Com todo o conhecimento religioso não-crente que possuo somado ao mítico personagem inimigo dos X-Men que me acompanha desde a adolescência, é difícil não ter o reflexo pavloviano de associar directamente o Apocalipse à banda de Matthew Bellamy e à minha música favorita dos Muse.
Esta semana o fio condutor dos três jogos indie que trazemos são o fim-do-mundo, o colapso da existência, o Depois do Adeus do Paulo de Carvalho se esta fosse uma música pós-apocalíptica e não uma melodia revolucionária.
Aegis of Earth, a História do Cerco de Lisboa
O ambiente não podia ser mais nipónico: depois de uma série de invasões de criaturas gigantes à cidade onde decorre o jogo, com ataques que gritam ajuda de mechas e/ou Super Sentai por todos os lados temos Aegis of Earth: Protonovus Assault, que tem, ou tinha quase tudo para ser um excelente twist aos tower defenses.
Aegis of Earth, na PS4, é mais do que um tower defense, é um city defense que que a própria cidade é o elemento defensivo e o elemento ofensivo. A cidade foi construída numa sequência de circunferências-carris móveis que permitem diversas rotações concêntricas. E é a partir deste conceito quase shoot’em up que vamos destruindo vagas inteiras de invasores, enquanto redireccionamos os canhões colocados em carris distintos para cobrir o máximo de área defensivamente.
Com uma jogabilidade simples, Aegis of Earth decidiu trazer uma abordagem muito próxima de muitos jogos nipónicos, com um elenco imenso de personagens que não poderiam ser mais anime-esq nem que quisessem, com milhares de linhas de diálogo entre eles.
Infelizmente a monotonia que pauta jogo acaba por definir aquilo que poderia ser uma excelente visão sobre o género, mas que falhou ao tentá-lo.
Wanda: a prima do Wall-E
Facilmente conseguimos menosprezar um jogo pelo seu aspecto mais simples, ignorando a dimensão conceptual, narrativa e até mecânica. No caso de Wanda: a Beautiful Apocalypse é exactamente isso que acontece, em que os primeiros “mergulhos” no jogo nos fazem sentir um ambiente perfeitamente coeso e mais do que obviamente inspirados no genial filme Wall-E.
Em Wanda seguimos os passos de dois robots solitários no pós apocalipse a tentarem perceber o que se passou para causar do fim do mundo. É curioso que existe uma tremenda paixão e humanismo, polvilhados com muita tristeza à medida que vamos desenrolando a curta história que compõe este jogo.
Cedo percebemos que Wanda é acima de tudo uma história interactiva, longe da abordagem visual novel mas próxima do tom de resolução de puzzles das aventuras-gráficas. E é neste ritmo que passamos o pouco tempo que demora a terminar um dos indies mais subvalorizados que jogámos em muito tempo. E que mostra que nem sempre o burburinho é o anfitrião das melhores surpresas.
Buck para além da Cúpula do Trovão
Depois de uma campanha de sucesso de Kickstarter, Buck chegou finalmente a Early Access no Steam. Passado num futuro pós-adogtalytic como dizem os autores, este é dos jogos visualmente mais interessantes a chegarem ao mercado indie nos últimos tempos, a demonstra toda a força de uma linguagem visual herdada do cruzamento entre os comics e a BD franco-belga. O melhor dos rafeiros, podemos afirmar.
Buck é um metroidvania com ramificações narrativas, onde as interacções que vamos tendo com os diversos NPCs vão ditando o desenrolar da história deste literal mundo-cão. É curioso que apesar da temática não ter grande proximidade, sinto uma grande afinidade com um dos meus jogos favoritos dos 1990s: Full Throttle, e o protagonista deste Buck parece-me um cruzamento entre Ben e uma versão canina do Mad Max.
O combate traz-nos brilhantes sequências de combate em side scrolling augurando este Buck como um dos grandes metroidvanias do ano. Numa nota paralela: ironicamente, e depois de um ano como 2015 em que não passava nenhum mês em que não fosse lançado um jogo do género, este 2016 parece estar a mostrar outra tendência.
https://www.youtube.com/watch?v=1DWCXWcUehI