Eu sei que parece gralha, mas não é. Mas para dizer a verdade, tenho a plena consciência que se alguém me perguntar como se chama este objecto que estou a usar na cara neste preciso momento, e que me permite corrigir a minha miopia, eu sei que direi algo que soará a “óc’los”. E porquê? Porque esta circunstância é trazida pelo simples facto de que a quase totalidade da minha família de ambos os lados é lisboeta há pelo menos 150 anos. Aliás, corrigindo, “l’sboeta”, como eu pronuncio, do alto deste pseudo-sub-dialecto lisboeta desviado do dialecto estremenho.

okhlos-announcement

Mas passando a piada que tem de certeza pouca piada, o primeiro jogo da semana chama-se, precisamente Okhlos.

Desenvolvido pelo estúdio argentino Coffee Powered Machine, Okhlos traz-nos mais um sui generis simulador de multidões. Depois de termos jogado Anarcute e de estarmos ansiosamente à espera de Disobey e de Riot: Civil Unrest, é curioso que mais um jogo é lançado com o conceito de controlarmos um conjunto de pessoas a destruir tudo por onde passamos. Quase tão irónico como o facto de que este parece também o ano dos jogos de polícia. Estaremos a encontrar aqui um padrão?

Em Okhlos controlamos um filósofo (por entre vários) que vai pelo seu caminho recrutando pessoas para se juntarem à multidão revoltosa, e cujo único propósito é destruir o mundo tal como o conhecemos (entenda-se, na Grécia Antiga). Não é por isso de espantar que muitos dos nossos inimigos sejam parte da mitologia Clássica, numa leitura conceptual de que na prática estamos, murro após murro, a deitar por terra os alicerces religiosos da sociedade no caminho para o verdadeiro Humanismo. Ou isso, ou é apenas uma justificação para termos dezenas de homens e mulheres de togas a atacar deuses, faunos, centauros e outras conhecidas criaturas da Antiguidade.

okhlos

À semelhança de Anarcute, também aqui não controlamos individualmente a multidão, mas definimos com cliques o que queremos que façam, desde movimentar-se, mas passando, é claro, por desferir muita tareia, não só filosófica mas também literal.

Okhlos não é propriamente o jogo mais táctico ou complexo de sempre, e pelo meio de algum humor temos apenas de exercitar o dedo enquanto damos ordens à turba em fúria. O que nos deixa algum tempo e algum espaço para reflectir sobre as muitas linhas de pensamento Clássicas que os registos históricos nos deixaram.

A sério que temos tão pouco para pensar a jogar Okhlos que conseguimos fazer isso.