A importância do role-play é inquestionável, e embora seja um factor importante para que não seja só uma mera sessão, há um outro que deve sempre fazer parte da equação. Refiro-me, pois claro, à história.
O impacto e a dimensão da história está inteiramente dependente do tipo de jogo que se está a ter. Um one-shot não necessitará talvez de um fortemente detalhado suporte narrativo, e uma campanha não irá ganhar forma sustentando-se de simples e lineares enredos. Estes e outros pormenores devem sempre ser tidos em consideração, e por vezes não é fácil.
Vamos falar primeiro na criação individual, ou seja, na criação de uma única personagem, e depois alargaremos para os eventos que podem muito bem decorrer no nosso mundo. Muitos jogadores, principalmente os que se encontram a explorar pela primeira vez as infinitas possibilidades associadas a Dungeons & Dragons, sentem-se de tal maneira perdidos com tudo o que podem fazer que não sabem por onde começar quando chega a altura de escrever a história de origem (backstory) da sua personagem. Alguns deles optam por buscar inspiração em filmes, livros, séries e videojogos seus conhecidos e vão conciliando estas ideias com o que têm em mente, construindo a partir daí. Durante este processo de criação, é preciso ter dois aspectos em conta, a personalidade da mesma, e o que a levou a desenvolvê-la nesse sentido. Uma coisa não existe sem a outra e, como tal, têm que estar ligadas. Por exemplo, imaginemos que estamos a criar uma personagem que prefere sempre trabalhar sozinha, dispensa qualquer forma de companhia e tem uma grande dificuldade em confiar em terceiros. Pegando nestes traços, cabe-nos agora justificá-los através da sua história de origem. Nesse sentido, podemos dizer que se trata de uma personagem com bastante dificuldade em confiar nos outros porque foi traída por um aliado há muito tempo atrás e isso quase que a matou. Por força disso, agora acarreta essa ideia assente de que se aconteceu uma vez então nada impede que se volte a repetir.
Ainda dentro da história de origem, não deve haver receios em acrescentar a maior quantidade de detalhe possível. Sim, está claro que escrever dez páginas sobre uma personagem pode parecer (e de certa forma é) muito, mas mesmo que seja só uma página, se for repleta de conteúdo, o Dungeon Master terá muito por onde pegar e é uma excelente forma de ambos os vossos mundos se juntarem, e é isto que me leva ao próximo ponto.
Quando chega a altura de criar aventuras para os jogadores, podemos muito bem buscar ideias aqui e ali, mas se por azar os presenteamos com algo que eles não acham apelativo e que acabam por seguir só porque sim, tornamo-nos vítimas da monotonia e do desinteresse. Uma boa forma de prevenir isto é ter em conta as histórias de origem que cada jogador nos presenteou e aproveitá-las ao máximo. Peguemos na personagem que referimos há bocado e no momento que a marcou profundamente. O tal aliado podia muito bem ser um amigo de longa data que se deixou levar em cantigas de poder e glória, orquestrando o evento já falado. Isto não precisa de ser só uma memória do passado. Muito provavelmente, essa personagem continua viva, e nada a impede de reaparecer, seja por mero acaso, porque insiste em fazê-lo (um vilão recorrente ajuda a manter as coisas interessantes) ou porque a personagem que nós criámos anda atrás dela com sede de vingança. Não precisa de ser só no mundo real que o passado se presenteia diante de nós para nos assombrar, e, tal como no mundo real, está nas nossas mãos decidir como lidar com ele.
Não nos podemos esquecer que estas personagens, apesar de serem fruto da nossa imaginação, não têm que ser só isso. Para elas o mundo onde vivem é mais que real e cabe-nos a nós certificarmo-nos de que assim é. Elas têm família, amigos, aspirações e um passado. Cada um destes elementos deve ser explorado ao máximo para que os jogadores possam encontrar sempre algo novo ao virar da esquina. Só precisam de saber onde procurar e, ocasionalmente, o que dizer. Quem sabe, uma simples e casual conversa com um comerciante pode levar à caça de um artefacto lendário e com estranhas propriedades deixado algures na Underdark. Só há uma forma de descobrir.