do Jorge, que possivelmente vai ser o último que respondo durante os tempos. Apesar de desafiantes os outros leitores também têm direito a ver as suas dúvidas respondidas.
Antes de mais nada, vamos ver as bases dos jogos de luta. Nós, o ser humano, até nos videojogos somos um ser conflituoso, e assim que tivemos oportunidade para tal, decidimos que os campos virtuais eram uma superfície tão válida como outra para espetar umas talochas nas fuças uns dos outros. É a nossa natureza, não a podemos negar.
Das primeiras grandes oportunidades de lutar virtualmente foi no The Way of the Exploding Fist, que combatia com o International Karate (World Karate Championship nos E.U.A.)
The Way of the Exploding Fist, foi lançado em Junho de 1985 para Accorn Electron, Amstrad CPC, BBC Micro, Commodore 16, Commodore 64 e ZX Spectrum, pelas mãos de Gregg Barnett e a Beam Software que anos mais tarde nos dariam Shadowrun para a SNES e The Lost Vikings 2 (versões Saturn, PS1, PC).
O jogo consistia num Kumite, dois lutadores enfrentavam-se numa arena, ao som de Paul Hertzog e… esperem, estou no kumite errado. Os jogadores lutavam um contra o outro (ou a A.I.) Podiam ser dados golpes não decisivos ou decisivos. Isto é para história de artes marciais mas de videojogos, se querem saber como funcionam investiguem.
Por sua vez, a System 3 lançou em novembro de 1985 para Amstrad CPC, Apple II, Atari 8-bit, Atari ST, Commodore 16, Commodore 64, e outros o International Karate.
Que era exactamente igual. Mas com cenários ligeiramente diferentes.
Já em 30 de agosto de 1987, a Capcom, lançou Street Fighter, que continua ainda hoje e de onde todos os jogos de luta a 2D vieram beber inspiração, ou simplesmente copiar. Eu até podia estar aqui horas a escrever sobre os Street Fighters todos, os numerados, os alphas, os crossovers com super-heróis, os péssimos filmes. Mas vou só mencionar o primeiro que é o que o Jorge menciona.
Ao contrário de International Karate ou Way of the Exploding Fist, Street Figher utilizava um sistema de barra de energia que ainda hoje é o mais comum nos videojogos. O jogador apenas podia controlar Ryu no torneio internacional de artes marciais, até ao final (um segundo jogador podia utilizar o seu rival americano, Ken).
Street Fighter ainda é um ícone dos jogos de luta 2D, aquele que marca o passo em toda a industria, já nos 3D, a conversa é outra, mas não me perguntaram nada sobre isso, portanto…
De todos os jogos de luta que procurei, e acreditem que há bastantes, encontrei dois, com lutadores que são jogadores de basquetebol e vestem riscas.
O primeiro é Shaq Fu.
Lançado entre 1994 e 1995 para Mega Drive, SNES, Game Boy/Gear e Amiga, saído da Delphine Software International e distribuído pela EA, Shaq Fu, é um jogo de luta, protagonizado pelo grande Shaquille O’neill, nesses anos, das maiores estrelas da NBA, hoje comentador. O jogo é ainda hoje considerado dos piores de todos os tempos.
É um jogo de luta, no qual Shaq, está no japão a jogar para caridade, entra num dojo e depois de falar com um mestre de artes marciais entra numa dimensão alternativa para salvar um jovem chamado Nezu de uma múmia chamada Sett Ra.
Aparentemente estão a fazer uma sequela, mas não sei porquê. E há um album de música chamado Shaq Fu: Da Return!
O segundo e último de hoje, é Fight Fever, um escandaloso clone de Street Fighter II, lançado para arcadas pela Viccom e SNK em 1994, modelado nos Fatal Fury 2 e Art of Fighting da SNK.
Não há muito a dizer sobre este que já não tenha dito sobre os outros a não ser que um dos oito lutadores deste jogo, é Magic Dunker, jogadore de basquetebol que também usa calções às riscas.
Se este é o jogo que Jorge procura não sei, pode haver mais, quem quiser que dê sugestões.
https://www.youtube.com/watch?v=y15E9Cmc2ao
Por hoje, acabou a aula, e até para a semana.
Para pedidos enviem um email para joao@rubberchickengames.com com o assunto “Perdidos e Machados” e o máximo de informação que consigam sobre o jogo em questão.
Nem todos os pedidos serão respondidos, mas o Perdidos e Machados tem intenção de ser um espaço aberto aos exploradores e conhecedores de videojogos, portanto os leitores podem acrescentar hipoteses nos comentários.