Falar em Battletoads é para muitos apenas uma referência no fundo da cabeça apanhada num ou outro recanto da internet, quase sempre associado ao nível extremo de dificuldade do jogo, que encabeça muitas listas como o jogo mais difícil da sua geração.

Para mim Battletoads era um dos muitos pontos de genialidade dos maravilhosos cartuchos de plástico de variadas cores que fizeram parte da minha História pessoal inicial enquanto jogador. E em retrospectiva a total incompreensão com a minha perícia e empenho à época, que terminei o famigerado e adorado jogo sem recurso a truques ou a modernismos de state states dos emuladores.

Nesta que parece ser a semana dedicada a Double Dragon e na qual já escrevi 2 artigos dedicados, uma das grandes franquias que demarcou o mercado, e a mim pessoalmente, o Rapaz-Ventoinha debruça-se sobre um dos títulos desconhecidos por todos e que é possivelmente o apogeu do género dos side scrolling beat’em ups na NES.

Contam-se pelos dedos de uma mão os crossovers em videojogos que resultaram em óptimos jogos e contam-se pelos dedos de uma rã antropomórfica aqueles que sobreviveram ao teste do tempo. A união perfeita entre Battletoads da Rare e Double Dragon da Technos Japan é aquilo que em inglês facilmente se poderia apelidar de a match made in heaven.

A primeira grande dificuldade de desenvolver este crossover passaria pelo tom a usar. Apesar de mecanicamente ambas as franquias casarem bem, o tom sério/apático/filme de kung fu de Double Dragon colide com a abordagem exagerada e humorística de Battletoads. A solução passou não por encontrar um equilíbrio ou um ponto médio entre os dois, mas, visto que o desenvolvimento do jogo passou pela Rare, fazer deste um quase jogo de Battletoads em que Billy e Jimmy Lee aparecem como convidados. Isso percebe-se até no level design e nas opções de controlo: desenganemo-nos de imaginar que este não é na essência mais um produto das rãs mutantes mais famosas da história dos videojogos. E olhando para o resultado final rapidamente percebemos: ainda bem que a tónica pendeu para Battletoads, visto que foi mais fácil adaptar a rigidez dos dois gémeos do Kung Fu a isto do que seria o inverso.

Battletoads & Double Dragon não é um exclusivo da Nintendo, nem tampouco é um exclusivo dos 8 bits, mas foi a NES o seu berço original e o local onde o jogo se popularizou. Sendo verdade que o jogo não é o mais desafiante a sair na geração de 8 bits (relembramos que o Battletoads ainda possui essa proeza para muitos), a perícia necessária para o terminar não era de todo brincadeira.

As secções de combate e as secções de plataformas eram difíceis, mas não se comparavam aos infames níveis com motas voadoras que causaram maior desespero do que toda a série Souls junta (dizem as estatísticas altamente enviesadas efectuadas por mim).

Há meses voltei a jogar este cartucho e é fácil perceber que os jogos realmente bons sobrevivem ao penoso teste do tempo. Ainda hoje Battletoads & Double Dragon é um excelente e desafiante beat’em up, onde o humor tão perfeitamente mesclado com o level e game design tornavam cada nível fresco, tendo sempre uma boss fight como cereja mutante no topo do bolo, ora trazendo o elenco de Battletoads ora o de Double Dragon para a refrega.

Só nos 1990s é que um jogo sairia tendo como protagonistas três rãs antropomórficas com nomes tão deliciosamente nojentos quanto Zitz, Pimple e Rash. Volvidos mais de 25 anos desde a sua criação, este Rapaz-Ventoinha só me deixa na expectativa de perceber o que a Rare conseguiria fazer nos dias de hoje com as figuras tremendamente espectaculares que eram os Battletoads. Juntem-lhes os Double Dragon também, só mesmo para apimentar a coisa.

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