E um pássaro que tem a voz de Tom Baker
Nelly Cootalot é ainda uma jovem pirata, tendo emergido para este mundo com fraldas a cheirar a rum há cerca de nove anos, numa aventura-gráfica gratuita intitulada Nelly Cootalot: Spoonbeaks Ahoy! e que pode ser gratuitamente descarregada aqui. Nelly não pensa que é como um pássaro como a sua homónima Furtado, mas instigada pelo fantasma de um famoso pirata decide saber o porquê do desaparecimento de um bando de pássaros, e fá-lo sempre com recurso ao humor e a uma certa ingenuidade que lhe assenta bem.
Passam nove anos e estamos em 2016, e depois de uma campanha de sucesso de Kickstarter o caricato game developer Alasdair Beckett-King (autor deste Nelly Cootalot) volta a surgir com mais uma aventura da simpática pirata. É inegável que Alasdair deve ter um tremendo respeito e influência pela obra de Schafer e Gilbert. Nelly Cootalot: the Fowl Fleet exala tanto de Monkey Island que é difícil não apelidá-la como uma das maiores e mais honestas homenagens a essa série de videojogos que tanta influência criou. Basta ver aqui o caso do Rubber Chicken. É inegável que jogar a famosa série da LucasArts nos moldou enquanto jogadores (e no meu caso definiu o tipo de jogador que fui, sou e serei) e decerto que isso aconteceu com Alasdair.
Nelly Cootalot é uma aventura clássica em todas as suas mecânicas, com as habituais interacções de itens no inventário a co-existirem com todas as resoluções de puzzle que nos habituámos desde a épica áurea do género. Mas onde Nelly realmente brilha é ao seguir esse filão dourado dos belos e velhos tempos de comédia das aventuras da LucasArts, em que o argumento circundava uma série de monólogos e diálogos dignos dos melhores argumentistas, e onde Alasdair, o criador e argumentista do jogo parece navegar com profícua certeza. Mas a comédia que aqui surge tem o mesmo tom dessas mesmas aventuras, onde uma certa aura pueril confere-lhe a ingenuidade suficiente para transformá-la na aventura cómica do ano, sem qualquer competição até agora.
Nelly Cootalot: the Fowl Fleet é humor britânico do primeiro ao último momento. E talvez todos os serões de sábado passados à frente da RTP2 a ver o melhor da Britcom me tenham tornado bastante permeável a este tipo de humor, mas a fasquia da comédia ultrapassa largamente outra grande aventura-gráfica deste ano, intitulada Deponia Doomsday e que recentemente analisei.
Outro ponto exímio deste Nelly Cootalot é a direcção artística, como uma estética que facilmente esperaríamos encontrar num qualquer livro de piratas para o público infantil. E é esta escolha visual que se coaduna na perfeição com a ingenuidade de argumento e humor de todo o jogo, e que nos lembram o quão maravilhosamente ingénuo e cómico era Guybrush Threepwood.
E é claro, enquanto whovian a possibilidade de ter o grande actor Tom Baker a dar voz a Sebastian o fiel companheiro de Nelly é um sonho tornado realidade. Tudo isto, somada à arte e argumento exímios, ao excelente humor, tornam este Nelly Cootalot: the Fowl Fleet como um dos jogos obrigatórios não só para fãs hardcore de aventuras, como para todos os PC Gamers.