A Realidade Virtual (a sério) dá agora os seus passos de bebé no mercado dos videojogos. Acredito piamente que toda esta moda terá sucesso e que criará um segmento paralelo de fãs, e uma comunidade forte de jogadores e developers que manterão a experiência virtual activa pela maior longevidade possível.
Mas não acredito de forma alguma que a VR virá mudar o mercado, ou que ajudará a criar novas formas, e inesperadas de jogarmos. Ainda que muitas das possibilidades assentem sobre conceitos próximos da Realidade Aumentada e de motion controls (tais como os que a Wii introduziu no mercado), mas por questões técnicas e conceptuais há apenas um pequeno espectro por onde a VR poderá mover-se. Muitos géneros pouco ou nenhum sentido fazem, e vamos percebendo-o com algumas experiências que têm surgido nestes primeiros meses de democratização dos dispositivos de VR domésticos.
O mais óbvio caminho, e aquele que já tinha algumas experiências em desenvolvimento desde os últimos 2 anos é utilizar a VR para contar/jogar jogos narrativos, em que a interactividade é o ponto alto.
Já tínhamos jogado POLLEN na Gamescom, que foi aliás um dos primeiros contactos que tanto eu como o Isaque tivemos com um dispositivo Oculus Rift. Sabíamos à partida que a imersão a que estes dispositivos obrigam são o ambiente indicado para jogos narrativos, em que temos de viver o enredo de alguém e ver o mundo literalmente pelos seus olhos.
Este jogo de história interactiva é também de história alternativa. Nesta versão do nosso mundo o JFK nunca chegou a ser assassinado, e a corrida ao espaço continuou na mesma velocidade que durante a Guerra Fria, levando eventualmente à união dos programas espaciais norte-americanos e soviéticos na procura de um mineral rico extraterrestre. Diversas estações espaciais são então criados pela galáxia, e é para uma delas que somos destacados, enquanto pesquisamos o paradeiro de um colega perdido.
Ao contrário do que falava hoje sobre FATED, os nórdicos da Mindfield Games tiveram a inteligência de aumentar o público-alvo do seu jogo para além dos jogadores que possuem dispositivos VR. Curiosamente, e como nos foi dito na primeira pessoa, a versão jogada com óculos de VR e a versão jogada no monitor têm apenas algumas pequenas diferenças, e uma delas é a velocidade de movimentação em que todo o jogo se desenrola. Pudera, não fosse essa ligeira alteração e muitos jogadores sentir-se-iam nauseados pela velocidade padrão dos FPS actuais, e percorrer a passo um pequeno corredor era o equivalente a ser puxado numa montanha-russa. Na altura pudemos comprovar o quão mais compassado o jogo no dispositivo VR era, o que sendo um jogo de exploração narrativa não criou qualquer impacto de negativo entre as duas versões.
Há uma imensa margem de imersão que a VR traz aos muitos jogos desenvolvidos sob a égide dos jogos narrativos. A VR leva-nos directamente para dentro do jogo, e mergulha-nos ainda mais como parte do enredo, e se este tiver qualidade podemos ter aqui uma das melhores formas de contar histórias. E aquela que mais vai ser utilizada nos próximos tempos.