Caçada Semanal #38
Numa espécie de exorcismo interno para com um género que continua a ser mais presente do que necessário* no mercado dos videojogos, no dia em que publiquei um artigo sobre We Happy Few, o jogo que desejaria que fosse um FPS narrativo, decido arrumar de uma vez com dois outros jogos recebemos na última semana.
Acredito que os survival games na primeira pessoa que vão chegando já em conta-gotas às nossas mãos (em oposição à enxurrada do início do ano) seja já uma indicação que esta poderá ser o final da vaga de jogos que tentaram minar o filão dourado aberto por Minecraft, e posteriormente por Rust, Day-Z, HZN1 entre muitos outros jogos quase fac-símilados que nos têm ocupado a atenção. Muitas vezes, pelas piores razões.
Todos sabemos que é assim que o mercado funciona. Quando Street Fighter e Mortal Kombat vendiam como bolas de Berlim na praia (mas daquelas cujos vendedores têm licença), quase toda a gente quis produzir fighting games, até saírem resultados atrozes como Battle Monsters. O mesmo aconteceu com o sucesso de Age of Empires, Command & Conquer, Warcraft e Starcraft, com o mercado a ser inundado de jogos cujo interesse aproximava-se da média de QI dos participantes dos comícios do Trump. Os sandboxes são a ordem do dia, e estou mesmo à espera de um Tetris em mundo aberto para poder reformar-me da escrita sobre videojogos.
A enchente de survival games na primeira pessoa com temáticas pós-apocalípticas tomou proporções… apocalípticas? Acredito que um bom quiz para os grandes “especialistas” de videojogos e fervorosos defensores do género passaria por mostrar screenshots de uma série deles e obrigar os participantes a adivinhar de que jogo se trata.
Shadows of Kurgansk
Ultrapassando o meu problema inicial de ter reescrito o nome do jogo pelo menos 3 vezes até acertar, Shadows of Kurgansk foi lançado pela Gaijin, surpreendentemente**, em Early Access. Diria que o grande sintoma dos jogos de sobrevivência é que têm a sua primeira grande provação a tentar sair do buraco de Early Access onde usualmente entram, e de onde a maioria nunca consegue sair.
Com uma aura muito semelhante a STALKER (pelo menos numa abordagem superficial), em que vivemos numa área onde aconteceu algum desastre nuclear (quiçá num mundo onde o Trump ganhou as eleições (e com esta já falei duas vezes nessa pessoa)) e em que temos de sobreviver do perigo de seres anómalos que nos perseguem e que, sejamos sinceros, nos querem fazer mal.
O crafting é coeso e é até mais aprimorado e “sensato” do que muitos congéneres que parecem ter inspiração em MacGyver. O ambiente é de igual forma coeso e é suficiente para nos dar aquele arrepio na espinha que o Rockwell tão bem descrevia no Somebody’s Watching Me.
Mas o pior de Shadows of Kurgansk (consegui escrever à primeira)? É que continua a ser repetitivo e nesta fase de Early Access a adiantar pouco a um género que tem tanta concorrência inacabada, que a verdadeira sobrevivência é alcançar uma data de lançamento final. Ora perguntem a Stomping Land.
Of Kings and Men
Não é um survival game, mas é pertença de outro género que há dez anos tinha mais concorrentes do que malta a ir para reality shows da TVI. Of Kings and Men, em Early Access desde há poucas semanas é um MMO medieval em mundo aberto e persistente, que promete que as acções dos jogadores causam mesmo diferenças ao jogo. Mais ou menos o que prometia o Sean Murray, mas esperamos que com os pés bem assentes da terra medieval isto seja mesmo verdade.
Há muita inspiração em Warband, com a capacidade (e o incentivo) dos jogadores se unirem entre si para conseguir conquistar, atacar e defender territórios, permitindo que isto vá escrevendo a História de Of Kings and Men, com as suas tensões, traições, alianças, e claro, guerra.
É aliás na componente beligerante que Of Kings and Men mais brilha, sendo o combate o grande foco desta versão alpha do jogo. Com a possibilidade de batalhas que vão desde duelos até a guerras com 200 jogadores, há aqui muito clangor de espadas a ressoar por entre as muitas facções que já se vão embatendo no jogo.
A união com outros jogadores não passa apenas por andar com eles a espadeirar os adversários, mas também a unirem os machados como uma espécie de Sindicato do Paul Bunyan a recolherem recursos e a construírem as demarcações do seu território.
Nesta fase inicial os combates ainda parecem muito crus, com dezenas de personagens a correrem como um só, como teenagers a correrem para pedir um autógrafo do Justin Bieber, mas parece haver aqui algum potencial de desenvolvimento. E à semelhança de tantos jogos em Early Access, só nos resta esperar pelo que vai sair deste jogo.
https://www.youtube.com/watch?v=QWtinBnWZxM
* apenas porque grande parte dos jogos são fac-símiles entre si, e pouca inovação existe
** aviso de ironia