Sinto-me preparado. Cerca de um mês e meio depois do seu lançamento oficial, sinto-me preparado para ter uma opinião sobre ele. Portanto, se, depois de lerem a minha antevisão e reacção à Open Beta, ficaram à espera do meu veredicto final, ei-lo: comprem!
Ok, obrigado e até à próxima. Beijinhos à família, boas férias e um feliz natal também.
O resumo é esse. Escusam de ler mais. Ou, se lerem, façam-no para tentar justificar alguma coisa, junto de alguém ou de vocês mesmos. Overwatch é um dos jogos do ano, indiscutivelmente. Pode ou não ser algo que se adeqúe ao vosso gosto mas, daqui a uns mesitos, figurará em virtualmente todas as listas com os jogos em destaque de 2016. Não é a melhor coisa desde a invenção das francesinhas nem é original como uma pasta de dentes com sabor a molho de francesinha… mas tem francesinhas, e isso é bom.
Overwatch assenta num princípio de Class-based First Person Shooter com laivos de MOBA. E isto podia ir já para uma t-shirt, estampada com a imagem de uma D.Va, com a frase por baixo. Visto por alguns (sobretudo pela própria comunidade de Team Fortress 2) como uma espécie de Team Fortress 3 – em que a Valve provavelmente nunca tocará, tamanha a sua aversão ao número 3 – Overwatch coloca duas equipas de 6 elementos frente a frente pelo domínio territorial de um mapa, pela captura de objectivos ou pelo ataque ou defesa de determinados pontos estratégicos.
Tendo como pano de fundo diversas cidades espalhadas pelo mundo, os mapas, com design futurista a roçar o minimalismo de tão clean que são, apresentam-se como o palco de sessões relativamente curtas de jogo com frentes de batalha normalmente bem definidas, com choke-points a canalizarem a acção principal da contenda. Digo principal porque há espaço para vários conflitos e mini-conflitos em cada altura do jogo, com flanqueadores a procurarem infiltrar-se e esgueirar-se através dos choke-points para tentarem flanquear e atacar as unidades de suporte e os soft-targets dos inimigos. Ou para alguém procurar um vantage point e dali tentar eliminar um alvo em específico, inacessível de outro ângulo. A diversidade de papéis a assumir no confronto encontra espelho também no número de personagens. Há, de momento, 21 personagens jogáveis (com uma vigésima segunda já anunciada e devidamente apresentada), divididas por 4 papéis diferentes: Ofensivas, Defensivas, Tanques e Suportes. Embora isto não passem de sugestões e haja alguma flexibilidade, as unidades ofensivas estarão, à partida, encarregues de reconhecimento, flanqueamento e ataque aos objectivos. As unidades defensivas serão mais úteis para defender pontos, criar kill-boxes ou negar determinadas áreas ou trajectos. Os tanques servem sobretudo para proteger os aliados – dando literalmente o corpo às balas – e para desestabilizar os inimigos, atraindo o seu fogo ou obrigando-os a reposicionar-se. Por último, as unidades de suporte focar-se-ão mais na cura ou melhoria das habilidades dos aliados, sendo que, tratando-se de unidades menos boas no 1v1, são unidades perfeitas para nivelar a balança de uma batalha a nosso favor. Mas isto, como disse, são apenas pinceladas largas em papéis-padrão que nem sequer são propriamente adequadas. A Symmetra, por exemplo, figurando no grupo dos Suportes, pouco faz para melhorar directamente os seus aliados, funcionando mais como apoio à defesa de posições, ao ataque a um objectivo distante ou à negação de áreas ou trajectos aos inimigos. No fundo, são mais sugestões de utilização do que limitações impostas. Ou não fosse o defensivo Torbjorn uma boa escolha quando o objectivo é atacar, com a sua Turret, normalmente defensiva, a ser uma arma ofensiva poderosa quando colocada em cima do veículo a escoltar ou, já agora, dando uma ajudinha em jeito de suporte providenciando Armor aos seus aliados.
Tendo apenas isto em conta, Overwatch já é um grande jogo, proporcionando momentos muito satisfatórios em sessões de jogo bite-size, um pouco para todos os gostos. Claro que, a bem da competitividade, por muito que vos apeteça ir dar uns tiros de sniper, não é ideal escolher um Hanzo ou uma Widowmaker quando já há 2 ou 3 na equipa, mas, regra geral, joguem com aquilo que vos aprouver jogar e a diversão estará mais ou menos garantida.
Mas Overwatch recusa-se a ser um mais um para o molho ou um joguinho efémero. As sementes para um jogo de pé fincado no chão para o futuro próximo já foram lançadas, com uma boa piscadela de olho à componente de eSports – já com os primeiros frutos a dar, diga-se – e com um sistema de microtransacções pronto para manter algum dinheiro a entrar durante uns tempos. De facto, Overwatch foi muito bem recebido pelo público e tornou-se notícia recentemente por ter destronado League of Legends como o jogo mais jogado na Coreia do Sul, o que não acontecia há alguns anos. E a nível competitivo, este mês e meio foi suficiente para ver Overwatch ultrapassar o número de torneios de jogos como League of Legends ou Dota 2, embora, naturalmente, com valores incomparavelmente inferiores em cima da mesa. Até à data, cerca de $120.000 foram distribuídos por 81 eventos, com dois deles a serem realizados cá em Portugal.
A aposta no lançamento de uma nova personagem, escassas semanas depois do lançamento do jogo, serviu também para manter a comunidade interessada e para ir levantando um pouco a ponta do véu no que a actualizações diz respeito: a Blizzard mostrou ter já na calha um conjunto de actualizações e mudanças que deixaram a recente comunidade a salivar alarvemente de antecipação. O facto de se mostrar receptiva às críticas, de ir dando feedback informando de mudanças e de projectos WIP é mais uma jogada de charme da Blizzard que perfuma o ar com feromonas, com banda sonora de Dick Jagger e meias de renda.
A recente introdução do modo competitivo, com uma tabela de rankings e com restrições já alinhavadas para o uso ou a troca de determinadas personagens, tem tido uma enorme aceitação por parte do público, sobretudo entre aqueles que pretendem evitar o caos dos jogos dos públicos e procuram um jogo mais organizado e orientado. A limitação de classes ou de personagens é um passo importante nesse sentido e a Blizzard já mostrou estar atenta a isso e a trabalhar para produzir uma experiência de jogo melhor para aqueles dispostos a tentar fazer do jogo algo mais que um passatempo casual.
Em todo caso, quer queiram apenas um jogo agradável para descontrair a despachar porrada velha com um Winston enraivecido, quer vistam um colete à prova de balas para enfrentar hordas de inimigos organizados, vociferando ordens em jargão militar ao microfone, para desespero dos vossos amigos, Overwatch é, como já foi dito, um título incontornável. Em 2016 e, perspectiva-se, nos próximos anos.