Caçada Semanal #43
A vida tens um gráficos realistas* mas há muita coisa que eu preferia que fosse redesenhada. Esta história da vida ser jogada em tempo real é algo que não só é assustador como acaba por tornar outras mecânicas em algo bem difícil. Não falo apenas da permadeath, mas também da impossibilidade de fazer save-load, mas acima de tudo o que estraga isto tudo para um obsessivo-compulsivo é a necessidade de agir sem tempo ilimitado de espera. Eu até aceitava uma situação de compromisso como aqueles contadores dos torneios de xadrez, mas não, temos mesmo de reagir num instante a tudo o que nos é confrontado, tendo de pensar nas múltiplas repercussões em milissegundos.
Mas sabem onde é que isto não acontece? Em Ermesinde.
Estou a brincar, lá também acontece. É nestes dois jogos dos quais falamos hoje.
Warhammer 40k Armaggedon – Da Orks
Oficialmente perdi a conta a quantos jogos do(s) universo(s) de Warhammer é que já saíram este ano, mas diria que esta expansão de Armaggedon há de ser aproximadamente a número x. Criado sobre o motor e pela equipa que desenvolveu General Panzers, Da Orks é tudo o que podemos esperar de um jogo de estratégia por turnos que grita por todos os lados: “eu quero ser um jogo de tabuleiro” ou em orkês “boooooooouuuuuuaaaaaas pesssoaaaaaallll!”.
Ao contrário de outros congéneres em que o número de unidades vai definindo a supremacia táctica, em Da Orks temos de gerir bem o tipo de unidades que temos, as suas vantagens e fraquezas, tendo em conta o terreno em que estão presentes e o armamento disponível. Esta gestão táctica que obriga a um grande conhecimento do jogo, e cuja curva de aprendizagem acompanha a fundo o conhecimento que vamos ganhando das muitas criaturas e veículos existentes.
Esta percepção da variedade torna-se mais evidente quando temos os muitos ecrãs de constituição de exército, em que as opções são tantas que damos por nós a pensar nas horas que perdemos no AliExpress a ver cópias fidedignas chinesas de LEGO e a encher o cestinho de compras com mais coisas do que as que vamos comprar.

Sim, isto existe e é baratíssimo.
Conquistar pontos estratégicos, dominar recursos, destruir inimigos e colocar as nossas unidades estrategicamente para que consigam tirar o maior partido possível do terreno são apenas algumas dificuldades que temos no grande desafio presente em cada hexágono que constitui Warhammer 40k Armaggedon – Da Orks.
E, à semelhança de andar às compras virtuais no AliExpress, é coisa para demorar muitas, muitas, muitas horas.
Não me lembro em que situação falei aqui há algum tempo sobre a quantidade de vezes que, por ter crescido com uma tia que era adolescente nos 1980s, tive de ver o filme Cocktail em repeat. Halcyon 6 Starbase Commander é uma espécie de cocktail (com caixa baixa) também, mas diferente. É como ir a um bar pedir um cosmopolitan (o meu favorito) e ver que o barman está a fazer uma mistela para o cliente anterior, em que mistura uma série de coisas que são bastante boas e que fica na expectativa que a soma das partes resulte em algo prazeroso.
Halcyon 6 Starbase Commander sofre desse problema que é simultaneamente algo de louvar. Este pequeno indie do estúdio Massive Damage, Inc. quer ser um jogo de estratégia e base building como XCOM, um JRPG e em muitos aspectos parece um cruzamento disto tudo, de pixel art e de um Heroes of Might and Magic no espaço, numa espécie de canivete-suiço indie que quer ser muita coisa e quase falha em fazê-lo. Quase.
Onde todo este somatório e estas parecenças falham é no facto de que a ingenuidade da equipa de developers acaba por vir ao de cima ao percebermos que existe pouco profundidade e muitas vezes excesso de repetição em todas estas partes que compõem um todo. Seja nos combates que rapidamente se tornam monótonos, seja pelo excessivo grind a que o jogo nos obriga para mantermos a gestão e a evolução estratégica da nossa frota e tripulação.
Tirando estes problemas, temos de admitir que há potencialmente muitos elementos interessantes Halcyon 6 que não são destruídos por alguma superficialidade.
(* citando a Alexa no último Entre marido e Mulher…)