Idos (aparentemente) estão os tempos em que a britânica Rising Star Games tinha a composição quase integral do seu catálogo constituída por localizações de jogos que de outra forma nunca veriam a luz do Sol no Ocidente. Esses dias parecem passados, e depois de um par de anos de grandes apostas em óptimos jogos independentes como Kromaia, Poncho e Marvelous Miss Take, é a vez de mergulharmos nos mais recentes lançamentos da editora britânica.
Lumo, e a mão do Harry (Potter)
Houve uma tónica a definir a cena game dev na última metade da década de 1980, e que se contaminou pelo resto da Europa. Falamos é claro dos jogos de visão isométrica com tridimensionalidade forçada, como Head over Heels, Alien 8 e Knight Lore. Este ambiente foi facilmente encontrado até no Game Boy e na NES, ou de uma forma um pouco mais evoluída com a tentativa tridimensional que foi Sonic 3D.
O criador de Lumo deve ter uma idade próxima da nossa e toda a imagética que circunda este estilo que fez parte da nossa infância é algo que o inspira. E percebe-se todo esse período de há quase trinta anos em cada momento de Lumo, um jogo classicamente familiar, e ao mesmo tão inegavelmente actual, num cruzamento entre aquilo que jogámos em pequenos e aquilo que jogamos hoje.
Lumo constitui-se com uma série de salas isométricas com puzzles para resolver, com chaves para apanhar, onde temos de aprender uma série de habilidades que inclui a mais elementar – saltar – tornando-se num dos jogos de plataformas mais desafiadoramente deliciosos que pudemos experimentar nos dias de hoje.
Com imensas referências e memórias do ZX Spectrum (o que inclui alguns periféricos que temos de encontrar da famosa plataforma), Lumo é acima de tudo um jogo indie para os saudosistas com uma tremenda vontade de voltar aos jogos de plataformas isométricas de outrora mas com um toque actual.
https://www.youtube.com/watch?v=rI5TmdnEUcQ
I want to be Human, e o desespero de alguns
I want to be Human é uma frase que poderia ser facilmente um desabafo do Trump ou de qualquer um dos xenófobos populistas que têm perigosamente ganho apoiantes e tempo de antena nos últimos anos. Ou um exaspero daquele vampiro mórmon que brilha ao Sol cujo nome não me lembro.
Outra pergunta que poderíamos fazer – neste período em que o Inafune e tantos outros andam a clonar o Mega Man como uma rede mafioso clona cartões multibanco – seria “o que aconteceria se conseguíssemos fazer algo do género mas em que a protagonista é transformada em vampira e o seu namorado num chapéu”? É uma pergunta estranha, mas é exactamente este o enredo de I want to be Human, um conceito estranho de uma vampira que luta contra uma corporação maligna para transformar o amor da sua vida novamente em humano. O que resulta numa história de amor mais bonita do que o Twilight.
O resultado é um action platformer clássico com alguns laivos de bullet hell, já que vamos estar de forma quase incessante a desviar-nos das muitas balas que nos são enviadas em todo o ambiente preto, branco e vermelho que compõe todo o jogo.
O humor estranho e o quase surrealismo do conceito prometem algo interessante, mas depois de algumas dezenas de minutos a jogar acho que o jogo poderá dar um passo em frente se os developers cuidarem de melhor forma nos controlos algo perros que existem hoje. E cumprido isso temos um bom jogo do género a um preço simpático à nossa espera.