Quando os irmãos Castro e a sua banda, os Petrus Castrus (aquela que é possivelmente a minha banda portuguesa favorita de sempre) gravou esta música em 1973, longe estariam de pensar que algum dia a faixa seria musicalmente ilustrativa da demência de uma marca quanto à sua posição no mercado dos videojogos. Possivelmente nem pensaram nisso porque vendo bem a comparação entre uma coisa e outra é um tanto ou quanto… parva.
Sei bem que este artigo sobre a conferência da E3 2016 já estava prometida desde o stream que fizemos com a companhia do Rui Parreira, mas por diversas circunstâncias só hoje o consegui fazer. E ainda bem, que entre a E3 e hoje saiu uma conclusão pública de uma empresa de análise de marcas e de marketing que vem reforçar aquilo que referia no meu comentário.
Os pontos positivos
O maior ponto positivo que a Microsoft anunciou na conferência da E3 2016 foi sem dúvida o crossplay com o Windows. Digo-o por uma perspectiva quase egoísta de alguém que não possui Xbox One e que passa 90% do seu tempo de jogo (ou talvez mais) no PC.
Desde a E3 do ano passado que a Xbox anunciou três exclusivos que me fizeram desejar fortemente possuir uma Xbox One. Não ao ponto de a comprar já, mas provavelmente de comprá-la em final de vida, mais acessível e poder finalmente experimentar esses três aclamados exclusivos ainda em desenvolvimento. Falo de Sea of Thieves, Scalebound e Recore, três jogos que ainda hoje, quase duas semanas passadas desta E3, continuam a manter-me o mesmo nível de interesse em jogá-los, e por não ser o maior dos curiosos com o cover shooting de Gears of War, estes são sem sombra de dúvida os jogos que mais espero nas plataformas da gigante norte-americana.
Como PC Gamer e como simples e amador crítico de videojogos, considerei que esta aposta da Microsoft em levar o gaming a sério para a sua outra plataforma, estrutura essa que não tem concorrência à altura, foi uma jogada de mestre. A Microsoft assume e reconhece a perda da batalha comercial desta geração para a Sony e decide recorrer a outra arma que tem, o Windows 10. E que arma esta diria eu, que alastra a abrangência hipotética dos exclusivos da Microsoft para números de unidades que ultrapassam largamente as suas competidoras.
E deixou-me feliz por perceber que a própria Microsoft reconheceu o potencial que o seu sistema operativo tem enquanto unidade de videojogos, e o grande número potencial de cópias de jogos que poderão vender. Uma jogada inteligente, fortuita, e que para regozijo de muitos de nós trará grandes exclusivos para o ambiente do PC. Mas…
Os pontos negativos
A Microsoft e a divisão interna que gere a marca Xbox sofre de demência. Quero com toda a força acreditar que seja patológica a razão que levou a companhia a tomar as decisões que vou referir em seguida, porque caso não seja essa a verdade então estamos perante uma das mais infelizes e irresponsáveis gestões de uma gigante dos videojogos dos últimos anos.
As empresas do meio têm uma gigantesca fatia dos seus lucros a chegarem pela venda de videojogos. Como referi acima, a Microsoft anunciar o crossplay para Win10 é uma maximização de potenciais compradores, mas também oferece a leitura óbvia do “atirar ao tapete” na luta com a PS4, admitindo a derrota e tentando ganhar espaço de mercado onde lhe for viável. Até aqui, parece-me que tudo é consensual.
Após esta decisão, literalmente um par de minutos depois, anunciar uma nova consola, 40% mais pequena é um tremendo sinal de demência comercial. Uma companhia não pode com a maior das evidências demonstrar a sua desistência num produto e minutos depois anunciar uma versão mais pequena desse mesmo produto. Quer dizer, poder, pode, é apenas de uma total imbecilidade de posicionamento de mercado.
Os meus colegas de debate reconheciam o valor de uma consola Slim, tal e qual aconteceu noutras gerações, onde o baixo preço aumentava o potencial número de compradores de uma plataforma. Algo com o qual eu obviamente tenho de concordar, mas que discordo na situação específica desta Conferência da E3: as consolas Slim traziam novos compradores para a marca, mas apenas porque aí estariam a maximizar as vendas dos seus jogos exclusivos da plataforma. Neste caso, a Microsoft anuncia uma consola Slim na esperança de ter mais vendas para a Xbox One enquanto marca, no momento em que alastra os exclusivos também para WIN10? Um terrível passo de marketing. E porquê?
E quem acaba por concordar com a minha opinião que a Microsoft matou à nascença as vendas da Xbox One Slim são os analistas da DFC, que estranham a tremenda confusão da Microsoft, que ao mesmo tempo que anunciam o Project Scorpio para o Natal de 2017 estão na prática a dizer aos possíveis compradores: “Têm aqui muita escolha, ou jogam os nossos jogos no vosso PC, ou podem esperar para ver o que é a NX e comprá-la, ou esperem ano e meio e comprem esta Xbox 4K. Ignorem a Slim por favor, que na prática não precisam dela.” Em negócios o segredo, como a máxima afirma, é a alma do negócio mas o timing demarca muito do que poderá ser o sucesso.
E agora?
Dentro do gigante corporativo que é a Microsoft, a zona empresarial afecta á Xbox e aos videojogos sempre me pareceu o parente coxo, aquele que vai de forma atabalhoada trilhando o seu caminho com algumas dificuldades. Estes sinais contraditórios, quase bipolares e dementes da Xbox demonstra o total caos e a falta de definição de objectivos que a sua casa deve estar a viver.
Pelo bem da sempre salutar concorrência do mercado, e a forma como ela permite o avanço entre concorrentes, acredito que o futuro dos videojogos necessita de uma Microsoft sólida nas suas decisões, coesa, e com um trajecto bem-definido. Algo que está a anos-luz da sequência de imbecilidades que Phil Spencer e a sua equipa têm pautado para a marca e que assumiu proporções atlânticas.
Valha-nos ter uma série de óptimos exclusivos a chegar também ao PC, que notoriamente nem a companhia está muito interessada em que compremos uma Xbox. Ou talvez esteja, e já não se lembre. Depende sempre do minuto em que o perguntamos.
https://www.youtube.com/watch?v=IUEV59dGP70