Todos temos aquelas alturas em que a solidão é a melhor das companhias. Seja para desfrutar de um jogo, de um filme, de uma série, para pôr a leitura em dia ou simplesmente para organizar as ideias. Principalmente em dias rotineiros de casa-escola, escola-casa ou casa-trabalho, trabalho-casa, um momento longe de tudo e de todos pode muito bem ser ouro sobre azul.
Mas sabemos que mais cedo ou mais tarde vamos voltar lá para fora, para o mundo real, para as tarefas que temos vindo rotineiramente a desempenhar num ciclo vicioso cuja principal ambição é privar-nos de qualquer forma de felicidade e criatividade… mas não precisa de ser assim, pois não?
Sim, ok, sou o primeiro a admitir que este quadro assim pintado é um bocado exagerado, mas não deixa de fazer algum sentido. Podemos dizer, até um certo ponto, que algumas experiências profissionais e algumas formas de ensino acabam directa ou indirectamente por redirecionar a nossa atenção para um ou vários aspectos, ao custo total ou parcial da nossa criatividade e/ou imaginação. Pessoalmente acabei por me cruzar com casos semelhantes recentemente, e como alguém que não só se mostra um praticante entusiástico dos elementos listados no primeiro parágrafo mas também é o Dungeon Master de algumas sessões de Dungeons & Dragons, fiquei preocupado. Fiquei a pensar em tamanhas implicações e nos efeitos que daí adviriam, dos quais resultou a imagem de um morto-vivo modernizado. Possíveis soluções rapidamente surgiram. É claro que há videojogos que permitem aquela experiência old school de partilhar o sofá com amigos e familiares com vários tipos de split screen, é claro que podemos convidar esses mesmos amigos e familiares para ver um filme e uma série e ter uma agradável discussão no fim sobre o que se passou, mas porque não ir mais além? Ir ao fundo da questão e alargar o leque de possibilidades? Porque não visitar algo onde a imaginação e a criatividade têm os seus potenciais infinitos devidamente testados? É aqui que Dungeons & Dragons entra novamente na equação.
Já todos nós sabemos o que Dungeons & Dragons é e o que implica. Um grupo que em conjunto vive e explora uma aventura através da sua imaginação colectiva. Por outras palavras, a chave para um infinito número de realidades dentro de uma que é tida como tal. Todos nós precisamos de um escape mais cedo ou mais tarde, uma fuga de uma realidade estrita em troca de uma onde o céu é o limite e onde os nossos planos criativos são inquestionavelmente livres. Para além do mais, permite-nos partilhar essa mesma experiência com outros, tornando tudo ainda mais memorável.
Não precisamos de aceitar a frieza da realidade nem de nos refugiarmos nos confins das nossas mentes. Um bom equilíbrio entre ambas as variáveis é sem dúvida uma excelente opção. Desempenhar a nossa função sem nunca esquecer quem somos nem do que somos capazes. Olha para o teu colega lá na escola ou trabalho. Se calhar nos tempos livres dele ele é um alquimista que está morto por se reunir com o seu novo grupo para poder preparar um novo elixir. Se calhar a tua colega do lado tem estado à caça de um assassino em série e está ansiosa por finalmente o poder trazer à justiça. Mesmo que não sejam nada disso, podes muito bem simplesmente fazer-lhes o convite e ver tudo a fluir naturalmente. Lembra-te de que a mesa deve estar sempre aberta e que quantos mais melhor.
Dizem que jogamos porque não temos uma vida. Eu digo que o fazemos não porque escolhemos viver muitas, mas sim porque escolhemos viver todas elas. Estarei errado?