Quem nunca sonhou em ser um comerciante em tempos já longínquos? ou um “Sheriff” astuto e inquisidor? pois bem, mesmo que não tenham sonhado, o jogo de tabuleiro Sheriff of Nottingham permite-vos isso mesmo! Por isso tragam todo o vosso poder de “role play” pois aqui poderá valer a pena!
Sheriff of Nottingham é um jogo de bluff que nos faz relembrar o jogo de cartas Desconfia da nossa infância, jogos estes que nos fazem ansiar por querer sentir se o outro nos está ou não a mentir. Talvez fosse útil adquirir algumas capacidades como Cal Lightman, personagem principal da Série televisiva Lie to me, já que a rigorosa compreensão e percepção do outro jogador é aquilo que faz com que ganhemos ou percamos este jogo.
Sheriff of Nottingham foi criado em 2014 pelos Designers Sérgio Halaban e André Zatz e pelos Artistas Lorraine Schleter e David Sladek. Este é um jogo em que cada partida tem a duração de mais ou menos 45 minutos, para idades acima dos 13 anos, dando para 3 a 5 jogadores. É um jogo extremamente fácil de aprender e de fácil montagem, o que o torna bastante divertido e pouco enfadonho na sua explicação a iniciados. Por esta razão, considero este um jogo de eleição a quem está a entrar no Mundo dos Jogos de Tabuleiro, trazendo um “bichinho” que não vos vai deixar querer parar de o jogar.
Mas afinal qual é o tema deste jogo? Sheriff of Nottingham remonta ao Mundo do conhecido Robin dos Bosques. Nesta história o Príncipe John vem à cidade e muitos comerciantes aproveitam esse facto para poderem vender mais dos seus produtos na respectiva cidade. Porém, para entrarem nesta, têm de passar pelo Sheriff, o qual digamos que é um pouco exigente com os bens que podem e não podem entrar na mesma, havendo o risco do comerciante pagar elevadas multas se estiver a realizar contrabando. Em Sheriff of Nottingham todos os jogadores são comerciantes, levando os produtos que escolheram para a cidade. Porém, em cada turno. um dos jogadores faz o papel de Sheriff de Nottingham fiscalizando – ou não, dependendo da credibilidade do comerciante – a mercadoria dos vários jogadores. Mas como é que tal coisa se faz?
Os jogadores começam por escolher uma das 5 personagens de jogo existentes, sendo cada uma destas meramente figurativas. Podem então escolher entre: a Senhora jeitosa com ar desconfiado, o Cozinheiro simpático e sonolento, o Loiraço convencido e rebelde, o Senhor Empreiteiro com problemas de bebida ou por fim, o Senhor presunçoso com ar duvidoso, deixando eu ao vosso critério a descoberta de tais descrições subjetivas. São depois fornecidas as moedas aos vários jogadores, que irão possibilitar cada comerciante subornar o sheriff ou pagar as suas multas. No caso de quem fica como Sheriff, este poderá ter de dar dinheiro a um comerciante caso fiscalize este e não tenha motivos para o fazer (tal como será explicado à frente), por isso em ambos os casos o dinheiro torna-se fundamental. Cada comerciante terá ainda 6 cartas na sua mão com produtos que podem ser contrabando (cartas vermelhas) ou produtos “normais” (cartas verdes).
Em cada turno o modo de ação é simples, existindo sempre 4 fases que irei aqui sinteticamente referir:
- a Fase de Mercado, na qual os jogadores vêem a sua mão e descartam as cartas que assim acharem ser pertinentes, indo buscar novas, de modo a que fiquem sempre com 6 cartas.
- a Fase de colocação dos produtos no saco, na qual cada comerciante colocará os produtos que deseja levar à cidade no saco da cor correspondente à sua personagem, sem ninguém ver que cartas é que são, e não devendo este colocar mais do que 5 cartas. Além disso a quantidade de cartas que o jogador coloca no saco terá de ser, na sua totalidade, correspondente ao mesmo tipo de produto (por exemplo, não pode ser 2 produtos, uma maçã e um pão. Apenas poderá ser, neste caso, 2 pães ou 2 galinhas).
- a Fase de Declaração, na qual os comerciantes devem dizer – olhando nos olhos do Sheriff – qual é a quantidade e tipo de produto que se encontra dentro do seu saco, podendo o comerciante mentir quanto ao que se encontra neste e quanto à quantidade, arriscando assim os seus produtos e dinheiro. Neste momento o Sheriff não poderá olhar o conteúdo do saco, tendo que estar apenas atento às reacções do comerciante e a tentar perceber se este se encontra a mentir ou a dizer a verdade. Nesta fase os comerciantes podem também dar dinheiro ao Sheriff de modo a suborná-lo a não abrir o seu saco na fase seguinte e deixarem passar os produtos para a cidade.
- a Fase de Inspeção é a ultima fase do turno, na qual o Sheriff decide se quer abrir algum dos sacos dos comerciantes para fiscalizar os seus produtos. Porém esta escolha pode ter consequências graves! Se o Sheriff deixar o comerciante passar sem ver o saco, o comerciante tem depois de tirar as cartas que tinha no saco, mostrando aquelas que não eram contrabando e colocando-as para a sua pontuação. Caso este tivesse contrabando, essas cartas teriam também de ser tiradas do saco e colocadas à parte escondidas para somar à pontuação no fim. Já no caso do Sheriff querer fiscalizar o saco de um comerciante, várias coisas poderão ocorrer: se o comerciante falou a verdade o Sheriff terá de lhe dar o valor em dinheiro, igual ao valor que está nas cartas que estavam no saco; já se o comerciante mentiu sobre alguns produtos, embora todos fossem”normais”, todos aqueles que ele disse de modo verdadeiro podem ir para a pontuação do jogador mas os outros serão confiscados (por ex. o jogador diz “4 pães” e ao ser fiscalizado existiam dois pães e duas maçãs. Neste caso o jogador ficaria com dois pães para pontuação mas as duas maçãs eram confiscadas); por último, se o comerciante mentiu tendo contrabando nos seus produtos, este terá de pagar ao sheriff o valor correspondente ao das cartas de contrabando que colocou.
No final do jogo – o qual finaliza após cada jogador já ter sido duas a três vezes sheriff (dependendo do número de jogadores) – cada comerciante soma os seus pontos correspondentes ao número de produtos “normais” e de contrabando trazidos para a cidade, o dinheiro acumulado e ainda os pontos de bónus (por exemplo: quem apanhou mais pães ganha mais 15 pontos).
Como vêem não poderia ser mais simples! Este é um jogo que considero trazer grandes benefícios a nível de contacto social – como praticamente todos os jogos de tabuleiro – fazendo-nos realmente estarmos atentos aos outros jogadores e a investirmos no contacto com o outro. Além disso leva-nos também a compreendermos quais as técnicas e estratégias que os outros jogadores utilizam para conseguir fazer o chamado “bluff” e apercebermos quais são os nossos amigos que mentem melhor (pensando bem esta parte poderá ser amarga! por isso cuidado, é apenas um jogo!). A comunicação e escuta ativa, a lógica, o poder de decisão e a necessidade de assumir riscos são capacidades fundamentais para se ser um bom jogador de Sheriff of Nottingham.
Além disso, algo que aprendi neste jogo é que existem dois tipos de pessoas a jogá-lo… os “bonzinhos” que juntam pontos com produtos “normais” e por outro lado aqueles cujo objectivo é conseguirem enganar o máximo de sheriffs possíveis, levando sempre contrabando ou assumindo a mentira como lei. E tu? Que tipo de jogador serás? Será que tens o que é necessário para seres um excelente comerciante?
Para veres mais sobre o jogo, vê o seguinte programa TableTop: