[O autor recomenda que seja colocado a tocar o vídeo durante a leitura do artigo, por forma a ilustrar o ambiente pós-apocalíptico do jogo. ]
A Team17 traz-nos um jogo na linha pós-apocalíptica de Fallout Shelter. Lançado em 15 de Março deste ano, Sheltered é uma abordagem de aspecto indie, com uma maior ligação às personagens. Começamos por criar uma família que iremos tratar de proteger no abrigo subterrâneo. Aos pais, juntam-se duas crianças e um animal de estimação e a entrada no claustrofóbico refúgio é tudo menos acolhedora. É um velho bunker decrépito, maltratado, com um gerador e o mínimo indispensável à sobrevivência. E é também o início da nossa viagem.
Sobreviver é o objectivo geral. Sobreviver durante o máximo de tempo possível é o objectivo um pouco mais realista. Há que tratar da nossa família. Cuidar dela, com laivos the The Sims à mistura. O menino quer fazer xixi? Vá lá fazer xixi. Tem fominha? Vá lá à estante buscar uma latinha. Tem cócó no rabinho? Vá tomar um banhinho. Vá. Vá lá. O micromanaging aqui torna-se obrigatório, forçoso e, por vezes, um pouco fastidioso. Sheltered podia ter ido bebericar da fonte de inspiração de The Sims, mas saltou para o meio da fonte, fez alto chavascal e enfardou dois jarros seguidos. É que em The Sims há uma pequena réstia de autonomia que permite aos nossos Sims, se deixados sem indicações, fazerem algo pela vidinha deles. Compreende-se que aqui o scope seja diferente (olá Johnny!), mas em termos de experiência de jogo, não, não funciona bem. São quatro elementos a quem temos que estar a ver se precisam de comer, ir ao improvisado WC, dormir, beber ou tomar banho. E a tarefa não é, de todo, facilitada pelo interface. Clicar em cima do personagem que pretendemos para o seleccionar é uma utopia. Ou porque tem uma personagem atrás, ou porque tem uma à frente, ou porque uma está a tomar banho ali ao lado… O melhor mesmo é usar as teclas Q e E para ir alternando entre habitantes do nosso bunker. Mas é chato. E induz em erro, por vezes.
Pois bem, mas que mais nos traz este Sheltered? Um mundo por explorar. E aqui, fá-lo melhor, bastante melhor que Fallout Shelter. Comecemos pelas imediações do bunker, onde residem filtros de ar e água e uma auto-caravana. E terreno, onde podemos construir armadilhas para caçar animais ou salteadores. Mas volta e meia, lá fora, chuva negra ou poeiras radioactivas surgem do nada e podem contaminar os nossos habitantes, pelo que é conveniente vestir um fato protector. É engraçado em termos de conceitos, mas torna-se um processo repetitivo e monótono, esperar que vistam os fatos antes de os mandar lá fora, uma e outra vez… E deixa de fazer sentido quando, para os mandar para expedições mais longas, os fatos não são precisos. É. Ali ao lado, no quintal, se apanhar uma chuva radioactiva é desagradável. Mas se estiver a 10Km de casa, no meio de nenhures, então é na boa. Right.
Em todo caso, há um vasto mundo para explorar, com vários tipos de edifícios e pontos de interesse no mapa para onde podemos enviar um pequeno grupo de até duas pessoas (mais o animal de estimação, que faz mais do que apenas consumir comida de quando em vez) para que, munidos de água, calcorreiem as imediações em busca de materiais e mantimentos. Muitos materiais! Porque há um sem-número de coisas para construir e melhorar no noosso bunker, desde camas a chuveiros, passando por estantes de livros, frigoríficos, armadilhas, fogões e sabe-se lá mais o quê. E tudo isso precisa de materiais. Carradas deles! Parece-nos demais a quantidade exigida para construir um aparelho para reciclar, necessário para transformar algumas peças que temos em matéria prima utilizável. Mas é engraçado ver que um jogo que aparentemente é simples, está recheado de coisas para construir e explorar.
E a coisa não acaba aqui. É possível recrutar mais membros para o nosso bunker, que irão consumir mais recursos, mas também contribuirão com trabalho e poderão, posteriormente, fazer também parte das equipas de buscas por mais mantimentos. Fica um pouco curto, no que diz respeito a ligação às personagens, porque os diálogos não são muitos nem dignos de relevo, o que leva a que não se construa grande relação afectiva entre o jogador e a dita personagem. E as diferenças entre elas são também pouco significativas, com uma criança a construir um frigorífico no mesmo tempo de um adulto, sem que, portanto, a dificuldade das tarefas propostas seja tida em conta para a personagem que a executa.
Mas, não obstante estas complicações e irritaçõezinhas, Sheltered é uma belíssima maneira de gastar umas horas entretido e, por menos de 4,5€ até ao próximo dia 29, vale bem a pena!