Há 39 anos, ainda a democracia aprendia a dar os primeiros passos temerosos, e a experimentação musical em Portugal alcançava aquele que é para mim um dos 2 auges criativos portugueses. A banda de rock progressivo/sinfónico Tantra lançava o seu primeiro LP, Mistérios e Maravilhas cuja 5ª faixa se chamava simplesmente “Variações sobre uma Galáxia” composta e interpretada pelo teclista da banda, Armando Gama.

Para acompanharmos os 3 indies dedicados a aventuras espaciais de hoje, aconselhamos a ouvir ou a música acima colocada em repeat, a pensar e a repensar no que de bom e desconhecido se fez em Portugal.

Endless Space 2

Falarmos de 4X e não falarmos dos simpáticos membros do estúdio francês Amplitude seria um verdadeiro crime. Desde que os conhecemos pessoalmente na já longínqua Gamescom de 2014 que o seu catálogo passa sempre pelas nossas mãos ávidas de jogos de estratégia de qualidade.

Endless Space 2 está ainda em Early Access, mas com o historial do seu antecessor e do que o estúdio fez com outros jogos, o que decerto motivou o interesse da gigante SEGA em querer ser o seu publisher.

Não é a primeira vez que dedico alguma atenção e algumas palavras ao User Interface de um jogo, mas tenho com toda a justiça de evidenciar a qualidade da experiência de utilizador que temos para com Endless Space 2. Design elegante e simples, que nos permite navegar instintivamente pelos muitos menus e opções habituais de um jogo complexo como um 4X, e que torna toda essa tarefa perfeitamente normal, como qualquer bom interface deve conseguir.

É fácil sentir que o desenvolvimento ainda vai necessitar de mais tempo, maior maturação, mas há uma solidez mecânica neste jogo ainda nesta fase Alpha que nos deixa perceber que esta será uma marca histórica para os 4X aquando do seu lançamento. É um prazer poder jogá-lo já e vê-lo a desenvolver-se de semana para a semana.

Stars in Shadow

Ainda num tom 4X encontramos Stars in Shadow, publicado pela Iceberg Interactive, editora especializada em estratégia, e que nos traz também em Early Access o objecto ambicioso de apenas dois developers, Sven Olsen e Jim Francis, que estão a criar este jogo espacial completamente sozinhos.

A influência do aclamado Master of Orion II é mais do que evidente desde o primeiro impacto: entre as naves batedoras, as naves colonizadoras e mais uma série de pormenores decalcados, aliás, inspirados nesse grande clássico que nos marcou a todos, e que certamente é uma pedra basilar criativa para a os dois developers.

Um mercado que está a ficar sobejamente recheado de jogos do género com abordagens espaciais com tom e estéticas muito semelhantes que impedem de os diferenciar uns dos outros, Stars in Shadow decidiu apostar num visual forte, mais próximo da BD, e em que as raças são todos cruzamentos antropomórficos de dinossauros ou insectos.

Esta diferenciação não é uma surpresa ao sabermos que um dos criadores deste SiS (homófona da nossa “polícia secreta”) é um autor de uma webcomic espacial chamada The Outsider, que podem ler aqui.

Num mercado em que a distinção é um objectivo difícil de obter, é a estética de SiS que nos vai manter o jogo na memória até ao seu lançamento final.

Galaxy of Trian

Ver jogos de tabuleiro a chegarem a adaptações em videojogo não é novidade, e é aliás a constituição de grande parte do catálogo da editora Slitherine. Não é preciso mais do que dois minutos para percebermos que este Galaxy of Trian nasceu de uma vertente tabuleiro e só a posteriori foi adaptado a uma versão digitalmente interactiva.

Depois de uma campanha de Kickstarter de sucesso e da produção do jogo de tabuleiro propriamente dito, as mecânicas simples de Galaxy of Trian quase que gritavam uma transposição para mobile, aproveitando a forma simples como o jogo decorre por turnos pela colocação de peças triangulares contíguas umas às outras.

O problema da versão de PC, a jogada por nós, é que é mais do que notório que em todos os aspectos de ritmo, cadência, mecânicas, e até visuais, Galaxy of Trian, a versão de videojogo, foi pensado no mindset de mobile game, o que torna esta tradução de um jogo que apetece jogar sentado no sofá com um pequeno ecrã à frente numa experiência mecanicamente satisfatória mas cuja componente visual e artística roça a medianidade de tantos outros jogos anónimos no mercado mobile, que é apenas exponenciada pela escala do meu monitor de 24’’.