Dragões sempre foram criaturas magníficas, criaturas estas descritas nos mais variados tipos de contos, onde ora são meras bestas colossais, ou entidades com uma personalidade forte e de ambições assentes. Posto isto, e passando drasticamente para o assunto desta conversa, sempre me incomodou um bocado que um jogo que é literalmente traduzido como Era de Dragões tenha tão poucos.
Dragon Age é para mim um título de renome e merecedor de atenção, principalmente aquele que começou tudo Dragon Age: Origins. Há muito para dizer sobre este jogo, principalmente quando o experienciei através de seis personagens diferentes e o esmiucei até conseguir o troféu de platina (alguns dos requisitos desnecessários ainda me deixam um bocado desconfortável). O nome Origins aqui não é usado em vão, pois para além dos aspectos normais de um qualquer menu de criação de personagem (sexo, classe, etc), temos também que escolher a origem da mesma, o que logo garante um começo distinto em cada playthrough. Assim que completamos o capítulo da nossa origem, somos informados de que o mundo está perante um novo Blight, um fenómeno associado à ascenção até à superfície de darkspawn e da sua conversão de um Old God num Archdemon, e só há um grupo de guerreiros capazes de lidar com esta ameaça, os Grey Wardens. Felizmente para nós, eles estão a recrutar. E é aqui que começa a nossa verdadeira aventura, a ponta de um iceberg composto por intrigas políticas, traição, corrupção por forças demoníacas, e tudo isto na companhia de um grupo de personagens memoráveis que tratam de garantir que não há horas mortas pelo caminho (Morrigan FTW!!!). Há muito para fazer neste jogo, desde explorar as várias regiões onde as nossas aventuras nos levam, a lidar com as side quests que não ficam nada atrás do nosso propósito original. Estão aqui várias dezenas de horas de jogo, mas os momentos épicos com que nos deparamos, o fortalecimento dos laços com os nossos companheiros de viagem, e o clímax da junção de todas as decisões que temos vindo a tomar e que ajudaram a mudar o mundo à nossa volta, faz com que não só tenha valido a pena como a vontade de regressar a Thedas não tarde a surgir.
Já no que toca a Dragon Age 2, as coisas mudam um bocado. A história não é má mas logo aí nota-se uma grande diferença em relação ao título anterior. A nossa origem é sempre praticamente a mesma, verificando-se algumas mudanças consoante a classe que se escolhe. Fora isto, começamos o jogo a fugir ao Blight que se manifestou no Dragon Age original, e damos por nós, juntamente com a nossa família, a ser refugiados na cidade de Kirkwall, um título que procuraremos substituir por um com uma melhor sonoridade. Claro está que a narrativa é mais que isto, e como disse acima, não é má de todo, muito pelo contrário, mas podia ser muito melhor (as reviravoltas e o clímax são os seus pontos mais fortes). Há muita gente que implica com o facto de estarmos constantemente a revisitar as mesmas zonas, mas aqui até dou o braço a torcer visto que nunca saímos de Kirkwall. O que mais me incomoda é o facto de o enredo ser um bom praticante da ilusão de escolha, visto que algumas das nossas decisões acabam por ter pouco ou nenhum impacto e certos acontecimentos estão destinados a ter lugar mesmo que tenhamos feito tudo para os impedir. Para além disto, o grupo de personagens que nos fazem companhia não chega aos calcanhares do original, à excepção de Varric Tethras e da sua amiga Bianca. Gostaria de dizer que dei tanta atenção a este jogo como ao anterior, mas só recentemente é que comecei o meu segundo playthrough que começou por uma questão de curiosidade… e de caçar troféus.
Passando agora para o título que ainda há pouco tempo concluí, posso desde já apontar que há muita coisa a dizer sobre Dragon Age: Inquisition, muita coisa boa, e muita coisa má. Uma vez mais, a intriga mantém-nos agarrados (ou pelo menos conseguiu fazê-lo comigo) e ver tudo a desenrolar e a encaixar-se após todo o nosso esforço (tal como no primeiro jogo) é mais que satisfatório. Basicamente, passaram dez anos desde que os eventos dos títulos anteriores tomaram lugar, e uma nova ameaça surge na forma de um Breach, que pode muito bem ser visto como um enorme portal entre nosso plano de existência e o Fade, plano que não é mais que o lar de todo o tipo de demónios. Posto isto, o portal tem que ser destruído e só nós (amnésicos após um certo incidente) é que o podemos fazer. Felizmente a história vai muito para além disto e voltamos ao domínio que o primeiro jogo mostrou considerável proficiência. Uma vez mais, há muito para fazer e as áreas que temos diante de nós para explorar são várias, vastas e repletas de side quests interessantes e de colecionáveis com considerável propósito. As nossas decisões voltam novamente a ter o valor merecido, temos agora liberdade sobre a criação e personalização do nosso equipamento, temos acesso a uma sala de guerra através da qual gerimos as nossas operações (algo que gosto sempre de ver a ser explorado), os nossos horizontes são expandidos com a possibilidade de ir para além de Ferelden e o nosso novo grupo de companheiros de viagem é sem dúvida um dos melhores até agora. Procurando manter este tópico, uma outra coisa que este jogo faz e bem é certificar-se de que o que se passou nos jogos anteriores não só aconteceu como é visível. Iremos reencontrar-nos e partilhar novas aventuras com personagens já nossas conhecidas. Vale não só pela nostalgia (se for esse o caso) como também pela exposição ao que mudou nas suas vidas desde então. Estão a ver aquele reencontro com Garrus Vakarian no Mass Effect 2? Pronto, é parecido. Contudo, nem tudo é um mar de rosas. Por muito bom que o jogo seja, dei por mim a ser assolado por vários problemas técnicos desde bugs a uma série de crashes, algo que não é nada bom ter principalmente enquanto o jogo grava, o que me chegou a provocar alguns sustos e a esperar o pior. Os combates com dragões conseguem ser brutais, sim, mas o meu primeiro confronto com um foi marcado por um bug que deixou o dragão congelado mexendo-se somente para olhar para mim com um estranho sorriso enquanto o ia esventrando. Não tem propriamente muita piada. Felizmente estes problemas só se manifestaram durante as primeiras horas de jogo, mas de qualquer das formas, não deixaram uma boa impressão. Em suma, é um projecto bem conseguido que não só superou as falhas presentes no seu antecessor como foi um passo certo na direcção daquele que o originou.
Face a esta exposição, recomendaria eu esta trilogia? Certamente. Mas, mais uma vez, está nas vossas mãos decidir se Thedas tem aquilo que procuram.