Caçada Semanal #39

Postalgia não existe enquanto palavra no léxico português. Acreditem em nós porque pesquisámos para além do wiktionary, e até fomos à mais recente edição do dicionário Huaiss confirmar. A palavra nostalgia aparece transformada apenas para garantir a aliteração e impedir que o título cause o acrónimo PPN, que soa a partido político manhoso com malta propositadamente careca.

É uma verdadeira lapaliçada lembrar que grande parte dos jogos indie que oportunamente nos têm chegado às mãos são filhos inspiracionais de muitos dos jogos que todos nós jogámos na nossa infância, e os muitos indie game devs a sofrer pela sua paixão por tantas garagens e casas dos pais por este mundo fora não são imunes a tão forte inspiração.

Esta semana trazemos por isso 3 jogos indie diferentes que reflectem mecânicas ou inspirações de jogos retro.

RunGunJumpGun

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Se há título que se descreve a si mesmo na perfeição é este RunGunJumpGun.

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O mais recente jogo do estúdio ThirtyThree Games traz-nos em simultâneo vários factores nostálgicos. Por um lado o visual altamente depurado que nos deixa a desejar pelas scanlines dos velhinhos CRTs. Por outro a utilização de apenas dois botões: um de tiro para a frente e outro que dispara para baixo e que nos permite dar um salto à medida que o personagem corre sempre para a direita. E por último serve como sofrida homenagem à dificuldade dos jogos antigos, que quase nos faziam puxar os cabelos, ou vá, amuar.

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Também à semelhança dos jogos antigos em que passámos porque fomos memorizando todos os padrões e as soluções dos puzzles e obstáculos que se colocavam no nosso caminho a alta velocidade (estou a olhar para ti nível insano do Battletoads que eu passei com dez anos mas que hoje não o consigo fazer). RunGunJumpGun leva-nos a morrer tantas vezes que mal damos por isso, tal é a velocidade com que reaparecemos. No segundo a seguir a morrermos estamos de regresso ao início do nível, de arma em punho, a correr em direcção ao lado direito do ecrã sem parar, como se as promoções do Pingo Doce estivessem novamente activas.

Um dos grandes jogos indie com um corpo e uma alma retro e que foi uma das surpresas desta rentree dentro da categoria “Jogos bons que são tão difíceis que quase que apetece largar o comando passados alguns minutos”.

https://www.youtube.com/watch?v=53PjRtfr_xY

Black Hole Hazard

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“Bem-vindos a 1992. Espero que estejam a gostar da década e fica o aviso de que ainda há muita laca e gel para por no cabelo.”

Podia ser com esta narração que uma voz robótica nos receberia nesse mundo neo-retro em que todos os jogos parecem ter sido deixados numa cápsula do tempo esquecida e apenas acordados agora. Como no Demolition Man mas em que as asneiras ainda não são crime e o Wesley Snipes ainda não deve uma fortuna ao Fisco.

Black Hole Hazard é um puzzle platformer criado pelo estúdio Superthumb cujo protagonista se chama Dr. Albert Armstrong.

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Lembrando todos os jogos de plataformas que jogámos em 8 e 16 bits, Black Hole Hazard coloca-nos nas mãos a difícil tarefa de progredir nos níveis controlando a propulsão da botija carregada às costas do bom Doutor.

Nada de novo, já tantas vezes jogado e rejogado que a desilusão poderia estar ao virar da esquina não fosse o aprimorado level design, a história e os bosses que elevam o jogo para uma solidez inesperada.

Black Hole Hazard é simples dentro da sua premissa mas cumpre com todos os pressupostos de forma exímia. E à semelhança da Caçada Semanal da passada semana a provar que o simples também é sinónimo de muito bom.

Copy Kitty

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Pelos vistos não sou só eu que gosto de trocadilhos. Os senhores e senhoras da Nuclear Strawberry também devem gostar, ainda que entre copycat e Copy Kitty pouco espaço exista para a imaginação.

Copy Kitty é um action platformer indie, tão indie, que ficamos a baloiçar entre o agrado independente e a noção de que o interface, os níveis e quase todos os aspectos visuais revelam ser bem mais fracos do que a ideia e a execução do resto do jogo.

Numa notória inspiração em Kirby, a protagonista de Copy Kitty tem a capacidade de absorver os poderes dos inimigos, e é com essa habilidade que vamos ultrapassando cada nível recheado de puzzles e adversários vulneráveis a poderes específicos.

Para resumir, este é um Kirby visualmente muito inferior, muito mais difícil e a tresandar a Mega Man, mas não só. Ainda em Early Access, há uma grande parte de mim que deseja que as mecânicas tão afinadas que o jogo possui venham a trazer para outro patamar o estilo artístico inferior.