Exactamente há 3 anos (na data de escrita deste texto provavelmente publicado uns dias depois), eu e mais dois amigos íamos no nosso Renault 5 a caminho dos Alpes Austríacos enquanto participámos no Banger Rally, era outra vez o meu dia de conduzir e iríamos fazer o Passo di Stelvio, no dia anterior tínhamos viajado de Dunquerque até Nürburgring incluindo uma volta ao circuito e um pequeno desvio de mais de 100 kms porque nos apeteceu ir comer Waffles a Brugges. Durante quase duas semanas andámos de Lisboa à Cornualha e depois para Roma e de volta a Lisboa. Foi um passeio de carro com centenas de pessoas e um espírito de companheirismo incrível, e foi acima de tudo a minha actividade automobilística mais divertida de sempre.

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Faço esta introdução porque apesar de eu afirmar várias vezes que não gosto de conduzir, nem gosto muito de jogos de carros não é totalmente verdade. Ou melhor, é verdade, só não é em todas as situações, há alguns jogos de carros que eu gosto imenso e há situações em que eu adoro conduzir, se o carro e a estrada assim o permitirem. Andar no meio do trânsito com montes paragens, barulho, e um carro cheio de direcções assistidas e outros extras não me agrada nada, mas fazer estradas de montanha num R5 com volante assistido a braços já é outra conversa. Nem precisam de ir a mais de 50 km/h, é só olhar para o lado e ver a descida, para sentir a emoção.*

Isto porquê? Porque eu sou um fã de carros ou melhor, eu sou um fã de construção no seu expoente máximo, seja num objecto de carpintaria esculpida com o respeito que a madeira merece ou numa espada ou machado forjados até uma beleza de equilíbrio entre o indestrutível e o destruidor, ou em carros onde o que aparentemente inestético muitas vezes se torna belo pela sua performance e outras a performance é deixada de lado para a beleza, mas no caso dos que estão na longa lista de Forza Horizon 3 a ser lançado para a XBOX One dia 27 de Setembro, diria que 83% são belos e têm uma boa performance. Exactamente quais entram nessa percentagem vai variar de jogador para jogador.

https://youtu.be/vD1ccSM9qiA

No outro dia num pequeno rendezvous de galináceos comentámos o facto de eu ser um dos poucos que tem em casa uma XBOX One, e por essa razão óbvia quando são lançados exclusivos da Microsoft, eu é que tenho que comer a bomboca, mas há casos e casos, e apesar de ser obrigado a reconhecer as poucas vendas da marca na Europa em particular e Portugal no geral, também digo que se não tivesse uma e tivesse testado Forza Horizon 3 na de alguém ia sentir-me tentado a comprar a consola. Dito isto já sabem o caminho que este artigo vai seguir. Há muito para jogar, há muito para explorar. Portanto, caros companheiros de capoeira, o último a rir sou eu.

Um esclarecimento necessário é afirmar que isto não é Forza Motorsport 6 que no que diz respeito a condução em pista continua a estar no topo dos jogos de corrida, Forza Horizon 3 é mais um open world com missões, exploração, desafios, e carros. E também tem o seu quê de management, e a sua pitada de arte, e um pouco de loucura automobilística ou não fosse o seu local a Austrália.

Se não conhecem a Austrália ou os seus habitantes, vou-vos dizer já que se há coisa que os Ozzies adoram é carros, de tal maneira que entre as espécies autóctones da Oceânia estão o Canguru, o Koala e o Ute**, e quando uma nação tem um carro característico assim como há os Muscle Cars nos E.U.A., os Desportivos Japoneses, e a Casal Boss em Portugal, diz muito sobre o espirito automobilístico deles. Aliado aos terrenos extensos e variados é o habitat natural para um festival de adeptos de corrida.

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Em Forza Horizon 3, e ao contrário dos anteriores não participamos no festival, o Festival Horizon é nosso para comandar, para isso temos que levar um lindíssimo Lamborghini Centenario até ao local do festival passando por vários ambientes diferentes, desde estrada a floresta, deserto a praia como uma pequena montra do que o jogo tem para oferecer, para depois escolher o nosso avatar e tomar as rédeas de tudo o que se passa ali.

O jogo vai-nos ambientando quase sem deixar de ser um tutorial nas primeiras horas mas sem nunca o afirmar ser, consegue um óptimo equilíbrio de quem está a ensinar uma criança a andar de bicicleta sem rodinhas, e quando eles olham para trás nós largamos o banco para acreditarem que estão a equilibrar-se sozinhos. Vai aumentando os eventos em número e dificuldade, vai pedindo mais do jogador dentro dos mesmos, mas sem o deixar assoberbado na imensidão do território e na sua liberdade. Sim, porque o que há mais em Forza Horizon 3 é liberdade, estradas são opcionais quando temos enormes cenários abertos ao nosso alcance, e enquanto alguns se pudessem cansar de tanto espaço os developers conseguem que a exploração de territórios seja um desafio interessante.

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Ao contrário do seu irmão Motorsport 6 que se foca mais na simulação de pista, Horizon 3 é um jogo de estrada, é um jogo de convívio, é um jogo para brincar mas no bom sentido. Como ainda não saiu oficialmente não vou dar grande feedback sobre a componente social dele mesmo que grande parte do foco da Microsoft tenha sido aí, mas com apenas developers e outros jornalistas é difícil dizer mais do que é divertido e tem bastante potencial, e pode ser o que vai tornar o jogo memorável quando tiver todos os fãs ao mesmo tempo a jogar. Quanto ao resto, desde as corridas de circuito, às de corta mato, passando pelas de rua é tudo possível e é tudo viciante. Como controlamos o festival o seu valor de replay é enorme porque não estamos limitados aos desafios existentes, o modo Blueprint permite-nos criar os nossos próprios desafios aumentando exponencialmente o valor e durabilidade do jogo.

Os meus desafios favoritos são os que nos metem a vasculhar terrenos inóspitos para encontrar barracões onde há relíquias da história automóvel para adicionar à nossa colecção, porque isto é um jogo de carros e não podiamos ter só alguns de série na lista que é bastante apetitosa. Dos mais de 350 carros para desbloquear aqui temos Aston Martin, Ferrari, Lamborghini e outros habituais mas também o Audi 4, o Chevy Impala, o Renault 5 Turbo, o Lancia Delta Integrale e o Stratos, o Robin Reliant,e eu juro quando desbloqueei e comprei o meu Charger R/T com a pintura General Lee dei gritinhos como uma adolescente que viu os One Direction ao vivo.

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Forza Horizon 3 não é isento de falhas, os seus tempos de load às vezes são enormes especialmente o inicial para entrar no jogo sempre que o ligamos e já apanhei um ou outro bug menor, mas mesmo isso seria óptimo para os fãs de simulação de carros não fosse um pequeno grande senão. A equipa de desenvolvimento mexeu um pouco no motor da física (leis da mesma) do jogo para tornar a simulação mais leve, os saltos, os drifts e outros aspectos são ligeiramente mais exagerados o que causam que este jogo não vá agradar aos puritanos deixando de ser um simulador a 100% e ficando ali nos 71% simulação 29% arcade, o que para mim é o equilíbrio perfeito para este jogo. Não é uma simulação pura e dura, mas q.b.

De tal modo que para responder à pergunta se Forza Horizon 3 vale o que pedem por ele vou dar a mesma resposta que dei à minha senhora quando ela me perguntou ontem se eu continuava a jogar para escrever a análise ou se era porque eu gostava do jogo.

“Eh…”

Ou por outras palavras que quase me custam a escrever de tal maneira que isto vai contra todas as fibras do meu ser:

“Mas tu queres ver que um dos maiores cadidatos a Machado do Ano é um jogo de carros?

Mas que ******* se passa contigo, homem?”

Forza Horizon 3 tem um bónus acrescido que infelizmente ainda não consegui testar pois só vai estar disponível mais tarde. Está na linha de jogos da Microsoft que podem ser jogados em PC Windows 10 sem necessitar de uma cópia adicional. E se o jogo tem o aspecto que tem na consola, optimizado num bom PC deve dar para parar o carro de vez em quando e apenas observar as paisagens da Austrália.***

*Infelizmente após completar toda a prova até Roma, a nossa menina partiu o motor numa portagem em Marselha quando faziamos o regresso para casa, onde a deixamos numa sucata, foi doloroso mas ainda guarda um lugar especial nos nossos corações.

**Diz a história, que o coupé utility foi criado na Austrália e Nova Zelândia e montes de blá blá técnicos que o diferenciam da pick up que se quiserem saber vão procurar no Google e Wikipédia.

Sabendo eu que aquela zona é uma terra de machos escrito com macho maiúsculo devido à quantidade de animais e locais mortíferos, digo que foi criado por uns gajos que pensaram algo assim:

“Eu preciso de um carro de trabalho para carregar ferramentas e outras *****, também preciso de um carro bonito para engatar gajas, e quando não estou ocupado com essas duas coisas quero um carro rápido para ripar nas horas do ******* no deserto.”

Resultado: BOOM! Nasceu o Ute!

True Story

***Espero que o port seja bem feito e não como outro jogo que irei fazer o artigo em breve.