É estranho, quase injusto e ingrato que o regresso de Langrisser, dezoito anos depois do último lançamento da série e que ocorreu na velhinha Saturn, seja perto do lançamento do maior portento dos tactical JRPGs: Fire Emblem. E digo-o porque para quem esteve atento ao género nos 1990s, especialmente numa altura em que localização era um quase mito e não fossem as fanlations e algumas das séries míticas do Japão perder-se-iam. Por outro lado, pouco há de injusto neste Langrisser Re:Incarnation Tensei por sair na mesma fase que Fire Emblem Fates. Porque os dois jogos não estão no mesmo patamar qualitativo.
É curiosa a diferença de postura que assumimos perante casos tão diametrais. Ainda há dias ao falar do novo jogo da Intelligent Systems sugeria o que fazer para tornar o jogo perto da excelência, elevando o enorme nível qualitativo do seu argumento para uma zona ainda mais madura e complexa. Com este novo Langrisser tudo o que desejaria, para que o argumento saísse da zona de mediocridade em que se encontra agora.
Há uma série de lugares-comuns que se espraiam por todo o enredo como um polvo expectável e aborrecido, cujos tentáculos ramificam à medida que a própria história vai bifurcando com as nossas decisões. Dos vários factores que envolvem o desenvolvimento de um jogo, diria que o único que não é afectado por questões de orçamento versus qualidade versus questões técnicas é mesmo a escrita. É claro que se quisermos que o Neil Gaiman escreva um argumento para o nosso jogo sabemos que isso terá custos. Mas é igualmente possível, se o talento existir, conseguir uma tremenda história, aliciante, e que mantenha os jogadores cativados independentemente dos problemas técnicos que um jogo possua.
Infelizmente para nós, e infelizmente para o tão esperado regresso de Langrisser, este não é o caso. O argumento é tão quadrado e obtuso quanto um quase-tutorial de como escrever um enredo de JRPG passo-a-passo, que acaba por nos deixar tristes com um regresso tão pobre e tão desinspirado.
Sabemos que não é justo comparar os valores de produção do gigante Fire Emblem Fates com este Langrisser Re:Incarnation Tensei, mas se há algo que o mercado indie (que nós tão bem conhecemos) é que é possível fazer uma omelete sem ovos, com engenho, paixão, e acima de tudo talento. Percebemos que este novo Langrisser nunca teria a mesma dimensão épica de Fates, mas então porque não compensar com a imensa experiência que o estúdio Career Soft tem nestes quase trinta anos de actividade. E que desenvolveu o excelente Shin Megami Tensei: Devil Survivor 2 há pouco tempo…
Langrisser Re:Incarnation Tensei não é o regresso que esperávamos a uma das séries clássicas. E que demonstra que quinze anos é muito tempo para fazer crescer a ansiedade e a consequente desilusão.