Caçada semanal #47
“Não há fome que não dê em fartura” lá diz a máxima popular e eu tenho de concordar sem colocar qualquer tipo de objecção. Depois de semanas sem caçadas semanais e de produção menos extensa, eis que em dois dias consecutivos surgem duas caçadas seguidas. E há um passarinho, aliás, uma galinha que me diz que a probabilidade dos próximos dias trazerem mais caçadas é muito grande.
Por coincidência, ou não, depois da caçada de ontem em que trouxemos 3 indies com expressas manifestações artísticas, a caçada de hoje não lhe fica atrás. E os 2 indies que trazemos hoje continuam a senda de experimentação artística que parece ser a tónica da semana.
Renoir
Ouvir este apelido e não pensar no magistral pintor francês do Séc. XIX que abriu caminho para o que viria a ser o movimento Impressionista, é um tremendo erro. Não fosse a forma como encarou a pintura e algumas das pedras basilares e a corrente artística que marcou a Arte ocidental na última metade do penúltimo século do milénio nunca teria acontecido. E sem entrar em conversas que remontam ao foro privado de Manet e Monet deixamos o impressionismo seguir o seu caminho para lá da História da Arte.
Renoir é um puzzle platformer cuja influência mais notória é o recém-lançado Inside. Para além de Renoir ser o apelido do protagonista, é também um fácil trocadilho com a ambiência que os criadores do estúdio Black Wing Foundation quiseram imputar ao seu jogo, lá está, um mundo noir.
Apesar de usar uma série de clichés narrativos, tais como o espírito de vingança que regressa da morte para resolver assuntos pendentes (sim, o James O’Barr está a sorrir para tudo isto, dentro do seu taciturno espírito), e com a capacidade única (dizem) de controlar fantasmas para resolver os puzzles dispostos ao longo de todo o jogo. Ghost Trick, meets The Crow em Inside? Talvez.
Lantern
O estúdio Thatgamecompany é inovador, transgressor, e conseguiu uma dupla conquista com o seu curto catálogo. Por um lado aproximar o público mainstream da compreensão artística do videojogo com o magnânimo Journey, mas conseguiu aproximar o público da Arte a perceber que os videojogos lhes pertencem com Flow, Journey e principalmente Flower, um dos primeiros jogos a serem adquiridos para a exposição permanente de um Museu de Arte Moderna. Foram todos estes passos de Thatgamecompany que permitiram que Lantern, do estúdio Storm in a Teacup visse a luz do dia.
Ainda este ano tínhamos falado de outro jogo narrativo que lançaram (N.E.R.O. Nothing Ever Remains Obscure) e é fácil perceber com este Lantern que o estúdio italiano quer encerrar as suas criações dentro de uma série de balizas experimentais e fora de alguns rigores comerciais a que o mercado tanto obriga.
Lantern é Flower, se Flower vivesse num ambiente asiático. Em Flower controlamos o vento que era simultaneamente fonte de vida, e em Lantern somos o vento, que alumia dezenas de lanternas chinesas e traz a luz da vida ao recatado ambiente onde o jogo se desenvolve.
Com uma simplicidade extrema, Lantern deseja acima de tudo colocar-nos a desenvolver a nossa própria narrativa para todas as nossas acções. Sem texto, diálogos ou qualquer indicação externa, Lantern é uma experiência artística e emocional. E por 6,99€ uma experiência amplamente acessível.
https://www.youtube.com/watch?v=cRrjYaGrLkE