Com a minha já conhecida paixão pela pesca virtual, foi com uma tremenda surpresa que passei as últimas semanas em torno de barcos. Entre conduzir embarcações de recreio e gerir uma multinacional de transporte marítimo, tenho de admitir que ultimamente a minha vida gamer tem metido muita água. Quase tanta quantos a maioria dos árbitros portugueses a apitar jogos do Benfica*.
World Ship Simulator
Ainda em Early Access, World Ship Simulator vem desse género misterioso que nos agarra e vicia de forma inexplicada e que parece possuir um buraco negro para horas da nossa vida. A optimização gráfica é quase inexistente e é apenas comparável ao número de sanções disciplinares feitas a jogadores benfiquistas*. Rapidamente se percebe que o jogo ainda se encontra num período muito inicial da sua produção, e o quão insípida é a apresentação visual do jogo que parece algo de há dez anos atrás, quando as ajudinhas futebolísticas eram azuis e ainda não eram vermelhas*.
Mas há uma calma estranha em entrar no nosso barco, e ao invés de explorarmos as muitas missões que já existem nesta versão Alpha, a de querermos apenas navegar em direcção ao vazio azul do mar onde este encontra a linha inalcançável do horizonte. Desligar o cérebro e ligar a ignição do barco, deixando-o ir sem destino com a civilização nas nossas costas. Suponho que isto que os donos de lanchas e iates devem sentir na vida real, indo até à marina de Cascais e arrancando com os seus barcos em direcção ao mar. World Ship Simulator é o equivalente disso mas para malta de classe média como eu. Acredito que a experiência seja semelhante, mas com piores gráficos e sem roupa da Benetton.
Fico o desejo da versão final de World Ship Simulator vir a apresentar-se a anos-luz do patamar onde está hoje. Ou neste caso específico a muitas milhas-marítimas do seu antecessor, o European Ship Simulator.
TransOcean 2 Rivals
Sem dúvida o jogo em que tenho passado mais horas. TransOcean 2 Rivals segue o enredo do primeiro jogo lançado em 2014 e é um interessante jogo de gestão de uma empresa de transportes de mercadorias marítimas. De uma pequena empresa com um cargueiro até ao objectivo final de dominar o mercado e os mares com uma frota invejável, o nosso caminho empresarial vai sendo feito sob a lupa do máximo de lucro possível. Como a Ode Marítima do Álvaro de Campos mas actualizada para os dias de hoje como a Ode Marítima ao Capitalismo, e a ser distribuída junto de todos os neo-liberais da nossa vida.
TransOcean 2 Rivals é desafiante ao longo de cada missão, e cedo comecei a perceber a dificuldade que existia em tentar fazer o máximo de lucro possível com cada viagem. Em algumas viagens entre portos comecei a ter prejuízo por estar a gastar combustível excessivo e por não conseguir preencher na totalidade a carga da embarcação. Recomecei o jogo, agora com algum conhecimento das hipóteses que tinha e o lucro já surgia com maior facilidade.
Cinco horas depois de passar demasiado tempo à volta do continente americano com os meus cargueiros comecei a sentir o revés de TransOcean 2: a sua monotonia. Para um jogo de de gestão, um tycoon ao bom estilo do velhinho Ports of Call, TransOcean é excessivamente limitado nas suas opções, e rapidamente damos por nós a fazer inúmeros cliques nos diversos barcos. E pouco mais. Escolher contratos e estipular rotas, e a ideia de nos tornarmos magnatas dos transportes torna-se cada vez mais um rol de tarefas e rotinas do que a sagacidade que inúmeras outras opções de gestão trariam.
Tenho uma imensa pena da falta de profundidade deste TransOcean 2. Há uma proporcionalidade directa entre o entusiasmo que sentimos e a passagem do tempo. Quando sentimos que já explorámos todas as hipóteses de gestão e o jogo passa a ser rotineira, em que a passagem dos dias em direcção à próxima missão é apenas uma questão de atrito, a vontade de dominar o mundo através dos transportes passa a ser tão monótono como esperar que o Benfica dê lá por onde der tem de pontuar em todos os jogos para o Campeonato*.
*o mau-estar de ver o rival a ser Campeão há-de passar em tempo útil.