Ainda deve ser o frenetismo do Rock in Rio a falar mais alto, ou a dose dupla que o público português teve de Ivete Sangalo, qual overdose de caipirinhas que consegue derrear qualquer um. Nesta Caçada Semanal trazemos dois jogos indie feitos pelos nossos irmãos do outro lado do Atlântico, e que apesar de não estarem no mesmo patamar daquele que é para nós um dos melhores jogos feitos no Brasil, o Chroma Squad, são dois bons exemplos de um mercado que começa a ter algum impacto.
O terceiro jogo pouco ou nada tem de ligação com o Brasil, mas à falta de substituto falamos aqui de um jogo francês, e que apesar de não falar Português com melodia é dos nossos quase vizinhos franceses.
E ainda em ressaca do único dia de Rock in Rio a que fui, aqui deixo o melhor (para mim) do dia 27, o genial saxofonista brasileiro Leo Gandelman. Sim, que ao contrário do que a Ivete deixa perceber, o Brasil é muito mais do que o Axé.
Save the Dodos
Um simpático jogo feito para mobile mas que chegou entretanto ao Steam, Save the Dodos demonstra com uma quase-veracidade histórica (acentuar a palavra quase se possível) o porquê da extinção dos dodos. Ao contrário do que lemos nos livros de História, não foram os marinheiros e os colonos quem exterminou a pobre raça de aves, mas sim a sua teimosa ingenuidade de agirem como os saudosos Lemmings e de se dirigirem para precipícios sem a capacidade para estacarem ou mudarem de direcção.
O objectivo deste puzzle game é simples: conduzir os dodos à segurança até uma porta mágica que os transporta para o próximo nível. Algumas teorias de fãs do jogo defendem que esta porta transporta os pouco inteligentes dodos directamente para a Casa dos Segredos, o que é perfeitamente plausível.
Para passarmos cada nível temos de fazer slide a partes separadas do ecrã para criar caminhos seguros para que os dodos caiam nas plataformas onde a porta de final de nível se encontra. O que traz um desafio curioso e casual e que nos diverte por bons e largos níveis.
My Night Job
Sabem aquela moda das redes sociais em que os nossos amigos postam comentários como “Quando estou aborrecido calço uns sapatos de vela e vou para o Largo do Caldas à espera de um beijinho do Paulo Portas”? Essa estúpida moda que enche o Facebook de piadas que afinal não têm assim tanta piada e que afinal não são assim tão criativas quanto os seus autores pensam. Para descrever My Night Job, do estúdio brasileiro Webcore Games poderia fazer o mesmo exercício. “Quando ninguém está a ver entro em prédios ocupados por zombies e retiro de lá sobreviventes à paulada”.
Não teve piada pois não? Pois, a moda do Facebook também não e não é por isso que não é repetida.
Mas continuando a falar de My Night Job: um side scrolling beat’em up muito difícil que nos põe a percorrer as muitas divisões de uma mansão em busca de sobreviventes. O objectivo de cada nível é levar cem sobreviventes para os pontos de extracção antes que os zombies destruam por completo a mansão ou que nos matem. Simples de explicar mas muito difícil de fazer.
O segredo do jogo é que temos uma espécie de medidor que vai demarcando por divisão o quão “ocupada” cada sala está, e chegando a um ponto terminal o jogo está perdido. O que significa que temos de estar em constante movimento a distribuir fruta pelos zombies (é de senso-comum que as vitaminas ajudam até os corpos mortos-vivos a florescer) e a impedir que eles fiquem em número tal que ocupem por completo a casa.
Tudo isto com recurso à bela pancadaria retro em pixel art, e a sessenta armas diferentes aleatórias espalhadas pela mansão. Há uma aura tremenda de outros jogos arcade, e a inspiração em Metal Slug é mais do que óbvia.
https://www.youtube.com/watch?v=hgAV-BrFzyg
The Kindred
A cavalgar o sucesso aparentemente interminável de Minecraft, The Kindred, do estúdio francês Persistent Studios vem trazer uma abordagem ligeiramente refrescante a um mercado que parece obcecado em conseguir uma porção do quinhão dourado do jogo actualmente pertencente à Microsoft.
De tantos jogos de voxel sandbox, The Kindred evidencia-se pelo tom city builder que traz. Ainda em Early Access, este jogo propõe-se a elevar o género da sobrevivência singular ao da gestão de um grupo, os Kin, que conseguimos isoladamente controlar para gerir e construir as muitas vertentes da nossa cidade. Construir edifícios, recolher recursos, estabelecer as redes energéticas, criar e procriar animais para alimentação, são apenas algumas das muitas tarefas que The Kindred nos obriga a fazer para garantir a sobrevivência do grupo.
Nunca me senti conquistado por Minecraft nem pelos seus múltiplos clones, mas parece-me que The Kindred quer trilhar um caminho próprio para além da mera cópia. Gerir um grupo, qual god game, é algo muito mais interessante do que a fórmula já muito gasta de vermos o jogo na primeira pessoa e termos de recolher recursos e construir.
Cá estaremos para ver o que The Kindred revelará na sua versão final.