Eu era ainda pequeno quando este grande evento da história recente da Humanidade aconteceu. A Alemanha, e no fundo a Europa que se reuniram para além da separação num mundo que se antevia cada vez mais humano e mais próximo, e em que o final da URSS e o consequente término do muro que separava Berlim em duas partes tão distintas.
E é neste preciso momento da nossa História colectiva que começa Jalopy, um estranho jogo que explicado soa a pura bizarria, mas cujo desenvolvimento e tom são dos mais interessantes dos últimos tempos.
Começamos Jalopy no quintal do nosso tio, que nos apresenta o seu velhinho Laika 601 Deluxe que estava devoluto e que necessita de reparação. Ao bom estilo dos simuladores temos de efectuar uma série de reparações sob instruções do nosso tio, que nos vai ensinando de mecânica e nos vai explicando mais a fundo a história deste modelo de carros soviético de 1957, e que será o nosso companheiro de viagem que temos de efectuar.
Eu sou possivelmente um dos maiores desconhecedores de mecânica automóvel que existe, mais por desinteresse do que por falta de informação. Admito que esta componente de car mechanic simulator não costuma ser a minha “praia”, mas há algo na forma narrativa como esta vertente é apresentada que se torna apelativa, interessante e cativante.
Vamos os dois (nós e o nosso tio) fazer uma viagem entre Dresden e Berlim no velhinho Laika, conhecendo o que é a Alemanha do pós-Muro, e a realidade da “nossa” família. Se tivesse de apelidar Jalopy dentro de um género chamar-lhe-ia um road trip simulator, em que temos a abertura da Alemanha de Leste para percorrer à nossa vontade, com um enredo interessante e uma direcção artística que se encaixa na perfeição neste simulador.
Jalopy ainda está em Early Access mas é sem dúvida um dos jogos mais interessantes que o mercado indie tem, num género que pouco ou nada me diz, mas foi tão soberbamente reimaginado que se tornou bastante interessante.
Para jogar acompanhado de música do final dos 1980s e início dos 1990s, e repensar o quão mais próximos estivemos da paz do que estamos nos dias de hoje.