Dead Rising 4 é daqueles jogos que provavelmente muitos estavam ansiosos por ver chegar às suas consolas, o quarto jogo na saga iniciada com Frank West, o fotojornalista que já havia coberto um dos ângulos do mítico holocausto zombie armado com a sua máquina fotográfica e tudo o que lhe apareceu à mão.

Este exclusivo Xbox One e Windows 10 (durante um prazo limitado a um ano) está disponível desde dia 6 de Dezembro de 2016 e é algo que caí mesmo bem, após ver os vídeos estado-unidenses dos saldos Black Friday e a entrar na febre consumista da quadra natalícia vejo este jogo como uma boa critica ao mundo de hoje, em certos aspectos, e numa visão altamente extrapolada.

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Quem nunca jogou um Dead Rising antes desta quarta incursão precisa de uma pequena explicação do que se passa neles. Menos open world/sand box e mais brawler/button  masher em esteróides e com uma boa pós produção temos um jogo onde podemos fazer muito num dos seus lados, e noutro não passa de uma espécie de farming simulator, porque grande parte dele passamos a ceifar campos de zombies. Este é o pior aspecto de DR4, sem ser para retirar o stress do dia-a-dia e jogar algo que não puxa muito pela nossa atenção, não tem um esforço intelectual exagerado, não oferece muito mais que aquilo. É divertido, de vez em quando, pegar no comando e estraçalhar centenas, senão milhares de zombies num centro comercial gigantesco com as armas mais imaginativas do mercado dos videojogos, mas é mesmo só isso, infelizmente os pontos mais positivos deste Dead Rising 4 não chegam para me tirar a impressão que não é mais que um clone de um Destiny Warriors vestido numa capa ocidental e morto-vivo.

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Fãs destes jogos estarão prontos a atacar-me se me apanharem na rua, mas antes de se precipitarem devem saber que eu acredito que ele tem aspectos altamente positivos. Infelizmente são aplicados num jogo que não merece tanto trabalho tendo em conta o seu âmago.

Em primeiro, o Macgyverismo.

Quem cresceu nos anos 90 lembra-se do mítico herói (agora refeito e modernizado) que com o seu canivete suíço e um conhecimento enorme de química e física conseguia construir várias coisas para sair das situações mais rocambolescas que os autores da série o conseguiam colocar. Numa perspectiva mais violenta, Frank West é uma espécie de Macgyver, aproveitando tudo o que tem à mão para se defender das hordas de zombies que o atacam. Juntar um pau de vassoura a uma moto-serra, ou uma marreta a granadas pode parecer um pouco irreal, mas num jogo destes não se pode pedir muito mais. Esta pequena fantasia torna-o mais interessante e desafiante, assim como o facto de as armas terem um prazo de validade, desgastam com uso e partem-se obrigando-nos a gerir a utilidade e precariedade delas num campo de intensidade extrema.

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Em segundo, a fotografia.

Nunca quis ser fotógrafo profissional mas sempre gostei de tirar fotografias, infelizmente como gosto de trabalhar com máquinas de rolo é cada vez mais caro fazer, mas mesmo assim é algo que me apraz. Frank é um fotojornalista que cobriu o primeiro Dead Rising, 10 anos mais tarde, mais velho e com alguma história nas suas rugas, está numa situação em que tem que o fazer outra vez, e nós fazemo-lo por ele. Tentar o máximo de pontuações nas fotos é um desafio por si só. Conseguir a melhor posição sem ser detectados e sem deitar nada a perder dá aquele toque mais interessante ao jogo, consegue que seja mais do que um simples rebentar cabeças com tacos de basquetebol. É um jogo dentro do jogo, eu gosto de tirar boas fotos, mas acima de tudo gosto de me desafiar com selfies. Usar a máquina de Frank para tirar uma selfie com umas centenas de zombies atrás de nós e ver a expressão dele a mudar de um sorriso para medo e até ao limite do pânico conforme se aproximam bate qualquer desafio de planking a manequins.

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Há um elemento de sentimentos mistos aqui, quando olho para a qualidade de todo o trabalho gráfico e tentativa de criar um enredo porque acho que é um desperdício. Podem dar-lhe a roupagem que quiserem desde dramas de uma escala pessoal a mundial, politica, corrupção e jornalismo de investigação, este não deixa de ser um brawler, um button masher. Podem tentar esconder isso com toda a imaginação possível na criação de armas, podemos tirar todas as fotos do mundo de todos os ângulos mas não deixa de ser um jogo vazio de conteúdo. É por isso que a qualidade do enredo e da produção me parece desperdiçada.

Eu calculo que poucos vão concordar comigo aqui, mas é a minha opinião. Dead Rising 4 é um bom jogo para quem gosta da série. É um bom jogo para quem gosta do estilo tanto de Zombies como de Dinasty Warriors e quer fugir do seu ambiente normal, tem uma óptima produção e tem um óptimo aspecto visual mas não deixa de ser muita parra para o que no final é pouca uva.

Infelizmente jogos de zombie e filmes de zombies perdem-se um bocado no que pode ser o seu propósito, o de critica à sociedade sem cabeça e cega por um consumo quase primário, passando para uma mostra de sangue e nojo. Comparem as imagens dos saldos de Black friday com as deste jogo para verem o paralelismo, pensem em Shaun of the Dead, o melhor e mais realista de todos os filmes de zombies e em particular na cena em que ele vai para o trabalho e não repara que a sua vila está zombieficada porque todos se comportam como é normal.

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Mas isso é só um filme parvo, e este é só um jogo sem conteúdo…