Monster Hunter é um daqueles famosos casos com que nos deparamos na indústria onde não existe um meio-termo; ou se odeia, ou se adora. Talvez seja o grind e dificuldade excessiva, fator que obriga a repetir por vezes mais de 10 vezes o mesmo combate face a um gigantesco Brachydios; talvez pela ausência de história ou até mesmo, talvez, pela falta de alicerces e introdução de apoio ao jogador de forma a facilitar a sua jornada ao longo de campos desolados e florestas verdejantes.
Foi em 2005 que fui apresentado a este mundo de caça monumental, através de uma pequena demo que vinha juntamente com Devil May Cry 3, e desde ai que fui acompanhando a série, mesmo que à distância. A verdade é que este mesmo conceito nunca foi muito apreciado pelos jogadores europeus, mas talvez pelo surgimento de uma certa série que conta em parte com a mesma estrutura – Dark Souls, cough cough – já começa a ser mais aceitável experienciar algo como MH, prova disso foi a fantástica receção de Monster Hunter 4 Ultimate no ano passado, tendo feito a excelente escolha de adotar a Nintendo 3DS como plataforma de eleição. Agora, com Monster Hunter Generations, voltamos a saudar Palicos e aldeões, partindo vila fora para novas caçadas.
Depois do golpe de alegria que enfrentei o ano passado com este RPG, encontrava-me ansioso para descobrir se este ano de diferença entre títulos viria a suscitar-me novos momentos de dificuldade e superação, momentos que deixam qualquer jogador leve e com um sentimento de missão comprida. O grind para a criação da armadura ideal, as mil e uma potions utilizadas durante combates, os 30 minutos de bailado entre zona 3 e zona 5 sempre atrás do nosso alvo ou vice-versa, são aspetos que tornam um conceito tão simples, tão básico, em algo viciante. Acabamos por querer sempre mais, maior, melhor, uma experiência que quando aliada a mais amigos de sala se torna num frenesim de emoções e estratagemas. Esta é a magia presente em Monster Hunter e foi por isso que quis imediatamente agarrar com garras e presas este novo título.
No que toca à história e aos pontos aprendizagem, estes são fracos, muito distantes do que ocorreu no título anterior. A informação encontra-se dispersa ao longo das cinco aldeias desbloqueados logo de início, tornando-se uma dor de cabeça para estreantes. Outro ponto negativo é o facto de todas estas aldeias serem recicladas de Monster Hunter Portable 3rd, tornando-se desapontante, depois da nova e arrebatadora aventura com que contamos em Monster Hunter 4 Ultimate.
Contudo, existe algo novo, algo que introduz uma mudança de impacto na série, expandindo a personalização e estilo de jogo para novos horizontes. Os Hunting Styles e respetivos Hunter Arts possibilitam que cada caçador utilize poderes especiais capazes de alterar o rumo da batalha a seu favor. Guild, Striker, Aerial e Adept são os quatro estilos de jogo que têm ao vosso dispor, tendo de escolher o que apreciam mais. Para além destas novas artimanhas de combate contamos com algo mais cómico e igualmente mortífero para se aliarem na nossa cruzada, os Palicos, que permanecem com habilidades únicas e que desta vez garantem a possibilidade ao jogador de assumir a pele de um adorável gato guerreiro.
As missões tal como no passado encontram-se separadas por níveis, possuindo como principal novidade a obrigatoriedade de envergar nas caçadas sob o pelo de um dos nossos Palicos. É engraçado ver um gato a correr sem se cansar, a utilizar uma picareta do seu tamanho para extrair minerais e, ironia das ironias, usar uma cana de pesca para apanhar peixes encurralados num pequeno lago. É uma lufada de ar fresco que nos faz desligar um pouco das caçadas, mas que acaba por ser algo desnecessário e desconectado do propósito do jogo, um pouco como as missões em que nos mandam apanhar cogumelos. Apanha 20 Herbs (e não, não são daquelas “ervas” especiais), mata 20 insetos (é tempo de ter respeito pelos mais pequenos, atenciosamente, traça do Euro), mata um dragão gigante cuspidor de raios (ei lá, agora sim estão a falar a minha língua).
O nosso objetivo é simples; aventurarmo-nos em busca de múltiplas criaturas, usar as peles, escamas, dentes, ossos e qualquer outra órgão ou membro que faça parte da anatomia do monstro, e por fim, usar esses mesmos materiais para a conceção de armaduras e armas que ajudarão a enfrentar bosses de maior dificuldade, e assim sucessivamente. No final estarão com majestosas armaduras e armas que mais se adequam ao vosso estilo de combate preferido.
Nesse aspeto, Generations é o expoente máximo da série, repleto de grandes monstros do passado como Zinogre, Tigrex e até a dupla de Monster Hunter 4, Gore Magala e Seregios, existindo ainda um quarteto de novos e excitantes criaturas que são o pináculo deste título. Mizutsune, Altalos, Gammoth e Glavenus, todos eles com diferentes fisionomias e elementos, oferecem alguns dos melhores combates alguma vez vistos na série, obrigando a que se volte a programar e alterar a forma como enfrentamos estes novos inquilinos. O caso de Glavenus é sem dúvida o mais atrativo de se falar, um imponente T-Rex com uma cortante cauda metálica, capaz de ser afiada e aquecida ao passar pela boca. Um combate agressivo e fervoroso, contra a versão on foot da mascote da série, Rathalos.
Mas é o multiplayer que unifica todos os elementos mencionados em cima, o modo de jogo de eleição partilhado com outros 3 jogadores. Uma experiência intima e não solitária, sendo algo cómico ver 4 personagens a correr que nem baratas tontas, todos eles prestes a morrer às presas de um Dalamadur, em busca de um ponto seguro de forma emborcar a 15º Mega Potion. Ainda assim não tive muitas oportunidades de me aliar a outros companheiros (tu sabes quem és) uma vez que o número de jogadores nos servidores europeus é limitado, algo que vai mudar já no próximo dia 15. Por isso caso estejam dispostos fazer frente a todos estes monstros e criaturas, façam-no em grupo, de preferência com amigos, e assistam a combates alucinantes e desgastantes.
Monster Hunter Generations não reinventa a fórmula e acaba por andar alguns passos para trás a nível de história e introdução à série, mas contribui com os Hunting Styles, oferecendo um certo brilho e fluidez aos combates, juntamente com uma excelente seleção de monstros, armas e armaduras para todos gostos. Desejo ver algo melhor no próximo ano e quiçá até mesmo o regresso a uma plataforma caseira – NX wink wink nudge nudge. Por isso já sabem, peguem na vossa 3DS, reúnam-se com mais amigos, embainhem a vossa espada, machado ou Insect Glaive e preparem-se para rodopios, sprints e atordoamentos em viciantes combates capazes de vos prender durante horas e horas a fim, digo por experiência própria.
PS: O raio do jogo já me tirou mais de 100 horas da minha vida e ainda não saiu, agora até logo que tenho um Fatalis para matar.