Na 2ª feira foi publicada a minha análise a Out There Chronicles, e como as 3.83 pessoas que lêem os meus artigos sabem, eu faço a avaliação final dos jogos pelo seu valor comercial, ou seja se valem o preço que pedem por eles. Quando quis dar a “nota” a este jogo estive na dúvida, porque acho que a minha mente não avançou com os tempos em algumas coisas, em particular com as vendas digitais.

Out There Chronicles custa €3.09 na Play Store. E eu não sabia se havia de o “classificar” como algo que valia esse preço especialmente porque é uma BD interactiva que depois de jogar uma a duas vezes nunca mais lhe iria tocar. Quando vi que era apenas o primeiro episódio então estava quase decidido. Mas depois comecei a pensar na quantidade de BDs em formato físico que comprei pelo mesmo valor e nunca mais toquei, e jogos também…

Eu venho de uma geração de jogadores em que os jogos de consolas eram caros, se adaptar o preço da minha primeira NES e os jogos que tinha com a inflação possivelmente seria mais cara que uma PS4 hoje, estou a supor, não me apetece fazer contas. Lembro-me que custava cerca de 40 contos, e os jogos eram por volta dos 6 contos se não me falha a memória. Mesmo para PC, tirando a óbvia pirataria quase legal que existia na altura e já foi aqui falada várias vezes, os jogos eram caros. Mas tinham algo que parecia dar-lhes mais valor que era a sua forma física.

Baldur's Gate

Existem benefícios e malefícios da venda digital na indústria de videojogos, mas esse não é o propósito deste artigo, o propósito é como as nossas mentes se adaptaram, ou não, a esse veículo.

Olhem para a vossa colecção no Steam, ou nas contas digitais das vossas consolas, quanto dinheiro têm lá “investido”? Dezenas de euros? Centenas? Milhares? Qual é o valor da vossa colecção de jogos? É obvio que é mais prático poder instalar os meus jogos onde eu quiser e quando quiser (desde que tenha uma ligação à internet, mas isso são outras conversas) sem ter que acartar com caixas de CDs e DVDs para a frente e para trás.

CD Case

Mas podemos mesmo dar um valor monetário real a algo tão efémero como um jogo digital? Quando compramos um jogo online por €40 ou €50 e cinco anos depois o encontramos num bundle de 1€ com mais sete ou oito jogos? Há outras coisas efémeras que são caras, e nos dão apenas um prazer imediato, um bilhete de cinema ou teatro, beber um copo com amigos, um bom jantar… E fumar? Isso é literalmente queimar dinheiro numa efemeridade mas é um vicio físico, já o jogo digital é difícil explicar.

Exercício hipotético: A vossa colecção de jogos Steam vale €1700. Expliquem isso aos vossos pais, avós ou cônjuges que não são adeptos de videojogos. Vão lá, eu espero…

Não é fácil pois não?

Este é o meu problema com jogos digitais e BD interactivas (ou não) eu percebo o seu valor mas há uma parte da minha mente que diz que não entende.

Já andámos bastante desde 1988 quando esta tecnologia foi “criada” por Gary Ross e Anne Spielberg, mas a sua banda desenhada interactiva no filme Big acabou por se tornar uma realidade, apesar das criticas que recebeu no argumento, e Out There Chronicles é apenas um exemplo disso mesmo. Não custa $7 a fazer nem é vendido por $18.95, mas não está longe disse. Paul Davenport (personagem do vídeo acima) massacra o personagem de Tom Hanks dizendo que não entende como alguém iria pagar tanto por uma BD digital, contudo estamos a fazê-lo, eu, vocês 3.83, e todos os outros. Paul estava errado…

Talvez seja eu que que fiquei preso nos anos 80/90, ou talvez seja a minha crescente insatisfação num mundo em que cada vez mais horas de trabalho têm menos para mostrar o esforço e o cansaço das pessoas que o fazem.

Se calhar são os meus sonhos analógicos num mundo cada vez mais virtual.

A questão final deste artigo a que eu não respondo é: se gastarem €500 em jogos digitais , e €500 em jogos fisicos que estão na prateleira de uma estante lá de casa, têm valor igual?

Não sei, sei que preciso de algo infantil neste momento.

https://www.youtube.com/watch?v=0Yu62StlsMY