Quando vou à Nintendo admiro sempre a vista fantástica daquele escritório e aprecio acima de tudo a simpatia com que sou recebido, mas desde dia 5 de Julho de 2016, e com o maior respeito ao Senhor Jorge, há algo que estabeleceu um novo standard máximo de qualidade nessas visitas, e essa é a vista que temos do topo do Temple of Time, em The Legend of Zelda – Breath of the Wild.
Tive o privilégio de poder testar Breath of the Wild e como fã incondicional de Legend of Zelda, as minhas expectativas para o jogo eram de 11 numa escala de 0-10. Depois de ter testado uma demo, ter jogado o início oficial e ter visto uma apresentação de uma fase mais avançada do jogo dou-lhe 32, numa escala de 0-5.
“Eh… olha lá o exagero! Devem ter-te pago pouco para dizeres isso!” – Irão afirmar alguns.
Opiniões valem o que valem, e podem argumentar o que quiserem com ou sem conhecimento de causa. Podem justificar melhor ou pior, com mais ou menos fanboyismo a favor ou contra, mas para mim, e da forma mais isenta que consigo, afirmo já o seguinte: pelo que joguei, é perfeito.
Ou melhor, é tão perfeito quanto um jogo pode ser nos dias de hoje com a tecnologia actual. Não estou a falar de gráficos HD e resoluções, porque isso não é o que um jogo é, é o que faz um jogo, um componente, é uma de várias peças: gráficos, sons, inteligência artificial são o que fazem o jogo.
Em termos técnicos vários jogos foram considerados perfeitos na sua época (curiosamente vários são da Nintendo) não porque criavam algo novo, mas porque combinavam o que de melhor existia em várias outros e melhorava esses componentes. Um bom exemplo disso é outro The Legend of Zelda, The Ocarina of Time. Apesar de lhe ser dado o crédito de vários avanços tecnológicos na sua altura como por exemplo o Z-Lock (ou L-Lock, nos comandos actuais), não foi propriamente criado pela Nintendo, mas foi a Nintendo que tornou isso funcional e prático. Ocarina of Time é um jogo excelente porque pegou em tudo o que havia de bom em vários jogos e juntou-os da melhor maneira.
Todos esses factores fazem um jogo, mas o que o jogo É, o que ele realmente É, é a emoção que ele dá, é sentimento que ele aperta, é aquele momento que nos toca na alma e faz arrepiar a pele, e isso é Breath of the Wild.
É isso que faz de Breath of the Wild o melhor jogo em que alguma vez toquei. Não tem nada que nunca tenha sido já visto tentarem fazer num ou noutro jogo, simplesmente combina tudo num só, mas melhor. É um todo exageradamente superior à soma das suas partes.
A coisa mais curiosa de Breath of Wild é que é difícil falar sobre ele devido à sua escala. E não é só a questão do mapa gigantesco que ele tem, é uma questão de opções.
Tudo é possível desde que respeite duas leis: as da física e as da lógica. Fogo queima. Queima os nossos inimigos, mas também queima árvores e erva, e a nossa roupa, mas apaga-se com água e é influenciado pelo vento. Flechas fazem uma parábola sob o efeito gravitacional e do vento. Armas e escudos partem, mas tudo, até um galho pode ser uma arma. Link tem stamina. Correr, lutar, escalar uma montanha, acaba a energia acaba o movimento, o que pode ser complicado no meio de uma escalada. Até a inclinação da rocha influencia a velocidade com que se perde essa energia. Permite-nos viver num mundo de fantasia de uma forma quase real.
Este jogo é em open world mas ao contrário de outros jogos com a mesma categoria tudo está mesmo ao nosso alcance, desde que se pense como e quando o queremos fazer. Não há nenhum local inalcançável em altura nenhuma do jogo, nem um caminho fixo para lá chegar. Se olharmos para o pico de uma torre, quase imperceptível no horizonte, podemos lá chegar, com vontade e engenho. Montanhas podem ser escaladas (todas elas) ou então podemos andar à volta até encontrar um caminho, rios podem ser atravessados a nado ou com auxilio de objectos, inimigos podem ser derrotados de várias maneiras. Todas as opções são válidas, não há certo ou errado, há a nossa maneira, e cada um de nós vai mesmo ter a sua maneira, a sua própria resolução de cada coisa. Nenhum outro jogo permite fazer isso.
A parte mais importante de Breath of the Wild é ser novo, ser diferente. Ao mesmo tempo não deixa de ser um Legend of Zelda. Eu tenho um passaporte português, mas eu cresci em Hyrule, e jogar Breath of the Wild foi como voltar para casa como adulto, depois de estar anos emigrado. Tudo é maior, tudo é diferente, mas tudo é calorosamente familiar. A imagem é semelhante a Skyward Sword mas com uma qualidade superior, a jogabilidade é a de Ocarina of Time mas melhor, o mapa livre lembra o de Legend of Zelda (original) mas gigantescamente maior. (Para quem nunca jogou, ou para aqueles que dizem ter jogado para não parecer mal mas nunca lhe tocaram, no jogo original tudo era acessível desde o primeiro minuto, ao contrário da formula mais recente que envolve ir ao ponto A, encontrar um objecto, utilizar o objecto para chegar ao ponto B e derrotar o Boss, e repetir mas com objectos novos.) No jogo original podíamos ir a qualquer lado logo do arranque. Podíamos também não estar preparados para ir a esse local, mas nada nos impedia de o fazer se quiséssemos. Breath of the Wild repete essa fórmula dá-nos liberdade.
Eu podia estar aqui horas a escrever sobre pormenores técnicos ou da história do jogo como muitos vão fazer, mas não. Se há algo que percebi é que Breath of the Wild é um jogo para ser explorado, e quanto menos pormenores forem divulgados sobre ele, mais vamos nos apaixonar. Eu tenho a certeza que Legend of Zelda – Breath of the Wild vai merecer o título de jogo do ano quando sair. Provavelmente jogo da década. Vai merecer, mas possivelmente não vai receber por ser um jogo da Nintendo, “mais um” Legend of Zelda, mas garanto que com outro nome, ninguém teria dúvidas do seu valor.
Breath of the Wild é um jogo pelo qual já esperámos bastante, já atrasou imenso, mas tendo jogado o que joguei, percebo o porquê dos atrasos. O jogo está a ser aperfeiçoado, para quando for lançado não ter a mínima falha. E por isso digo isto do fundo do coração, de alguém que usa Legend of Zelda à flor da pele como uma medalha:
Demorem o que acharem necessário, se esta amostra é um exemplo. Vai valer totalmente a pena!