Colegas,

Congratulo-vos por terem clicado num título que desde já acusa a minha falta de responsabilidade. Para os leitores mais atentos, deverão ter reparado que o Rubber Chicken, nos últimos tempos, tem funcionado de maneira ligeiramente diferente: passámos a ter responsabilidades! E sendo a minha responsabilidade escrever textos para lançar à segunda e quarta-feira, durante o fim-de-semana, decidi que jogar Keep Talking and Nobody Explodes era um melhor plano para mim do que qualquer outra coisa. Obviamente que agora a solução é escrever um texto meio à pressão às 8:26 da manhã, somente com 4 horas de sono no bucho (porque tive, até tarde, a jogar Keep Talking and Nobody Explodes).

ktane (4)

Suponho que este jogo não precise de apresentações, os jogadores não foram tímidos a tecer elogios e talvez por isso também não houve ninguém a figura de urso ao afirmar “Ah, mas isto não é bem um jogo de vídeo!!!”. Não é, de todo. Keep Talking and Nobody Explodes é, como o Ricardo Mota referenciou no seu artigo sobre KTANE em Julho deste ano (que aconselho imenso a ler, até para compreender melhor este artigo) um party game e, arrisco aqui em dizer, quase como um jogo de tabuleiro (sem tabuleiro) que utiliza um aparelho eletrónico (por coincidência, o mesmo aparelho eletrónico em que usualmente se joga jogos de computador). Esta poderá ser a vossa premissa para convencerem alguém a jogar isto com vocês, eu sempre preferi uma abordagem mais arrojada: sentar-me numa mesa com o aparelho eletrónico, colocar o manual de 20 páginas no lado oposto da mesa, virado para a cadeira, colocar o volume do aparelho no máximo (que deverá por este momento estar uma versão reduzida em instrumentos do Oye Como Va), convidar uma pessoa que não conhece KTANE a sentar-se na mesa em frente ao manual (isto poderá ser alcançado de diversas maneiras, sempre adoptei a abordagem de gritar o nome da pessoa, como um selvagem, para vir ter conosco e, quando ela chegar, dizer com um tom de voz suave a sexy “senta-te à minha frente por favor” enquanto sorrio), pedir para ler a primeira folha do manual, esperar que a pessoa leia e finalmente carregar no botão para começar a primeira bomba do jogo. Começar a jogar.

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A minha mãe foi a primeira vítima. O que inicialmente era uma postura de “o que raio estou eu aqui a fazer com o almoço ao lume?” passou à postura de folhear rapidamente o manual como a sua vida dependesse (e depende!) disso. O almoço queimou e acabámos por almoçar pasta de atum como alternativa rápida, mas se me tivesse deixado por causa do almoço ninguém almoçava na mesma, uma vez que pelas regras não posso ter acesso ao manual da bomba que tentava detonar e só tínhamos cinco minutos antes de ela explodir com a minha casa inteira. Portanto acho que até foi uma tarde em que sim, passámos fome, mas agradecemos por ainda estarmos inteiros. A minha mãe gostou tanto de o jogo, que mais tarde, nesse mesmo dia, detonamos cerca de 10 bombas consecutivamente mais difíceis, tendo trocado (obviamente) várias vezes entre o computador e o manual, para não envelhecer a jogabilidade.

Mais tarde chegou a altura de mostrar aos amigos da terra natal. De computador e manual debaixo do braço, dirigia-me a um café da localidade para ir ter com dois colegas e, depois de nos sentarmos, executei o mesmo procedimento: Sem conversas, computador para mim e manual para vocês. Não desconfiei eu que isso, sendo apenas sábado à tarde, fosse consumir todo o meu fim-de-semana. Nem mesmo os olhares das outras pessoas (preocupadas a ouvir um beep, beep, beep) da explanada nos fez parar de jogar, na verdade, estivemos próximos, muito próximos de ser expulsos do local. Tudo isto devido à incompetência dos portadores do manual: “Corta!”, “Não Cortes!”, “Corta!”, “Não Cortes”, “Corta a porra do fio, não ligues a este gajo!”, “Ó, deves estar a querer apanhar na tromba” gritavam, alternadamente.

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Foi aqui a última vez que vi a minha responsabilidade.

Não sei, tenho muito pouco a dizer quanto a Keep Talking and Nobody Explodes porque nada que eu possa dizer consegue descreve-lo melhor do que jogarem, depois de o arranjar o jogo (mesmo que comprem a meias!). É bom porque dá para qualquer pessoa desde que planeiem a melhor forma de o introduzir, é viciante porque como força-nos a trabalhar sobre pressão, e se a bomba é detonada é bastante aliviante e recompensante. Quando a bomba rebenta, ou é frustrante e tentar outra vez “são só mais 5 minutos” ou então é cómico e torna-se uma história para contar. Excelente, magnífico, incrível. Recomendo a toda a gente, mas não se esqueçam das vossas responsabilidades, mesmo que detonar uma bomba pareça mais importante.