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Urge a necessidade de explicar que cresci a ouvir a palavra “reinar” com um sentido muito popular, e bem diferente do significado habitual. Sintoma de uma família lisboeta republicana, reinar sempre foi usado como “estar a brincar”, como se essa fosse de facto a única coisa que a monarquia fosse capaz de fazer do ponto de vista governamental.

A segunda explicação prende-se com o meu quase total desconhecimento do que era o Tinder. A primeira vez que vi a aplicação a ser usada foi há um par de meses na inauguração do Log On Gaming Lounge em que uma das galinhas da nossa capoeira usava de forma casual a conhecida app de encontros, e mostrava o quanto dois gestos simples, swipe para a esquerda e para a direita, definiam tão bem a aplicação.
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É mais do que óbvio que esses gestos tão demarcadamente reconhecíveis no Tinder foram a base de inspiração para Reigns, um dos mais simples e mais carismáticos jogos mobile que tive a sorte de poder jogar este ano. O estúdio Nerial criou, através da respeitada chancela da Devolver criou um dos jogos do género choose your own adventures mais fáceis de mergulhar, e ao mesmo tempo mais desafiantes, com a morte a esperar, literalmente, em cada esquina.

Seguindo o tom quase obrigatório nos dias de hoje de ter de incluir a geração processual, Reigns é na realidade uma das suas melhores aplicações. Cada novo jogo é literalmente uma nova história, e um novo reinado que nós, o recém-coroado regente temos de viver.

Com um interface hiper-depurado, tudo o que nos é dito é que o segredo da longevidade consiste em manter equilibrados diversos factores, que neste caso surgem como 4 ícones distintos que representam o clero, o povo, os militares e a burguesia. Cada decisão que tomamos afecta um ou vários destes grupos sociais, enchendo ou vazando o seu ícone. A nossa morte surge se o desequilíbrio for alcançado e algum dos grupos sociais atingir o poder/influência total ou ficar completamente desprovido da mesma. Parece complicado? Mas não é.

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Reigns conta-nos a história do nosso reinado através de cartas, e as respostas às questões/situações que nos surgem são feitas com os habituais swipes para a esquerda ou para a direita do Tinder. Há uma praga e pedem-nos para colocar o molhe em quarentena? Podemos escolher o que fazer com as consequências que isso terá. Os militares pedem-nos para poderem ser juízes e executores? Há que medir as consequências da nossa resposta.

A arte minimalista encaixa bem no tom jocoso com que a história vai sendo contada. Por entre dezenas de mortes diferentes que vamos ter de procurar para ganhar o respectivo achievement, passando por duelos bem executados com truques e ataques que aprendemos a executar com os habituais swipes laterais, passando pelas dezenas de personagens que teremos de encontrar, que vão desde um bobo até a uma bruxa que nos amaldiçoará. A morte? Essa está sempre presente. Não é incomum que o nosso reinado dure apenas alguns anos, apenas para prosseguirmos a regência sob uma nova coroa e um novo nome, ao estilo de Rogue Legacy, mantendo alguns poderes, bênçãos e maldições para além das gerações subsequentes.

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Por 2,99€, Reigns é possivelmente um dos jogos mais descontraidamente divertidos de jogar nos dispositivos móveis. Foi uma grande companhia na minha parca semana de férias, e continua a ser um bom local para voltar para uma sessão curta de jogos.

Tem o entrave de, visto de fora, parecer que estão excessivamente entusiasmados com uma sessão de navegação do Tinder. Mas cada um sabe de si.