Aragami é daqueles jogos de desconfiar. Deixa-nos de pé atrás, o sacana. “Parece bom, mas… provavelmente vou ficar desiludido com aquilo”. Acontece. Vezes demais. Acontece que, volta e meia, quem faz jogos, acha que nós nos vamos deliciar tanto com a arte que coisas como a jogabilidade, o enredo ou a pura diversão são secundárias. Pffft! Se quisesse ver só coisas bonitas ia a um museu. Gosto de coisas bonitas, mas quero um bom jogo!

Dude... aragami! Não é Origami! Embora... yah, deixa estar... ninja Vader!

Dude… aragami! Não é Origami! Embora… yah, deixa estar… ninja Vader!

Pois bem, Aragami consegue-o. E, confesso, andei em palpos de aranha, de sobrolho levantado, à espera de, a cada momento, me deparar com uma inescalável parede de desilusão. Uma espécie de “hope for the best, but prepare for the worst” que me foi acompanhando ao longo das primeiras horas de jogo enquanto, incredulamente, ia navegando, nível atrás de nível, até que me deixei levar por este jogo genuinamente bem construído, divertido, com sucessivas camadas de complexidade a ser aplicadas e desdobradas gradual e pausadamente, deixando-nos saborear cada nível enquanto nos adaptamos a determinada mecânica para, mais à frente, nos ir propondo outras, e outras, e outras, até que, a dada altura, vendo-nos munidos das competências que fomos adquirindo, o jogo deixa de nos dar a mão e permite-nos dar os primeiros tímidos passos a solo. “Sê feliz. Diverte-te!” E eu, obedientemente, fiz isso sem torcer o nariz. A adequação da dificuldade, da complexidade e das novas mecânicas é feita de forma segura, mas subtil e o jogo vai crescendo aos poucos em desafio, em forma, em escolhas. E permite ao jogador gozá-lo de alto a baixo, de várias formas e feitios, sem se perder em caminhos determinísticos e castradores.

Não és tu!! Wrong Vengeful Spirit!!

Não és tu!! Wrong Vengeful Spirit!!

Um Aragami é um “Vengeful Spirit”. Um espírito que encarna para a vingança. Vindos do mundo das sombras, é nelas que nos sentimos bem e a luz do sol, ainda que reflectida pela superfície da Lua, enfraquece-nos. É portanto na noite que, sendo invocados, temos que agir, mergulhando nas sombras, tornando-nos, nós próprios, nas sombras e atacando o Exército da Luz que surge aqui, paradoxalmente, como as forças do Mal.

Look at me, I'm a bird!

Look at me, I’m a bird!

Aragami é um Stealth Game de aspecto soberbo, com uma jogabilidade a condizer. Tudo parece feito com esmero, com carinho, com um amor pelo detalhe que nem sempre vemos nos videojogos. Com cenários saídos de banda desenhada e mergulhando e brincando com o obrigatório jogo de sombras, Aragami fornece-nos uma experiência visual fantástica que ilustra competentemente uma história coerente e uma jogabilidade envolvente. Uma das pequenas pérolas por 20€. Recomenda-se vivamente!