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ABZÛ – Desenvolvido pela Giant Squid Studios, publicado por 505 GAMES
Apróx. 3,4 minutos de leitura (250 wpm c/taxa de compreensão de 60%). Tempo recomendado a despender: 6 minutos (tempo do autor durante a revisão).

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ABZÛ é um bom pretexto para piadas fracas. Cá vai: “ABZÛ um jogo bué-da-fish!”

Depois deste pequeno momento de rebeldia (e de nos aperceber-mos que a pequena sereia tem Vevo), chegou o momento de dar a minha opinião sobre um jogo pelo qual esperei algum tempo. ABZÛ da Giant Squid, tem um aspecto familiar e é diferente de todas as experiências subaquáticas nos videojogos.

ABZÛ (1)

Se a sabedoria popular nos diz que o céu é o limite, então o mar é o limite inferior. Mas se há algo que os limites não nos permitem concluir é a panóplia de comportamentos abaixo ou acima deste, e note-se que abaixo ou acima não é mais que uma mera questão de perspectiva.

Matt Nava, o homem responsável pelo aspecto (arte conceptual, modelação 3D, etc) de Journey e Flower deixara a thatgamecompany em Março de 2012 para documentar a sua arte para a SCE e para dar aulas de Maya no colégio Otis, de Arte e Design e não foi até Março de 2013 que fundou o seu estúdio, a Giant Squid, para criar o título que falamos aqui hoje. Vindo de um jogo com um impacto indiscutível na indústria, seria de esperar algo no mínimo interessante, mas no final, o jogo não nada constantemente na mesma direcção.

ABZÛ (2)

A melhor forma de descrever ABZÛ é não descrever e ir jogar o Journey. No entanto, eis a minha tentativa: é um jogo na 3ª pessoa, narrativo (ainda que a exposição seja feita de forma não explícita e ambígua), em que a sua beleza está disponível através da exploração dos ambientes e do seu estilo artístico vincado. ABZÛ consiste em cerca de 6/7 níveis, sensivelmente o mesmo número que Journey, e, para minha infelicidade, quase os mesmos que o Journey. Há nove meses atrás dissequei levemente a estrutura narrativa desse jogo num artigo comparativo com Shadow of the Colossus e ABZÛ segue exactamente a mesma estrutura, ainda que a história seja substancialmente diferente. São indiscutivelmente jogos diferentes, e sim, The Hero’s Journey é dos arcos narrativos mais comuns da história, porém, e talvez nem seja culpa da equipa já que há tão pouco tempo para desenrolar toda a história (cerca de 3 horas), o meu subconsciente chateou-me o tempo todo com este facto. Talvez não seja intencional, mas as parecenças no desenrolar da história são completamente irrefutáveis. Esta história tem bons momentos, momentos ok e momentos que preferia não ter jogado por determinadas personagens não estarem solidamente estabelecidas, o que é uma enorme pena.

Os bons momentos retirados de ABZÛ são essencialmente extraídos do visual surpreendente deste jogo. Perco a conta à quantidade de peixe presente em cada screenshot, principalmente na presença de enormes cardumes que nadam em forma de toro e proporcionam diversão como eu nunca experienciei num videojogo. As animações são estupendas em todo e qualquer ponto do recreio subaquático deste jogo, trazendo toda a credibilidade do fundo do mar aos nossos televisores. Não conseguiria gabar o suficiente as animações deste jogo. Invejo-as, na verdade, e são incríveis de presenciar.

A banda sonora é espetacular. Extremamente adequada ao jogo e a cada um dos seus momentos, seja por sons de harpa ou hang drum, coros e orquestra. Infelizmente, a falta de um tema icónico reflete-se da forma esperada.

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O grande problema de ABZÛ é aquilo que começou por distingui-lo, logo que foi anunciado. Duas das dúvidas que sempre coloquei foi como fazer brilhar um jogo que se passa debaixo de água (e os tipos diferentes de luminosidades estão reduzidos) e como é que a Giant Squid tenciona ultrapassar um trauma histórico com os níveis subaquáticos. Quanto aos controlos, motivo de dor de cabeça para tantos outros jogos, bem, são os mesmos de sempre, apesar de refinados. Conseguem-se tornar cansativos, mas nadar também o é. Relativamente ao brilho, ABZÛ não tem o menor problema em se fazer notar e deixar uma boa impressão, no entanto, é complicado dizer que fica uma ideia clara de cada nível e ambiente do jogo, porque não fica. No meio de tanto peixe e tanta confusão, é essa a imagem que nos marca e apesar de ser uma marca competente e que descreve a qualidade associada a este jogo, é uma marca demasiado breve para tudo o que este jogo tem para oferecer, tanto de forma jogável como de diversidade de ambientes. E é uma pena que aquilo que o torna tão forte seja também o que o deixa tão para trás quando nos tentamos lembrar dele. Por um lado, Journey tinha o trabalho facilitado neste aspecto, devido à sua simplicidade.

ABZÛ (3)

Não acho que ABZÛ tenha sido uma oportunidade desperdiçada, antes pelo contrário. É um jogo recheado de bons momentos e proporciona uma boa experiência ao longo das suas três horas de jogo. Tal como outros jogos dentro deste género não é feito para ser jogado a correr, de alguém que foi socialmente educado a acabar jogos mais rápido que todos os amigos, e todos aqueles que procuram essa experiência deverão manter os seus 20€ no bolso. Para quem adorou Journey é uma compra segura, é um jogo com tanto mais a oferecer que este, mas por isso não tão brilhante. Disponível para PlayStation 4 e Steam.