Shadow of the Beast (1)

Shadow of the Beast já devia correr as lojas portuguesas há um ano quando o meu primo comprou uma disquete muito pouco original na Portela. Lá fui ter a casa dele e ficámos a deliciar-nos com o que na altura era um side scrawling beat ‘em up com um mundo estranho, mas coerente. As criaturas (e o protagonista) pareciam saídas de uma mente perturbada, e isso só servia para compor melhor o quadro violento (para a época) de Shadow of the Beast.

Vinte e sete anos do lançamento do jogo original (e vinte e seis depois de o ter jogado) a extinta Psygnosis (hoje totalmente absorvida nos estúdios de desenvolvimento da Sony) lançou o remake de Shadow of the Beast, que me deixou um sabor agridoce na boca.

Shadow of the Beast (2)

Visualmente este Shadow of the Beast é soberbo. A utilização do motor de Unreal e a detalhada pormenorização impressa ao cenário e aos muitos inimigos é deslumbrante. Há um maravilhamento estético da nossa parte ao percorrermos a distância horizontal dos diversos níveis, enquanto vemos a profundidade de campo a fazer verdadeira magia visual com o extremo detalhe aqui criado.

Vinte e sete anos é muito tempo, e é óbvio que esta actualização tão óbvia do ponto de vista gráfica não foi o único upgrade feito. A fluidez das animações, a inclusão de mecânicas de combos, barras preenchíveis, crowd control entre outras adições a este remake demonstram a sua contemporaneidade e o porquê de estar a anos luz destes quase trinta anos que separam ambas as versões. E incrivelmente longe das mecânicas simples de brawlers próprias do final dos anos 1980.

Shadow of the Beast (1)

Shadow of the Beast, na sua definição linear de side scrolling brawler sempre teve um combate ritmado, em que derrotar os inimigos era uma questão de percepção de cadência percussiva dos monstros, em que um ataque chegava para os derrotar. Um proto-rythm game mascarado de brawler, numa abordagem original que não deveria ser originalmente criado de forma consciente pelos seus devs.

O grande pecado em que a nostalgia e a memória nos traem é na visão redutora de um remake como este. Há uma aura datada para este jogo, onde o mero sistema compassado de derrotar horda atrás de horda, inimigo por inimigo com um ataque acaba por soar limitador para o notório valor de produção que Shadow of the Beast. Será que era apenas um remake visual e (de forma parca) mecânico do jogo original que necessitávamos agora? Um jogo curto em que a monotonia do button mashing rítmico acaba por enfadar mais do que divertir, ultrapassada que está a surpresa inicial com o quão bonito o jogo é.

Shadow of the Beast (2)

E este Shadow of the Beast torna-se a prova cabal de duas falácias actuais do mercado. A primeira é que um visual deslumbrante não é suficiente para manter o interesse num jogo que pouco interessante é, caindo a surpresa estética na efemeridade quando ultrapassada pelo aborrecimento. A segunda é que numa era em que grande parte dos media culturais se encostam aos remakes como fonte quase segura de receita, a consciência de que nem todos os produtos necessitam, ou fazem sentido refeitos é cada vez mais gritante.