Começo com uma pergunta retórica para todos os pais e mães que nos lêem: todos nós sentimos que ganhamos capacidades sobre-humanas em alturas ou fracções de segundo em que precisamos de proteger os nossos filhos? Agora vamos apresentar-vos a Dad Quest, um jogo que pega em todos os nossos temores de vermos os nossos filhos magoarem-se com uma simples queda, embrulha-os em papel metalizado, junta-lhe resina e vidros e atira-nos à cabeça. Em Dad Quest os filhos não são indefesos alvos da nossa protecção, mas sim literais armas de arremesso.

Depois de ver o trailer de Kickstarter de Dad Quest, um calafrio percorreu-me o corpo, ligado à memória da única e singela vez que o meu filho caiu por minha culpa. Ele não devia ter mais de 3 semanas, e ao levantar-me para ir buscar uma fralda, ele imediatamente rebolou para o chão a partir do sofá onde o pousei, uns meros dois segundos antes. A preocupação de perceber se um bebé tão pequeno se magoou seriamente é desesperante, mas rapidamente percebi que este desespero é típico de pais perante os seus primeiros filhos, e apesar da fragilidade próprio de um bebé percebi que felizmente não era nada.

Mas Dad Quest inverte esta fragilidade e atribui o poder sobre-humano da indestrutibilidade a uma criança, alegando (e aí com alguma razão) que elas conseguem destruir praticamente tudo (que o digam os meus velhinhos óculos de correcção que sobreviveram a 16 anos de uso mas que pereceram a apenas uma mão minúscula do meu filho quando tinha apenas 3 meses).

Em Dad Quest não temos espadas, nem pistolas com raios laser, temos apenas a nossa criança que é usada como bastão, como bumerangue, ganhando uma série de poderes especiais à medida que vai fazendo level up. Sim, pais que me lêem, esta ideia é arrepiante.

É tudo tão erradamente surreal, hilariante, over-the-top em Dad Quest que rapidamente esquecemos o próprio conceito de estarmos a usar o filho como arma. Aliás, o conceito do próprio jogo é esta jornada entre Pai (que pode ser uma Pai-Mãe) e Filho na tentativa de elevar ao máximo de potencial a arma que a criança está destinada a tornar-se. Médico? Engenheiro? Youtuber? Não. Esta criança é uma arma de destruição maciça e está a ser “educada” (ou projectada, literalmente) como tal.

Pelo caminho temos outros Pais para derrotar que nos garantirão poderes adicionais, assim como brinquedos que garantirão poderes ao filho e poderão alterar-lhe até o aspecto. Para o Pai há relíquias que lhe servirão de buffs, num curioso cruzamento entre action platformer e RPG.

Se parentalmente Dad Quest é errado? É. Os próprios developers do estúdio Sundae Month avisam que é uma obra de ficção e que não defendem que uma criança seja usado como arma de forma literal ou figurativa (não vá o Diabo tecê-los e algum jogador estadunidense levar o jogo demasiado à letra). Mas é tão loucamente divertido e coeso, que este primeiro nível já disponível para imprensa (e para o restante público em Early Access a partir de dia 23 deste mês) deixa antever um grande e twist aos jogos do género.