Há descontos para excursões?

 

Vou começar por dizer que não sou um fanboy. Agrada-me o que a Blizzard fez com alguns jogos, como Warcraft e World of Warcraft, mas há outros em que prefiro nem lhes tocar. Para quem, como eu, foi um adepto de Magic the Gathering, Hearthstone parece uma espécie de sucedâneo pobre. Uma espécie de Nique, ou Sonia, ou Reboque, qual artigo de feira. Não me odeiem, amantes do Hearthstone. Eu acho alguma piada ao jogo, mas acho-o… curto. Mantiveram as coisas simples, mais balizadas, mas para taparem a cabeça, destaparam os pés, e o jogo fica um pouco aquém daquilo que me poderia agarrar porque estou sempre a pensar que deveria dar para fazer algo mais. Da mesma forma, a Blizzard lançou um Heroes of the Storm que, sendo de um género que me agrada (joguei League of Legends, joguei algum Smite e sou, como devem ter reparado, cliente assíduo do Dota 2, com direito a garrafa de Whiskey reservada em meu nome e cartãozinho de pontos que dá uma francesinha de borla de 10 em 10 rage rants), não conseguiu agradar-me. De facto, na minha lista de MOBAs, se este Heroes of the Storm não estiver lá no fundo, está perto disso.

Não sou, portanto, um fanboy da Blizzard. Mas fui – e sou – fã de Team Fortress 2, pelo que quando Overwatch foi anunciado, o meu spider sense apitou. Soltei uma pinguinha de teia, juro. Pareceu-me engraçado, mas também me deixou de pé atrás, quando surgiram as primeiras notícias de que seria pago, a que se seguiram outras novidades que não me agradaram propriamente. Foi, portanto, com um interesse residual que abordei este Open Beta do Overwatch, que terminou esta semana.

 

A da direita chama-se “Morte”, a da esquerda chama-se “Cláudia”!

O impacto inicial foi parecido, presumo, com aquele que alguém tem quando decide jogar Dota 2 pela primeira vez e vê que todos os heróis estão disponíveis. “Ena taaaaaantos!” Vinte e uma personagens para descobrir! Gosto! Estão razoavelmente distribuídas dentro do jogo como sendo de ataque, de defesa, “tanques” ou suportes, cada uma com ataques e habilidades únicos, a que se junta uma habilidade “Ultimate”, disponível apenas de tempos a tempos. Ora, habilidades com cooldowns, ultimates e roles específicos, o jogo começa a dar as primeiras pinceladas de MOBA… Pinceladas essas que se tornam num quadro já composto quando se trata de escolher a nossa equipa, com o jogo a sugerir-nos adequações à medida que os vários jogadores vão escolhendo as suas personagens, indicando-nos que falta um Suporte, ou que se tem Snipers a mais.

Claro que o jogo, em si, é um FPS. Mas é um belo exemplo daquilo que NÃO é um FPS genérico. Não é corta e cose, não é mais do mesmo. Vai bebericar influências aqui e ali, umas vezes mais, outras vezes menos… e se há alguns pormenores que foram apenas timidamente sorvidos, outros, como no caso do Team Fortress 2, vêm as suas mecânicas alarvemente emborcadas, arrotando o God Save the Queen em Dó Maior no final. E é a segunda referência a arrotos que faço em artigos no Rubber Chicken. Prometo que vou tentar manter a contabilidade actualizada.

OK, já percebemos a ideia, mas afinal, como é que é isso?

Como mergulhar num mar de caramelo, secar-se numa toalha de manteiga de amendoim, pentear o cabelo com pepitas de chocolate, enquanto se lambe baba de camelo e se espirram ovos moles. It’s that fucking sweet!

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É isso! Não é que o jogo me tenha deixado boquiaberto à primeira. Não é daquelas coisas que me agarrou horas e horas a fio, não deixei de jogar outros jogos por causa de Overwatch, não perdi o contacto com a família e amigos, nem emergi no fim da Open Beta de cabelo desgrenhado, barba por fazer e olhos vítreos, pelo menos mais que o normal… Mas acabei sempre por voltar a ele, sozinho ou com um grupo de até 6 pessoas, uma, duas, três, várias vezes por dia, dei por mim a entrar no jogo “só para dar uns tirinhos”. Overwatch conquista-nos aos poucos. It doesn’t grab a big bite, it just nibbles… aos poucos, aos pouquinhos, vai-nos agarrando, e um dos melhores elogios que poderia e posso fazer ao jogo é que, dia 10, depois das 18 horas, senti a falta dele. Senti várias vezes aquele impulso de entrar lá só para despachar os tais tirinhos e cancelei o movimento do rato, com uma lágrima no canto do olho de fazer inveja a Bonga nos seus tempos áureos.

 

Foi interessante ir registando as minhas próprias mudanças de percepção face ao jogo. Comecei com um role, com um ou outro personagem, depois dei por mim a divertir-me com um role e personagens diferentes, saltitando depois para dedicar sessões de jogo completas a outra personagem… Essa capacidade de o jogo me surpreender e de me surpreender a mim mesmo dentro deste é das coisas que me faz considerar este jogo uma compra obrigatória. Diverti-me tanto com os diversos estilos de jogo, redescobrindo-me e experimentando personagens que anteriormente descartara como não fazia há muito com muitos outros jogos que me têm passado pelas mãos. O melhor exemplo será a Tracer. Fugi-lhe a sete pés, quer pelas polémicas, como pelo facto de ter sido uma das personagens que vi ser mais hyped. Ouvi as críticas dos amigos que a achavam forte ou frágil demais e fui contornando. A jogar ofensivo, diverti-me a flanquear e a fazer pick-offs sorrateiras nos inimigos na pele de um Reaper ou um Genji, não me tendo dado tão bem com o estilo straight forward de uma Pharah ou de dano contínuo de um Soldier:76. Volta e meia, optava por uma alternativa mais directa, com Junkrat ou com maior presença no campo de batalha escolhendo um Tanque e envolvendo-me mais na tarefa ofensiva da equipa, com Reinhardt ou Roadhog (e que bom é ver aqui uma lembrança de personagens como Pudge no Dota 2 e Stitches no Heroes of the Storm). Fugindo da mais estática Widowmaker, a verdade é que me diverti a defender zonas usando a turret de Torbjorn ou reposicionando-me como Bastion e tive bastante sucesso com uma personagem frágil e, pareceu-me, pouco apreciada, como a Symmetra, com a qual controlei choke points e zonas cruciais com as suas seis mini sentries e granjeei agradecimentos do povo pela colocação do seu Ultimate – um teleporte – em zonas avançadas protegidas, como forma de minimizar o tempo de chegada dos meus falecidos companheiros à frente de batalha. Terá sido a personagem a quem dediquei mais tempo, usando-a sobretudo para defender. Mas mais tarde diverti-me com a verdadeira Powerhouse que é Mei, recorri inúmeras vezes a Mercy como forma de manter um ataque continuado, com a qual, francamente, me pareceu difícil perder um jogo a atacar. Rolei pelo mapa várias vezes como Lúcio, um suporte versátil e completo e, no último dia, no último dia em que pus as mãos nesta Open Beta de Overwatch, dei uma hipótese à Tracer. E podem ter sido só os jogos a correrem bem, duas, três, quatro vezes, mas, em bom português, parti tudo com ela. Redescobri-a mesmo no fim, ágil, frenética, acelerada, terrorista, a agitar as águas, a entrar, a deixar o seu Ultimate para limpar uma sala e a voltar atrás, impávida e serena, para ver os pedaços dos inimigos colarem-se à paredes.

 

Deu para perceber que gostei?

É isso. Gostei! Está bom! Divertido, dinâmico, diferente, e outros D que eu possa meter aqui. Sendo uma Beta, a verdade é que há poucos defeitos que possa apontar, o que, para quem trabalhou na área a detectar Bugs e afins, é dizer bastante. Descobri apenas um, no primeiro dia, que me impediu de jogar com os amigos da lista, mas foi prontamente resolvido no dia seguinte. E sim, Overwatch poderia ter mais mapas, poderia ter um matchmaking melhor, permitir a escolha do servidor e dos mapas a jogar, o que tornaria, a meu ver, o jogo melhor, mas já vi muitos jogos no mercado com muitos mais problemas que este Overwatch.

Há pontos a melhorar, sem dúvida, mas estão lançadas as bases para um grande jogo que não se fique pelo êxito fugaz de escassas semanas. Há skins para as diferentes personagens, voice lines, sprays e todo um conjunto de coleccionáveis que prometem manter os jogadores agarrados. E, mais importante ainda, há um enorme piscar de olho à instituição do jogo como eSport, promovendo e fomentando uma comunidade competitiva, aproveitando membros das antigas comunidades de Team Fortress 2 e de outros jogos e abrindo-lhes os braços para um novo jogo, tecnologicamente mais evoluído, mais rico e ao que tudo indica, mais complexo, prometendo aquilo que faz um eSport manter-se viável: jogos interessantes de assistir.

 

Por isto e pelo que ainda não foi revelado e que figurará em Overwatch de futuro, disse-o e reafirmo-o, Overwatch é, certamente, uma das compras obrigatórias do ano.