Ainda estamos todos bêbados de euforia. Há menos de vinte horas que a Selecção Portuguesa conseguiu algo que parecia altamente improvável: vencer o EURO 2016. Mas isto é um pouco redundante de dizer, é impossível que alguém não tenha sabido disso pelo mundo fora em especial os portugueses. E antes que me esqueça, e para a posteridade: VIVA PORTUGAL!

Acalmados os ímpetos de adepto, e ressurgido o crítico de videojogos, a semana passada voltámos a encontrar-nos com uma das nossas diversões de infância: o Kick Off, ou lá o que é isto que o histórico Dino Dini decidiu lançar.

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Kick Off nunca foi o Ronaldo das nossas paixões, e esteve sempre mais para Nani. Todos gostávamos mais de Sensible Soccer, que era o melhor dos melhores, e tinha a classe e a qualidade que quem se senta no topo. Kick Off era o nosso Nani, sempre sob a sombra de CR7 mas a seguir-lhe as pisadas e a dar-nos muitas e muitas alegrias.

Quando Dino Dini anunciou este Kick Off Revival, muitos jogadores (como eu) gritaram de alegria. Num mercado dominado por completo por jogos que tentam aproximar o mais possível a experiência do real, com FIFA e PES a impedirem que haja espaço para qualquer série florescer, foi recebido com alegria um ponto de vista mais clássico aos desportos do género.

Kick Off Revival é um festival de nostalgia tornado azedo. Voltar a jogar em vista aérea com o campo ao alto (ponto de vista que o RPG de futebol da Level 5, o Inazuma Eleven, tão bem resgatou), com uma jogabilidade tão simples que literalmente só precisamos de um botão para fazer tudo. E é aqui que o problema começa.

Quando comecei a escrever este artigo ele chamava-se “jogar à Benfica”, mas depois de ter visto a forma como os jogadores franceses jogaram ontem sem qualquer tipo de punição. Mas hoje não é dia para estatísticas clubísticas nem para relembrar os mais de 12 meses que o clube da Luz esteve sem levar cartões vermelhos ou ter penalties contra.

Dino Dini tomou decisões estranhas que para mim, destruíram por completo a experiência do que é o Kick Off e o que deveria ser um jogo de futebol em 2016 a piscar o olho à nostalgia. Dino decidiu retirar a aplicação de cartões aos jogadores e também o fora de jogo, resultando numa amálgama estranha do que deveria ser o futebol. Ainda que os espectaculares e tradicionais carrinhos em que os nossos personagens quase que deslizam um quarto do campo para fazer possam soar uma maravilha, o facto de não haverem substituições, lesões, cansaço, punições ou qualquer outra regra que existia nos jogos mais antigos soa, ironicamente, a retrocesso.

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Dino firmou recentemente que esta decisão de despir o jogo destes elementos funcionou para torná-lo mais simples. O que é desconexo com o próprio jogo, já que a aparente simplicidade de controlar tudo com o botão resulta num dos jogos de futebol mais complicados de sempre.

A bola não se “cola” aos pés dos jogadores, e rapidamente sentimos que estamos quase a jogar ao berlinde pelo campo. Rematar é uma ciência oculta que parece requerer uma grande dose de misticismo para funcionar. Passar a bola a mesma coisa, mas com menos misticismo, e premindo um botão apenas.

Dino Dini’s Kick Off Revival, este exclusivo da PS4 que vem beber das nossas memórias faz tudo mal. Há uma certa demência no próprio jogo que se esquece de tudo o que fez de bem há mais de vinte anos e decide dar alguns passos atrás, tornando-se uma das piores experiências de futebol dos últimos anos.

E como espécie de jogo não-oficial do EURO 2016 (que nós ganhámos, para quem não se lembra) há um único ponto positivo neste jogo: os nomes não-licenciados dos jogadores, que nos lembram outros tempos. Jogarmos com a Selecção Portuguesa (essa que é campeã da Europa) e contar com jogadores como Nanny, Cédreek, Ruis Patríarc, Adrian Selva e Joãu Merio, é a única nota positiva deste jogo.