Quando temos cerca de 30 anos de videojogos nas costas, ganhamos algumas especialidades, é como tudo… até posso saber algumas coisas sobre cerveja porque já bebi muitas mas a minha cena é mesmo vinhos. Nos jogos é igual. Posso não ser fã ou tão bom em racers ou beat’em ups, mas sei o mínimo para jogar. Meti muita moeda de 25 e 50 escudos em máquinas de Streets of Rage, Final Fight ou até aquele multiplayer fantástico dos X-Men nos anos 90. E mesmo assim este foi possivelmente o jogo mais difícil que joguei este ano. Não fazem ideia do que é preciso para derrotar o primeiro Boss, no tutorial… Não é porque está mal desenhado ou programado, mas porque é mesmo complexo e difícil. E isso é óptimo.
Aurion: Legacy of Kori-Odan (Aurion) vai buscar muito a esses jogos, e também é muito diferente porque é mais complexo. E em muitas coisas completamente original. Mas se calhar é melhor contar a história do início para entenderem melhor.
Aurion é uma criação da Kiro’o Studios. O primeiro estúdio de videojogos nos Camarões. Contou com apoios do público para a sua produção desde Steam Greenlight ao Indiegogo e Kickstarter onde conseguiu os fundos necessários em cerca de um mês e foi lançado em em Abril de 2016. E podíamos pensar que um primeiro jogo de um estúdio já não é um feito pequeno quando há alguma indústria semelhante onde se pode ir buscar apoio e ideias, mas a Kiro’o é pioneira no seu país, e só aí já se deve dar muito valor. Valor que é ainda maior quando se vê a qualidade e o trabalho deste Aurion. Não é uma produção pequena. Numa questão de escala era semelhante a sair um filme ao nível do primeiro Iron Man feito em Portugal por um estúdio Português.
A comparação com Iron Man não é feita por acaso, não só é uma produção enorme por si só mas Aurion tem a capacidade de abrir um universo gigantesco para mais jogos tanto da Kiro’o como de outros estúdios camaroneses e de outros países africanos, nem que seja só para desenjoar das visões europeia/americana/japonesa. Dar um pouco de variedade à indústria.
A primeira coisa que me chamou à atenção em Aurion foi o visual, num estilo de desenho que me lembra muito o brilhante Legend of Kora, adapta-se ao jogo como um leão na savana. As cores vivas, os cenários ricos em iconografia e movimento, tudo salta à vista, e ao mesmo tempo é harmonioso. Numa mistura de beat’em up com um toque de RPG de acção, Aurion conta a história de Enzo Kori-Odan, um príncipe cujo trono é usurpado, e a sua busca por todos os Aurionics que como ele que conseguem controlar uma energia elemental para aumentar as suas capacidades de batalha.
É nesta parte que Aurion se torna superior à maior parte dos seus concorrentes. Não só cria uma história num ambiente fora de normal que é o Europeu/Oriental dos videojogos, como também um estilo de combate original. Os movimentos são rápidos e brutais especialmente quando são misturados com os ataques aurionicos que o jogador pode criar a seu bel-prazer fundindo técnicas aprendidas com vários mestres e especializando-se no que melhor se adapta a si.
A maior crítica que podia fazer ao jogo não é uma crítica é mais uma chamada de atenção a quem vai comprar, é mais que logico que tem falhas e bugs, mas é o primeiro jogo de um estúdio, não é uma produção AAA. Tomara muitos estúdios AAA lançar algo com esta qualidade inicial. A questão é que os Camarões são um país francófono, e a localização para inglês não é das melhores, para quem percebe francês, aconselho o jogo nessa língua, em inglês percebe-se mas tem falhas. Há um patch recente mas ainda não testei depois da actualização
O ponto principal é: Vale a pena comprar Aurion: Legacy of Kori-Odan por €19.99?
Tendo em conta que pelo que já joguei ainda devo ter pelo menos 20 horas de lutas e histórias pela frente até acabar, é original, interessante, uma lufada de ar fresco no panorama actual. Sim, sem dúvida. Mas lembrem-se que vão suar como debaixo de um dia de sol no meio de um deserto para derrotar aquele primeiro Boss.