Não, isto não é uma auto-proclamação hierárquica ou uma tentativa de imposição pública com tácticas a la Trump, também conhecida pela técnica do “menino mimado”. Até porque sendo honesto, provavelmente a Galinha mais forte do Galinheiro é ou o Bernardo que esconde um hooligan debaixo daquele sorriso pacífico, a Alexa que todos adoramos mas secretamente tememos que um dia nos alheire* a todos num alheiring spree de toda a redacção, ou mesmo o Matthieu, que aprendeu durante a adolescência nas ruas de Paris a matar uma pessoa de 50 maneiras diferentes, sendo que duas delas incluem usar as mãos e uma envolve o jogo do Home Alone para PS2.

Na realidade a Galinha mais forte do Galinheiro nem é uma daquelas corajosas criadas pela Aardman no genial Chicken’s Run, mas sim Hardboiled Chicken, o portentoso galináceo protagonista de Rocketbirds, cuja sequela chegou há dias ao Steam.

Rocketbirds 2: Evolution é Return to Castle Wolfenstein se o mundo “real” fosse antropomórfico (como em Maus de Art Spiegelman) e o super-soldado americano fosse uma galinha e as forças do Reich fossem compostas por pinguins e pombos (num volte-face em relação ao filme Valiant) e o Hitler fosse uma ave chamada Putzki. O castelo é mais ou menos o mesmo, mas mais cheio de penas e fezes de galinha e pombo. 

Voltamos à pele (e penas) de Hardboiled Chicken, a galinha dura de roer que sozinha consegue despachar todos os membros do pombal fascistas quase com uma asa às costas, num divertido run ‘n gun bidimensional. Repleto de humor cheesy (como seria de esperar) que embate sem riso mas com a força dum tiro certeiro que decepa o pombo mais incauto, em que a quantidade de testosterona galinácea exalada por todo o jogo vem trazer para o mundo aviário o que de melhor as estrelas de acção nos deram nos 1980s.

Há uma mistura de géneros que encaixa bem no bizarro setting de Rockebirds 2: Evolution. Para além de toda a carga de twin stick shooter (em que muitas vezes o analógico direito parece pouco estável para conseguirmos manter uma rajada de tiros certeira), a distribuição dos seis mapas que o compõem chegam-nos ao estilo de Metroid. Com alguns puzzles para resolver com a utilização do telemóvel, em que nos fazemos passar pelo ditador e obrigamos (controlamos) os soldados-rasos a abrirem-nos portas, destrancarem-nos elevadores, entre uma série de tarefas que causam uma quebra no ritmo relativamente repetitivo de twin stick shooter bidimensional.

Para além deste modo Single Player, Rocketbirds 2: Evolution traz-nos a possibilidade de unir as cristas avermelhadas com mais 3 jogadores para levarmos a cabo missões de Resgate.

Rocketbirds 2: Evolution é divertido mas torna-se lentamente frustrante, onde a pouca afinação dos seus controlos tornam-no desnecessariamente difícil. É uma pena percebermos que o Contra, há 30 anos, já resolvia todos os problemas de controlos de forma mais fluída, mais eficaz e mais aprimorada. Tanto esforço perdido para fazer rir de forma falhada, que algum tempo deveria ter sido dedicado a aprimorar aquilo que poderia fazer de Rocketbirds 2 um grande jogo no seu género. E aí o estúdio Ratloop Asia falhou como uma galinha poedeira que não põe ovos há 1 semana.

* o novo significado para o neologismo alheirar criado por mim refere-se ao acto de fustigar alguém até à morte com alheiras de Mirandela e depois inserir a própria da pessoa fustigada dentro da alheira.