Caçada Semanal #48

É um problema das traduções directas: quando tentamos trazer para a nossa língua muitas das músicas que pertencem ao nosso ideário de eleição, não é pouco frequente que o resultado soe ao meu homónimo Ricardo, que assina as criações de praticamente todos os cantores Pimba cá do burgo desde que o género floresceu no início da década de 1990.

Mas não é sobre lírica de pop/rock que esta Caçada Semanal se debruça. Mas sim sobre três jogos distintos cuja temática do transporte não só é essencial, como constitui as mecânicas fulcrais para o seu desenvolvimento. Sem muito mais demoras, porque o meu coração vai continuar, trago-vos os três indies da semana.

Oriental Empires

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Ainda em Early Access (como muitos dos indies que trazemos nas nossas caçadas), Oriental Empires é um 4X que respira, e muito, Civilization e Total War, mas num ambiente da China senhorial. As semelhanças com a série da Sega não são descabidas, especialmente porque dois dos developers principais do pequeno estúdio Shining Pixel Studios trabalhavam na “maiorzinha” Creative Assembly justamente… na série Total War.

Daquilo que já é possível perceber nestes primeiros meses de lançamento e desenvolvimento em Alpha, Oriental Empires está no mínimo surpreendente para um pequeno 4x feito com uma pequena equipa.

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O combate é possivelmente a jóia deste jogo, e demonstra o quão eficazmente se consegue mesclar o melhor de dois mundos e criar um terceiro coeso e inovador. No terreno militarístico as nossas unidades são agrupadas por “batalhões”, e ainda que os consigamos ver uma a uma no campo de batalha, é a possibilidade de nos afastarmos para uma visão de “tabuleiro de jogo” que nos permite compreender a macro e a micro-estrutura de cada embate entre exércitos.

Oriental Empires é acima de tudo uma lufada de ar sino-estratégica num género genericamente preenchido por batalhas espaciais difíceis de distingui entre si.

Caravan

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É surpreendente como num mercado cada vez mais competitivo é fácil de deixar escapar entre os dedos como areia do deserto, um punhado de jogos interessantes e com uma identidade forte que chegam ao mercado passando debaixo do radar, ou no caso de Caravan, dos sentinelas dos oásis arábicos.

O foco principal deste jogo cujo setting decorre na Península Arábica pré-medieval é a de criar uma série de trocas mercantis entre cidades e povoações, calcorreando a paisagem árida do deserto com a nossa caravana. Como uma linguagem visual forte, Caravan brilha com as decisões artísticas de desenvolver o seu jogo sempre perfilado com ilustrações que representam de forma brilhante o ambiente que nos devolve às histórias narradas por Scheherazade.

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Gerir a nossa caravana e a quantidade e o tipo de bens que transportamos, expandi-la, combater os inimigos que nos aparecem no caminho e acima de tudo sobreviver às agruras do deserto e dos seus muitos perigos, que vão desde tempestades de areia até ameaças sobrenaturais, Caravan altera-se a cada playthrough e traz-nos uma experiência distinta a cada New Game.

A história e as decisões que vamos tomando permitem colorir de forma mais viva este mundo credível onde Caravan habita, em que a atmosfera nos envolve na beleza e nas características únicas do Próximo Oriente, e onde a música é apenas o corolário que nos transporta para as noites arábicas das histórias.

Transport Fever

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Depois de uma caçada a camelo, eis que chega a altura de mergulharmos na gestão e planeamento de todos os transportes modernos com Transport Fever.

É irónico chegar-nos às mãos este verdadeiro tycoon de gestão, manutenção e expansão de sistemas de transporte, numa fase em que o Metropolitano de Lisboa parece estar a ser gerido pelo Dr. Evil e a carris está a negociar a sua passagem administrativa para as mãos da Câmara Municipal de Lisboa. Dir-se-ia com algum espanto que se há jogo que alguém poderia oferecer às administrações destas duas companhias é mesmo Transport Fever. Ou aproveitar a efeméride para nos lembrar que o Major Valentim Loureiro já foi Presidente do Metro do Porto.

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Bem, mas depois de nos termos estendido pelos carris metafóricos da memória, temos que lembrar que Transport Fever é uma espécie de sucessor espiritual de Transport Tycoon, e uma sequela de facto de Train Fever de 2014.

Não chegando ao detalhe do meu GOTY do ano passado, Cities: Skylines, e nem tendo que o fazer, visto que o foco é distinto, Train Fever é o melhor jogo de gestão de transportes a ser lançado em muito tempo, facto que foi facilmente premiado pelos jogadores ao colocarem-no no top 10 de vendas do Steam há 15 dias.