Destesto as consolas de nova geração, e as companhias que as criam e gerem são umas sanguessugas.
Agora que estou aqui protegido dos fanboys posso continuar.
Esta semana, inadvertidamente criei uma discussão que se expandiu muito mais do que estava à espera aqui na redacção do Rubber Chicken acerca do modelo de negócio das consolas de hoje e o meu choque com isso tendo em conta que apenas no último ano tive mais contacto com elas. Eu cheguei ao mercado das PS4 e Xbox One no ano passado quando entrei para esta equipa, tendo saltado totalmente a geração 3/360) até lá era puramente jogador PC (com teclado e rato) e Nintendo, portanto muita coisa que é comum nelas desde os comandos de dual stick até aos serviços multimédia me fazem confusão, e até posso dizer que os detesto mesmo e espero que estejam incluídos na segunda parte do Podcast do Sérgio e da Alexa, mas se não estiver pode ser que falem disso noutro dia. Resumindo, desabafei uma pequena queixa, e ao fim de um bocado estava a propor um Royal Rumble em live stream para resolver a discussão.
Tendo só PC, Nintendo Wii e 3DS, quando comecei a analisar mais jogos vi-me “obrigado” a ter uma consola “nova” para ajudar à festa, e para colmatar a falha desta Playstationland à beira mar plantada foi lá para casa uma Xbox One que tinha o Live Gold durante um ano. Essa subscrição caduca este mês, quando eu fui para renovar e vi que um ano daquilo custa para cima de €70 e a minha cabeça começou a calcular, a calcular, a meter peças e valores aqui e ali, e explodi. A Playstation é igual, não sei se a Nintendo faz o mesmo na Wii U, mas não me parece pelo meu contacto com os seus jogos na 3DS, contudo não os impede de fazer o mesmo num futuro próximo. Eu desabafei isto de um modo efusivo que me é natural, e opinião daqui e comentário dali, quase todos os membros argumentaram, uns a favor, outros contra, outros aceitando simplesmente como um facto natural da vida e da indústria.
E eu decidi, enquanto estamos a pensar onde montar o ringue para o combate e fazemos as nossas tangas de luta, escrever sobre o que me chateou para levantar a questão nesse dia.
Eu não entendo porque é que além de comprar a consola, gastar uns 50 a 70 euros num segundo comando, comprar um jogo que pode custar entre 20 e 70 euros, tenho que pagar uma mensalidade para ter disponíveis todas as opções do meu jogo? Eu não estou a criticar os DLC nem outros aspectos da tecnologia porque já o fiz. Estou a criticar mesmo a subscrição mensal para poder jogar online e outros supostos benefícios.
Argumentos podem ser feitos que não é só o online e que temos jogos grátis ou em saldos e portanto compensa. À primeira vista sim, mas no caso da PlayStation se não continuar a pagar não tenho acesso aos jogos grátis. O que por defeito não os faz grátis, é um aluguer. No caso do Live da Xbox, mantemos os jogos na nossa biblioteca, que faz com que sabendo quais os jogos do mês a assinatura mensal quando o jogo interessa compense transformando um falso grátis, num real comprado em saldos por €7 com os preços oficiais dos cartões e não dos saldos das G2A ou Kinguin. Vamos esclarecer uma coisa, grátis quer dizer oferecido sem custo, portanto quando temos que pagar algo por mais pequena que seja a quantia para ter acesso a essa oferta, não é grátis, é pago ou alugado. Grátis seria o que a Ubisoft está a fazer com o seu aniversário oferecendo sem custo nenhum 7 jogos em 7 meses a qualquer jogador PC. Limitar a “oferta” de jogos “grátis” apenas a quem paga uma assinatura paralela de um produto associado a outro produto teu, em vez de a todos os que o têm, não é grátis.
Um jogador 3DS que desde que tenha Wi-Fi pode jogar qualquer jogo online limitando o grupo a amigos ou não, e um jogador de PC que consegue jogar tudo online sem custos adicionais ao seu pacote de operador, portanto num ponto de vista destes utilizadores a subscrição é uma chulice.
É mais que isso é um roubo, e quem é roubado dá o ouro aos bandidos e ainda agradece.
No PC também há assinaturas e subscrições em jogos como World of Warcraft que são um caso diferente como o Ricardo explica no seu artigo para o Observador. A subscrição é um caminho para onde todos avançamos e é uma merda porque os fornecedores perceberam que nos podem obrigar a continuar a pagar por algo que usamos muito pouco ou nada, quando dizem oferecer algo em troca. O maior problema é quando nos obrigam a ter uma subscrição para ter algo que pagamos e não vamos usar de maneira nenhuma o que a subscrição faz.
Pensemos no meu actual guilty pleasure número um de jogos, Forza Horizon 3. Eu não jogo multiplayer, fiz algumas corridas para escrever o meu artigo mas fiquei por aí, contudo para poder desfrutar do jogo sou obrigado a ter o Live para desfrutar do jogo e das suas opções, sem live não posso ter acesso a pinturas, não posso ter acesso a eventos, a leaderboards ou porcaria nenhuma. Se isto são opções base do jogo, são aspectos que estão nos seus fundamentos porque me obrigam a pagar todos os meses para jogar a 100% ou até a 80% alguma coisa que já custou €70 na versão mais básica, ou €90 com todos os DLC? Se eu não vou jogar o jogo completo sem a subscrição mensal porque tenho que pagar o preço total do jogo? Porque raio é que além de ter que ter a minha consola ligada à internet constantemente para jogar algo que comprei online, tenho que pagar uma assinatura extra para ter acesso ao que já paguei?
E não vale a pena comparar com outros serviços de assinatura como a Netflix ou Spotify porque esses não vendem TVs ou leitores de música. Vendem um serviço para ser usado em qualquer aparelho de qualquer marca, não nos deles.
A razão disto é simples, a geração mais nova e consumidora de jogos em grande escala vive ligada à net, tudo o que fazem tem que ser partilhado e documentado por mais inútil que seja, e a minha geração já não. Os nossos jogos eram partilhados na sala ou desfrutados a solo. Esta dependência do online, esta droga que foi grátis durante as primeiras doses, é agora paga a peso de ouro, e infelizmente tem que ser paga tanto pelos utilizadores casuais que já as usavam há décadas para fins recreativos e apenas consumiam produtos de qualidade e pelos agarrados que pagam tudo e mais alguma coisa pelo crack mais rasco que existe. Infelizmente os dealers aperceberam-se que podem controlar as rédeas do mercado pela ressaca dos viciados e conseguiram modelar o negócio para nos dar a todos o seu produto medíocre. E não há mais fornecedores, mais cedo ou mais tarde até no PC vai acontecer, e eu tenho pena de quando chegar esse dia. Até lá, vou aproveitar ao máximo.
(se a analogia com as drogas feriu susceptibilidades, azar, foi o melhor que consegui arranjar)