Vou começar por dizer que não, não tenho por hábito escrever sobre todos os eventos de eSports do mundo. Vamos procurando dar cobertura a alguns, com especial ênfase com aqueles que se passam por cá por terras Lusas, embora isso nem sempre nos seja possível, e, volta e meia, ocasionalmente, falamos ou falaremos de um Big Event lá fora.
Pois bem, The International é um deles. É um verdadeiro case study nos eSports, no mercado dos eSports e na rentabilização dos mesmos. Com o valor recorde de mais de 18 milhões de dólares de prize pool associados a um evento, o The International 2015 aumentou mais de 1000% o valor inicial avançado pela Valve. Como? Com o incremento gradual de 25% de cada transacção associada ao evento, o valor do prize pool foi, gradualmente, de milhão em milhão, saltitando dos $1.6M para os $18.4M. Coisa pouca, portanto. Principalmente se tivermos em conta que, para o prémio subir esse valor, foram gastos perto de 70 milhões de dólares pelos espectadores e adeptos do Dota 2.
Em quê?, perguntam vocês. E perguntam bem. Porque a resposta a isso é uma das coisas que faz do The International um verdadeiro case study.
Na madrugada de 17 de Maio, perto da meia noite, foi anunciado e colocado à venda o Battle Pass e o Compendium para o The International 2016 que, desta vez e devido à proximidade do mesmo, inclui também o Battle Pass para o Manila Major, esse com um prize pool fixo de 3 milhões de dólares. Na altura em que escrevo estas linhas, o valor do prize pool subiu dos 1.6 milhões para perto dos 3.6 milhões. 2 milhões de incremento. 8 milhões gastos. Em pouco mais de 14 horas.
A coisa está, sensivelmente, com um acréscimo de 2 milhões de dólares face ao valor dispendido pelos adeptos no ano passado.
Certo, mas que raios é que tem o Battle Pass para fazer tanta gente gastar dinheiro nisso? A informação está compilada aqui mas vamos tentar explicá-la mais ou menos…
A compra do Battle Pass desbloqueia desde logo um conjunto de itens para utilizar dentro do Dota 2: Uma skin para o mapa, um Music pack, um courier (ou “estafeta”, o personagem responsável por nos entregar os items comprados sem termos que ir à base, dentro do jogo), uma ward, um HUD, um Announcer Pack, etc…
Além disso, dar-nos-á acesso ao Compendium para o Manila Major e para o The International. O Compendium é uma espécie de caderneta do evento. Um livrinho digital com toda a informação do torneio, composição de equipas, jogadores, jogos disputados, casters, etc… e inclui também uma componente de previsões para os jogos desse evento. Que equipa vencerá? Qual será o herói mais utilizado? Quantos heróis não serão utilizados? Qual será o maior número de mortes num jogo? Quem morrerá mais vezes? Quanto tempo terá o maior jogo? E o menor? Quantos Roshans serão mortos? Quantas Divine Rapiers serão compradas? A lista é imensa e cada previsão acertada premiará o Battle Pass com pontos. E, de 1000 em 1000 pontos, o Battle Pass sobe de nível, desbloqueando novas prendas e prémios, mais ou menos exclusivos.

A nova skin para o mapa traz um aspecto mais primaveril. Tipo florzinhas e abelhinhas e coiso e tal
Um dos grandes incentivos à venda de Battle Passes são os Immortal Treasures. São umas caixas onde saem itens cosméticos para aplicar em heróis. Skins, portanto. Sendo que estas são feitas com especial cuidado por parte da Valve e costumam incluir efeitos visuais diferentes, animações e sons próprios, ícones de habilidades diferentes, etc… São itens de qualidade “Imortal”, uns dos mais valorizados (há items comuns, incomuns, raros, míticos, lendários, imortais, arcanos e mais outros que certamente me esqueci de incluir na lista). Cada caixa traz um e não se repetem até termos a colecção completa dos possíveis para essa caixa. Mas, ocasionalmente, uma caixa poderá ter dois ou mais items, sendo que estes, os imortais raros ou golden, podem valer umas quantas centenas de euros à venda no Steam Market. Sim, porque um dos argumentos para se comprar um Battle Pass é que o seu custo pode ser minimizado ou até ultrapassado com a venda de items no mercado ou com a utilização destes em apostas nos resultados de diversos jogos. De momento apenas um Immortal Treasure está disponível, com itens para Enchantress, Omniknight, Timbersaw, Juggernaut, Phantom Lancer e Weaver, com os imortais raros para Phoenix, Juggernaut (o mesmo imortal, mas dourado) e Faceless Void. Mas há mais duas caixas a ser lançadas nos próximos tempos, até à fase final do The International, marcada para Agosto. O que deixa já perceber que as vendas continuarão a decorrer gradualmente, ao longo dos meses que faltam, sendo que, tradicionalmente, são espicaçadas com o lançamento dos novos Immortal Treasures.

Stop! Hammer time!
Mas o Battle Pass é também um conjunto de Quests desenhadas para permitir a evolução deste. Há três Quest Lines principais, cada uma com missões para serem cumpridas dentro de um jogo normal de Dota 2. Algumas delas são simples, como a compra de determinado item antes de atingido certo tempo de jogo, outras mais complicadas, como atingir um número de assists ou garantir o First Blood antes de decorridos x minutos de jogo. Cada missão concluída com êxito dá pontos, que incrementam o nível do Battle Pass, e desbloqueia a missão seguinte. Mas atenção, há que ganhar o jogo também, senão a missão não conta! Com um caminho de missões, chegamos à missão final que, quando concluída, nos garante o acesso a uma Skin exclusiva para os que lograrem atingir o objectivo. Há, como disse, três Quest Lines, com Skins para Windranger, Clinkz e Ursa. Mas, para aqueles que conseguirem elevar o seu Battle Pass até ao nível 225, haverá uma nova Quest Line, dedicada à Legion Commander, com uma Skin exclusiva para ela. A conclusão dessa Quest Line conferirá um upgrade visual a essa Skin, provavelmente com animações e ambient effects extra.
Mas há mais maneiras de conferir níveis aos nossos Battle Pass. Há uma espécie de semanada que o Battle Pass nos confere. O base são 1000 créditos. Sentem-se confiantes? Apostem uma fatia desses 1000 créditos. Se ganharem – e dependendo do valor da aposta dos adversários – esses proveitos são-vos devolvidos como pontos para o Battle Pass. E, para aqueles que estouram os 1000 créditos no primeiro dia, dependendo do nível do Battle Pass, podem desbloquear uma semanada de até 3000 créditos para apostarem. Apostem tudo, porque os créditos não gastos não acumulam para a semana seguinte! Alguém da vossa equipa é vosso amigo ou jogou particularmente bem? Podem dar-lhe uma gorjeta com alguns dos vossos ganhos no fim do jogo, que reverterão como pontos para o seu Battle Pass.

Um dos objectivos desbloqueáveis: Uma skin para o mapa a fazer lembrar um jardim
Está ainda prometido um conjunto de Community Quests que, quando concluídas, desbloquearão um conjunto de tentativas para ganharem mais uns quantos prémios.
Pela primeira vez, surge também um “High Water Mark”. Este é um desafio proposto pela Valve a toda a comunidade. Se o valor do prize pool total ultrapassar o do ano passado, cada detentor de um Battle Pass receberá três prémios, sendo que estão prometidos uns quantos milhares dos items/skins mais valiosos da história do Dota 2, como o Dragonclaw Hook, para o Pudge ou o Golden Doomling, um courier exclusivo do The International 2015, geralmente vendidos por umas quantas centenas de euros no Steam Market.

Pudge e o seu Hook milionário
Interessante é também a mecânica engendrada pela Valve para agradar a gregos e troianos com este Battle Pass. Foi introduzido um novo modo de jogo Ranked, apenas para possuidores de Battle Pass. Durante a duração deste Battle Pass, será construído o vosso Rank do zero. Acham que o vosso rank é inferior àquilo que valem? Pois bem, com esta nova calibração sazonal, se chegarem ao fim da temporada com um mínimo de 40 jogos e o vosso Battle Pass Rank for do vosso agrado, esse substituirá o vosso Rank actual. Uma jogada de marketing brilhante por parte da Valve.
Mas há mais. Estão também prometidas pequenas competições semanais, abertas a todos os jogadores, com muitos mini torneios com grupos de 8 equipas de ranks semelhantes a jogarem entre si, em single-elimination, para competirem por… adivinharam, mais pontos para o Battle Pass!
A isto juntam-se as possibilidades para votar no próximo item Arcano, bem como um conjunto de animações exclusivas que vão sendo desbloqueadas com a evolução do Battle Pass e vários prémios a serem conquistados, como a evolução do Courier e da Ward oferecidas, ou a roleta de Rylai, the Crystal Maiden, a sortear pontos, sets completos, tesouros e skins Arcanas.
Há todo um conjunto de benesses virtuais que incentivam os adeptos do jogo a comprar o Battle Pass e a jogar o jogo para o evoluir, desbloqueando para si cada vez mais prémios. O sistema tem vindo a sofrer melhorias graduais, ao longo dos anos, e este junta alguns dos pontos mais fortes dos últimos Compendiums e Battle Passes. O melhor para a Valve é que, até aqui, tudo são apenas itens virtuais. Skins. Itens. Músicas. Couriers. Nada requer matéria-prima para ser fabricado. Nada precisa de ser construído de novo. E é por isto que o negócio vale o que vale. O único item que a Valve tem, de facto, que produzir, é uma medalha com o Aegis, oferecida e enviada para casa daqueles que logrem atingir nível 1000 no Battle Pass. Parece muito, mas terão sido vários milhares, aqueles que foram distribuídos em 2015. Entretanto, a Valve esfrega as mãos de contente e, ao que tudo indica, o próximo The International quebrará novamente recordes. É que, agora que acabo de escrever isto, o prémio já vai em 4.77 milhões. Podem, aliás, consultar a evolução e comparação num site próprio para o efeito. E fica a questão… até que valor subirá este prize pool?