É na véspera do lançamento da PS4 Pro que este artigo é lançado mas, na verdade, desde os primórdios que há motivos para achar as consolas são, não a plataforma inferior, mas a plataforma onde determinadas pessoas decidiram não jogar. Esses motivos são cada vez mais e estão a fazer-me reconsiderar se deverei dar o salto para a próxima geração, assim que ela chegar, ou investir num computador para a sala. Eis os motivos:


RETROCOMPATIBILIDADE (ou falta dela)

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Eu tenho um amigo meu chamado Filipe. O Filipe adorou a sua PlayStation 3 durante os oito anos que foi estimada e jogou uma vastíssima gama de títulos exclusivos que lhe interessavam. No mês passado a sua consola faleceu, o que não é problemático porque ainda há consolas à venda (se tiverem cerca de 200€ para gastar). Porém o Filipe quer muito jogar o Bloodborne e não se importava de jogar o Persona 5 numa PlayStation 4, mas com os jogos que queria continuar a jogar durante anos (porque são jogos bons e de que gosta) na sua PlayStation 3 ele terá de fazer a escolha que mais lhe beneficia. E como comprar as duas não é uma opção, a escolha acertada não será comprar uma PS4. Se a PS4 tivesse algum género de retrocompatibilidade com a PS3 a escolha dele seria instantânea e aparentemente a tendência da inexistência da retrocompatibilidade vai continuar: a PlayStation 3 era 100% (ou muito próximo disso) compatível com a sua antecessora PlayStation 1 e havia alguma compatibilidade com a PlayStation 2 para todos aqueles que compraram a consola no seu início de vida. Hoje, a retrocompatibildiade equivalente que a PS3 tinha com a PS1 deveria transpor-se para a retrocompatibilidade que a PS4 não tem com a PS2, ou melhor, tem, mas só numa gama de títulos limitada e assumindo que estamos dispostos a pagar entre 5 a 15 euros por jogos que já comprámos (ou não).

reddead

Por outro lado, o Steam está lá para nós. Para manter os jogos que nós comprámos com o nosso dinheiro durante uma quantidade de tempo estritamente maior que qualquer período de vida de qualquer consola. A Microsoft também anda a aumentar o catálogo dos jogos da Xbox 360 ‘compatíveis’ com a Xbox One, mas com o fraco sucesso da consola de Gates em oposição aos quarenta milhões de consolas da Sony vendidas, ficarei extremamente surpreendido se essa tendência se tornar uma constante na indústria que vivemos.


MULTIPLAYER ONLINE PAGO

A Microsoft foi clara e objectiva quando anunciou o serviço LIVE, portanto este tópico não é uma questão muito relevante (ou uma novidade, sequer) para aqueles sempre se mantiveram fieis à Xbox, no entanto, é completamente inaceitável a mutação de um serviço que surgiu para beneficiar os seus consumidores com novos jogos todos os meses (jogos esses que são cada vez mais ofertas medíocres para encher cofres de estúdios de mérito completamente indiferente. Não importa aquilo que a Sony põe no Plus, as pessoas vão descarregá-lo e a Sony vai pagar 1 dólar pela vossa cópia à editora) e descontos exclusivos. É completamente patético exigir uma mensalidade para jogar online, final da conversa. Os servidores continuam a precisar de estar ligados e a representar despesa, mas e que tal cobrar às editoras o espaço necessário para as pessoas jogarem os seus jogos, que as pessoas compraram por 69,99€ (que independentemente do crescimento do custo de produção de um videojogo, para o consumidor é completamente obsceno)?

thnx internet

Obrigado internet. Obrigado.

Um dos motivos para ter desculpabilizado a Sony por isto foi o lançamento de uma consola por um preço 66,(6)% inferior à da geração anterior, sabia lá eu que os motivos para isso foram na verdade o lançamento de uma consola com um hardware incapaz de aguentar uma geração de consolas.

O Steam tem online gratuito.


UPDATES DE HARDWARE

Por mais óbvia que esta razão possa parecer, não é uma questão tão linear assim. Porque raio haver updates de hardware é uma coisa má? Aconteceram inúmeras vezes no passado! Bem, em primeiro lugar, não houveram assim tantas ocorrências no passado e alguns desses updates de hardware eram, na verdade, novas peças que davam um aspecto verdadeiramente Transformer à nossa consola, menos ainda são aqueles que foram bem sucedidos. A Sony, com a posição de mercado que tem neste momento, tem tudo para fazer com que desta vez não falhe. Surpreendentemente, as pessoas quando compram uma consola também o vêem como um investimento a médio/longo prazo, mas esses tempos acabaram. Uma das consequências destes updates encontra-se também explicada no próxima razão.


ARQUITECTURA GENÉRICA

A verdade é esta: as consolas, nos dias de hoje, são autênticos computadores. Computadores com arquitecturas completamente semelhantes aos que estão a utilizar para ler este artigo, ao que eu utilizei para o escrever. Uma das palestras (e incluo aulas) mais interessantes que vi em todo o meu percurso académico no Instituto Superior Técnico foi de Jason Gregory (da Naughty Dog) em 2014 onde se falaram das limitações da PlayStation 3 e boas práticas de alocação de memória. A PlayStation 3 saiu no mercado em 2006 com cerca de 512 megabytes de RAM (256 dos quais VRAM) e foi quando isto foi referido, nessa palestra em 2014, que realmente caí em mim. Jogos como Grand Theft Auto V (que apresenta uma noção de escopo nunca antes vista no mundo dos videojogos) correm em 512 Mb de RAM. E a forma como a mesma tem de ser gerida fez com que essas boas práticas surgissem, resultando em melhor código, melhor fidelidade e consequentemente melhores jogos. A areia em Journey (PS3) era gerada procedimentalmente tirando partido daquilo que a consola para que este jogo surgiu tinha para oferecer de melhor: o seu processador. Uma arquitectura para consolas semelhante a computadores vai não só trazer mais developers com um mindset completamente desadequado para desenvolver em consolas (mindset esse que nega a existência de conceitos como optimização para hardware específico), fazendo com que a responsabilidade dos jogos terem bom aspecto passe para o hardware e não para software. E se a responsabilidade de os jogos parecerem bem passar para o hardware é o consumidor que vai ter de o pagar.

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Supercharged, Enhanced, Unified. Marketing.

E em bom rigor já deveria ter torcido o nariz há mais tempo. Ninguém decide desistir de componentes proprietárias se não for mudar de estratégia a meio caminho: Sempre que um processador está desactualizado, deixa de ser monetariamente inviável produzi-lo. E nenhuma empresa está disposta a redesenhar componentes que sejam compatíveis com um modelo três anos mais antigo.