Attack on Titan Wings of Freedom (1)

Se Shingeki no Kyojin não lhe soa sequer familiar não estranhe. Attack on Titans é o nome pelo qual o anime baseado na obra homónima de Hajime Isayama tomou o mundo de assalto (trocadilho não-intencional) para além das barreiras expectáveis da comunidade Otaku.

O seu tom adulto, o ritmo narrativo quase ocidental e o estranho e misterioso setting acabaram por ser algumas das razões que deixaram muita gente verdadeiramente agarrada à primeira (e única temporada) do anime. E com um sucesso destes é normal que o passo óbvio seja a multi-exploração da franquia, desembocando graciosamente nos videojogos.

Attack on Titan Wings of Freedom (1)

De forma sucinta, Shingeki no Kyojin fala da sobrevivência da Humanidade numa era medievalística, em que uma série de criaturas gigantes humanóides ameaçam todos os seres humanos. Para criar defesa contra os Titãs, a Humanidade decidiu criar múltiplos sistema de muralhas gigantes concêntricas em torno das suas cidades como forma de criar protecções subsequentes para toda a urbe. E é claro, tratando-se de uma série de acção e fantasia, recrutar e treinar centenas de jovens para o exército de defesa da Humanidade, que se deslocam através de sistemas complexos de cabos ejectáveis que relembram, e muito, a forma de locomoção clássica do Homem-Aranha, derrotando as colossais criaturas através do seu único ponto fraco: um golpe certeiro na nuca.

Sendo este o grande ónus da acção, é normal que “movimento” seja a pedra basilar de todo o jogo. E conhecendo o requisito de proximidade com o original, um desafio difícil de resolver.

Attack on Titan Wings of Freedom (3)

Antes de mergulharmos neste Attack on Titan: Wings of Freedom, lançado hoje pela Koei Tecmo, regressemos uns anos antes, ao que sempre esperámos que fossem os jogos tridimensionais de Spiderman. O que as BDs com o qual crescemos nos imprimiram na mente, alicerçadas pelas diversas séries de animação, era uma sensação de quase total liberdade nessa movimentação urbana, abrindo o famoso herói ao seu habitat preferencial. Infelizmente, o resultado não foi bem esse, e parece-me que foi apenas com a Rocksteady e a sua brilhante franquia de Batman (possivelmente a melhor adaptação moderna de um super-herói aos videojogos) é que a problemática da locomoção estilo-Tarzan urbano foi resolvido. E é possível que seja graças aos muitos Arkham que hoje temos tecnicamente AoT: Wings of Freedom.

Wings of Freedom não é a primeira adaptação da série a videojogo que já joguei, mas é notoriamente o mais eficaz nesta tradução do original para jogo. Attack on Titan: Humanity in Chains, para a 3DS foi o primeiro que experimentei, mas onde se sentia uma tremenda deficiência e complicação em movimentar Eren, Mikasa e os restantes personagens pelos céus das cidades de AoT.

Wings of Freedom, ironicamente com o título, toma poucas liberdades narrativas. O enredo é aliás a sua maior corrente: as diversas missões, diálogos e cutscenes pouco mais são do que o recontar de todo o anime, o que para quem nunca conheceu a série serve de um brilhante momento de contar histórias, mas para quem conhece bem a série não fica livre de sucessivos pressionar do botão de “Skip”.

Attack on Titan Wings of Freedom (2)

Desenvolvido pelo estúdio Omega Force, que tem pautado dezenas de criações como adaptações de franquias famosas ao tom Warriors, o desafio presente no conceito de AoT não poderia, decerto, ser aplicado, porque seria demasiado estranho estarmos a derrotar milhares de titãs por nível.Conceptualmente, e fielmente seguidor da série original, os níveis acabam por ser pejados por “apenas” dezenas de titãs com tipos e dimensões distintos a preencherem todo o campo de batalha, quase quase sempre se reduz ao perímetro muralhado das cidades da série.

A locomoção, como disse, é do mais natural e mais honesto com o produto original, revelando acima de tudo um desafio técnico e mecânico soberbamente bem resolvidos. Intimamente ligado à movimentação típica de AoT está o combate, que segue todas as ideias-base da série. E é aí que cai o seu primeiro pecado.

Attack on Titan Wings of Freedom (4)

Todos nós estamos habituados a um ritmo de repetição surpreendente com os jogos Warriors. Não seria de esperar que mais um jogo que resvala a tónica e vive sob a chancela de AoT fosse diferente, mas toda a surpresa com a tremenda verosimilhança entre movimento e combate e o objecto original se esvaem passadas uma dezena de missões de estarmos, em rigor, a repetir exactamente os mesmos movimentos de nível para nível. Saltar de cabo em cabo, ajudar colegas-soldados, desmembrar Titãs e finalmente desferir-lhe um golpe na nuca, repetindo esta bela mas monótona dança ao longo de horas. E a surpresa da fidelidade de adaptação esvai-se pelo aborrecimento.

Attack on Titan: Wings of Freedom é sem dúvida a mais fiel adaptação à primeira season do anime que apaixonou milhões pelo mundo-fora, com a sua estética cel-shaded a mimetizar a animação tradicional a deixar-nos uma ânsia ainda maior pela chegada da segunda temporada da série, e com ela as respostas a muitas das nossas dúvidas. Uma adaptação eficaz e coesa mas que se esgota rapidamente para além do mérito técnico alcançado. Talvez seja um jogo apenas para fãs de Shingeki no Kyojin. Talvez. Mas pairará sempre a dúvida no ar, suspensa por cabos ejectados por mecanismos hidráulicos.

Attack on Titan: Wings of Freedom está disponível para PS3, PS Vita, Xbox One, PC e PS4. Analisada a versão de PS4 através de cópia disponibilizada pela distribuidora.