Ser um assassino ninja num mundo de quasi-fantasia Oriental e sci-fi com tríades chinesas, e espetar-nos num FPS com um ambiente o mais over-the-top possível? Este é na prática o elevator pitch de Shadow Warrior 2.
O João ainda há pouco tempo falava dos 20 anos de Duke Nukem, e do quão diferentes os FPSs eram na década de 1990. Doom, Quake, Unreal, Duke Nukem, eram as jóias máximas daquilo que esperávamos de um bom e velho jogo de tiros na primeira pessoa, com a fórmula recorrente de que quanto mais difícil, explosivo, sangrento, dinâmico, melhor.
Não sei se eram os efeitos das diferenças hormonais da entrada na adolescência ou de ter crescido desde pequeno sem a existência de PEGI e com um tremendo respeito por Action Heroes de Hollywood, mas os FPSs clássicos da vaga de noventa eram a explosão de adrenalina que qualquer jovem esperava, com sangue pixelizado a salpicar as tremendas resoluções de 640×480 e prostitutas low-poli e com baixo teor de herpes. Romero, Hall e Carmack pareciam desenvolver jogos directamente para os nossos receptores de testosterona.
Quando em 2013 o estúdio Flying Wld Hog desenvolveu um remake de Shadow Warrior, o FPS de 1997 que não podia ter nascido noutra época, decidiu manter o mesmo espírito de frenetismo e violência da década do jogo original, esquecendo o caminho que o género tomou pós-Halo e afins. E foi esse parte do sucesso deste remake que veio trazer uma tonalidade completamente distinta, de laivos retros, a um género que já pouco tinha das suas influências originais.
Em ano do lançamento de um novo Doom, que não é, nem de perto nem de longe, um filho dos FPSs da década passada, percebemos que toda a aparente retro-inovação do clássico dos tiros em demónios só vinha em linha de continuidade com o que Shadow Warrior, o remake, fez há poucos anos. O ano de 2016 é então o ano perfeito para uma sequela pensaram os senhores da Flying Wild Hog e da Devolver Digital. Parece-me que acertaram nesta decisão.
Shadow Warrior 2 mantém a mesma tónica do seu antecessor, trazendo violência gratuita e inverosímil a um jogo que, a bem da verdade, controlamos um assassino ninja num setting que só faz sentido em ficção especulativa. mas ao manter esse tom original, exagerado, over-the-top, os seus criadores perceberam que se se limitassem a esse círculo estariam meramente a repetir o sucesso passado e a adiantar muito pouco. Que mesmo sendo algo perfeitamente usual no mercado actual, especialmente em blockbusters cuja falta de vergonha na cara deveria ser combatida com balas virtuais de repulsa e bloqueio, foi algo que os devs de Shadow Warrior 2 quiseram contornar.
Olhar para o tremendo sucesso de Borderlands e a forma como contribuiu para um novo encanto sobre o género tornou-se automaticamente sinónimo de aplicação no ambiente exagerado de Shadow Warrior 2. Com tanto loot, missões, níveis processualmente gerados, zonas de hub entre missões, experiência a ganhar, estatísticas de armas, melhoramentos e “sockets” de upgrade às armas, Shadow Warrior 2 tornou-se uma brilhante homenagem à linhagem cruzada de FPS e Action RPG de Borderlands, mantendo o nível de acção do seu espírito original.
Shadow Warrior 2 é uma grande surpresa, tanto a nível de desenvolvimento como a nível de setting num ano em que o ano pareceu, no que ao género concerne, dominado por shooters futuristas indistintos de qualquer outro. Valha-nos alguma indiependência a manter acesa a chama da criatividade e a tentar levar o mercado para direcções menos conservadoras. Mesmo que para isso exista o risco de falhar.