https://www.youtube.com/watch?v=6GJO_RpBnEg&list=PLZlppmGv_GIKfcd4t6odoAB9a7aUBMBZi

[O autor recomenda que seja colocada a tocar a Playlist aqui apresentada, para efeitos de imersão. Ou só porque é boa. Não interessa. Façam o que vos digo!]

Life is Strange foi um dos jogos do ano, em 2015. Sendo que só me juntei de corpo e alma a este galinheiro em 15 de Dezembro, com o meu primeiro artigo, não tinha reparado naquilo que é, para mim, um grande lapso. O Rubber não tem uma análise a este título, lançado em 15 de Janeiro de 2015 pela Square Enix! Ora, com mais de uma dezena de prémios conquistados desde que saiu e tendo entrado definitivamente no panorama dos grandes jogos da vida de vários membros daqui do galinheiro, creio que Life is Strange merece, pelo menos, um Post Scriptum, ou no caso desta nova rubrica um “Ia-me Esquecendo”. Um olá. Um acenozinho, na eventualidade de terem estado a hibernar desde 2014 e um dos jogos mais mediáticos dos últimos tempos vos tenha passado ao lado.

A Max gosta de Polaroids. Se cada foto corresponder a um prémio...

A Max gosta de Polaroids. Se cada foto corresponder a um prémio…

Life is Strange não é para todos os gostos ou idades. Aborda temas como a depressão, o bullying, o suicídio. Fala de violência sem que esta seja apresentada como um anónimo tiro neles num mar de insensibilidade. Fala de drogas, de abusos, da luta de classes. E mistura isso tudo, bem misturadinho, num ambiente que é uma espécie de sonho molhado para a geração que ainda apanhou uma MTV em que o M significava Música. Verdadeira Música. Se tivesse que descrever Life is Strange em poucas palavras, seria algo como uma viagem emocional multissensorial em jeito de videoclip.

O primeiro soco no estômago que Life is Strange nos dá é visual. O grafismo idílico, outonal, acolhedor e quente é uma das suas imagens de marca. O jogo de luzes com uma palete alaranjada, apontando contrastes sem os vincar em demasia, com acabamentos à mão a dar um toque de deliberada atenção, de carinho para com a obra, fica na retina e leva-nos a querer guardar este ou aquele momento, num screenshot quase perfeito que depois nos serve de porta de entrada para aquele mundo. O resto da imersão fica a cargo de uma banda sonora absolutamente soberba e que ainda hoje faz parte das minhas playlists habituais. Composta por Jonathan Morali, de Syd Matters, a ideia é a de transmitir todo o ambiente do jogo, e fá-lo com mestria, invocando nomes como José González, Amanda Palmer, Bright Eyes, alt-J, Foals e Mogwai, entre outros, a que se juntam os próprios Syd Matters, a banda sonora transporta-nos nos seus braços para aquele mundo onde apetece ficar sentado a ver o por do sol a saborear um chá.

A sala de aula onde a acção começa. Ou recomeça. Ou começou. Ou term... raios!

A sala de aula onde a acção começa. Ou recomeça. Ou começou. Ou term… raios!

E “saborear” é a palavra-chave. Life is Strange é para ir saboreando, aos poucos, a perspectiva de Max Caulfield, uma estudante de fotografia da Blackwell Academy, em Arcadia Bay. O jogo, uma aventura gráfica na senda de jogos da Telltale como The Walking Dead ou Wolf Among Us, dá-nos uma perspectiva na terceira pessoa do mundo aparentemente idílico de Arcadia Bay e empurra-nos para uma turma recheada de personagens trazidas para a vida com as vozes de alguns nomes sonantes de Hollywood. Delineadas em traços largos por estereótipos fáceis de enquadrar, o jogo encarrega-se de ir esbatendo as fronteiras desses estereótipos, numa viagem muito inspirada no efeito borboleta da teoria do caos. Max tem a habilidade de rebobinar o tempo – tal como outra personagem feminina de outro jogo da Dontnod, Remember Me – e vai, ao longo dos cinco episódios, descobrindo e redescobrindo o alcance e as ramificações desse poder, bem como as suas consequências. Max é, então, uma espécie de frágil e titubeante heroína que procura enquadrar-se naquele grupo heterogéneo de adolescentes, fazendo força das suas fraquezas. Pelo caminho, reencontra-se com a velha amiga Chloe Price e dois temas saltam para primeiro plano: o desaparecimento de Rachel Amber, amiga de Chloe e uma devastadora tempestade meio vivida, meio pressentida por Max.

Max & Chloe. BFF

Max & Chloe. BFF

O resto, meus amigos, é história que não revelarei aqui para não perturbar o usufruto desta viagem. Com algumas máculas aqui e ali, certo é que a história de Life is Strange é outro dos seus pontos fortes e alvo de distinções de vários sectores. Não será perfeita. Não tem que ser. Life is Strange é uma viagem, todo o seu percurso, ao longo dos 5 episódios, é para ser encarado dessa forma, como uma lenta e saborosa viagem a ser desfrutada a cada momento. Por menos de 20€ no Steam, Life is Strange é um jogo obrigatório para qualquer amante dos videojogos. E, se se arrependerem, podem sempre voltar atrás no tempo e anular a compra.

Venha de lá esse por do sol

Venha de lá esse por do sol